por Carlos Alberto Barros
De todos os chefes que eu já tive, o Dr. Rael era o que mais me intrigava: apesar de me comer com os olhos, nunca, nunca disse uma única palavra sequer que insinuasse seus desejos.
Ele admirava meu decote de um jeito todo seu, numa mistura de mistério e fanatismo, com certo ar de pedinte, de fiel em êxtase pela revelação divina.
Acostumada com patrões que se utilizam de suas secretárias para tudo, tudo mesmo (se é que você me entende), eu estranhava que ele nunca houvesse tentado nem um assediozinho, uma piada sacana que fosse.
É bom deixar claro que nunca me incomodei com essas manias dos superiores. Bem da verdade é que sempre gostei. Sem contar as vantagens: sexo durante o trabalho, regalias nas tarefas diárias, durabilidade no emprego, presentinhos, promoções... Mas, com o Dr. Rael era diferente. Ele não se deixava levar pela tentação e, apesar dos olhares, mantinha seu instinto enjaulado.
Não sei se por conta disso ou qualquer outra coisa, mas o fato é que o Dr. Rael parecia descontar tudo reclamando do meu serviço. Se eu era uma má secretária, por que não me mandava embora? Eu não conseguia entender.
Certa vez, depois de mais um dia inteiro ouvindo suas reclamações, explodi:
– Porra, doutor! Por que você não me come logo ao invés de ficar aí resmungando o dia todo? – e exibi meus peitos. – Não é isso que seus olhos tanto procuram?! Não vá me dizer que não, seu velho tarado!
Bem... ele me comeu e, no dia seguinte, eu estava no olho da rua. Fiquei indignada!
Vai entender cabeça de chefe...
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Vai entender cabeça de chefe
por Carlos Éldani Davissara
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