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sábado, 20 de dezembro de 2008

Gênesis

Começou com um.
Ele subiu pelo acostamento, tropeçando nas pedras, o que sobrara de sua mente tentando entender o mundo visível. As feridas abertas em seu corpo haviam parado de sangrar, e verrugas purulentas apareciam por seu rosto, peito e braços. Ele fitou a estrada, se estendendo em direção ao oeste. Seu sangue estava estagnado em suas veias, e seus pulmões, vazios e murchos como bolas de encher sopradas e depois esvaziadas.
Ficou parado à beira da estrada por horas, imóvel. Um cachorro se aproximou dele, deu uma cheirada em sua perna, urinou no chão e fugiu.
Quando ele começou a ficar com fome, tomou a direção da cidade. Seus passos eram lentos e arrastados. O pus escorria por sua face, mas ele não tomava conhecimento disso. Nem dos insetos que pousavam em seu rosto, e em seu peito nu, e que depois voariam e pousariam em outras pessoas.
Morte expressa. Terror a domicílio.
A mulher o avista chegando, e suspira aliviada.
Ela estava viajando para Ouro Verde, que ficava no fim dessa estrada, na direção oposta à caminhada do estranho. Uma cidadezinha construída na base de uma colina. Menos de quinhentos habitantes.
O cu do mundo. Mas era o destino dela, e seu pneu furara.
“Por favor, senhor, você poderia me dar uma ajudinha aqui?”
O som da voz da mulher causou um efeito singular na mente do estranho. Algum tipo de instinto escondido em seu cérebro morto e primitivo.
“Senhor? O senhor está bem?”
Até então, a mulher não tinha visto o rosto do estranho. Quando o viu, começou a gritar.
A cabeça dele estava completamente coberta por moscas. Seus olhos quase não apareciam por entre o negrume dos insetos. Seu peito também estava cheio de moscas, porém não tanto quanto seu rosto. As moscas que voavam para longe pareciam pesadas, diferentes, e eram logo substituídas por novas que chegavam. Havia um rastro de pus no chão atrás dele.
A luta foi breve, e a mulher perdeu.
Antes que ela se libertasse do choque que a manteve presa onde estava, o estranho golpeou o lado de sua cabeça, jogando-a no chão. Ela caiu chorando, o golpe tão forte a ponto de fissurar seu malar.
O instinto recém descoberto pelo estranho lhe guiou pelo resto de seu dever. Ele rasgou suas calças, e arrancou as calças da mulher. Seu membro estava inchado, e coberto pelas mesmas verrugas de seu rosto. Vazava pus pela uretra.
Num movimento só, o estranho enfiou a abominação que um dia pode ter sido um pênis na mulher. Ela gritou no início, mas a visão da face do Senhor das Moscas levou embora sua sanidade depois de alguns minutos, e ela só conseguiu alternar entre riso e choro.
Não foi agradável para o estranho também. A cada estocada, verrugas em seu membro estouravam, causando uma dor terrível.
Demorou mais do que ambos gostariam, e o pênis do estranho explodiu ao orgasmo.
Ambos caíram de costas no chão, o grito do estranho mais alto que o da mulher.
A fome não havia sido esquecida, e ele abriu a garganta da mulher, arranhando e mordendo, mastigando sua pele. Quando caiu no chão, saciado, o rosto da mulher havia se tornado vermelho com seu próprio sangue.
Horas passaram, mas a cena manteve-se a mesma: O estranho e a mulher, deitados lado a lado na beira da estrada.
A mudança veio com o movimento na barriga da mulher, e com a criatura que mordeu seu caminho para fora dele.
Ela estava faminta. Mas tinha dois pratos de comida caídos bem à sua disposição.

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1 comentários:

É impressionante a sua facilidade para descrever com tanta crueza e impacto os piores pesadelos.
Sou fã do gênero. Cada dia voce está melhor. Parabéns pela maturidade.

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