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segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Manhã

Primeiro houve o grito.
Depois, por sua ausência,
Fez-se no contraste silêncio.

Um pouco da alma esvazia.
Emudecido e feito calo
Amor não dói cicatrizado.

Cacos de conchas na aurora da praia
São pedaços de impossível retorno.

Maré alta e luar se enamoram.
Em sua noite de amor, a água agitada

Espalha na areia vestígios
Do que de gozo se fez tormenta.

E quando o sol desponta vermelho
Encontra na melancolia da aurora

Nada mais que um pouco de calma,
A espuma ordenada,
A brisa senrena.

Águas que agora em espelho
Refletem o azul da manhã
Silenciosa e plena.





sábado, 19 de janeiro de 2008

Minha vida com Stella

Minha vida com Stella


Ainda não sei se sou louco ou apenas idiota, mas isso não importa. O que importa é que essa história não é sobre loucura ou idiotice, ou mais nada desse tipo.
Essa história é sobre Stella.
Preciso começar dizendo que não acreditava no sobrenatural. Eu era um cético, e adorava isso. Porém, os últimos quinze anos da minha me dizem que deve existir alguma coisa que não compreendemos, por que senão tenho que me inclinar à hipótese de minha própria loucura. Eu sei que dizem que aqueles que são realmente loucos nunca se reconhecem como tal, mas não tenho como saber se isso é provado, ou se é apenas aceito por todos. O que, ironicamente, nega um pouco a tese que apresento neste parágrafo, sobre minha queda do ceticismo.
No dia em que a conheci, meu estado de espírito era o pior possível. Eu tinha vinte anos e estava saindo de uma escola (não lembro bem qual) na qual tinha feito uma prova para um cargo público (nem isso consigo lembrar direito). Tinha acabado de ter me ferrado na prova, que já fiz de mau humor pelo fato de minha namorada, cujo nome também não lembro, ter terminado comigo na noite anterior, e fui um dos primeiros a sair do prédio. Passei resmungando por alguns carros estacionados mais próximos do local, e fui em direção ao meu, um Maverick, hoje nada mais do que um pedaço de sucata. Foi no carro ao lado do meu que ela estava apoiada, olhando na direção do caminho do qual eu vinha. E quando eu olhei para ela, algo dentro de mim mudou.
Eu acho que esse seria o momento no qual eu descreveria para você, que está lendo isso, a beleza inigualável dela, a qualidade angelical de sua voz, a cândida suavidade de sua alva tez, certo?
Nada disso.
Stella era bem mais baixa do que eu (ele tinha 1,60, eu 1,90), sua pele era morena, e ela tinha várias cicatrizes no braço, além de algumas espinhas no rosto. Seus cabelos eram castanhos, e alisados artificialmente. Não sei porque eu percebi isso na hora, só sei que percebi. Seus olhos eram negros, e devo lhes dizer que foram eles que me fizeram parar no ato de abrir a porta do carro.
Meu Deus, aqueles olhos! Eles eram as únicas partes incríveis em um corpo que nada mais tinha de especial. Nada mais mesmo. Eu a vi de longe, e nem pensei duas vezes nela. Porém, ao ver seus olhos eu parei e a encarei, talvez por uns vinte segundos.
Ela percebeu meu olhar, e sorriu.
- Olá, tudo bem?
A voz dela vinha de algum lugar muito distante. Ela teve que repetir a pergunta mais duas vezes (ainda com o mesmo sorriso divertido no rosto) antes que eu desviasse meu olhar dos olhos dela.
- Ah, sim, desculpe, eu estava pensando em alguma coisa, perdão... – Eu me atrapalhava cada vez mais, mas depois de alguns segundos consegui me recompor e fui ter com ela.
Não lembro muito daquela nossa primeira conversa. Só lembro que nos apresentamos, e então ela me disse que estava esperando alguém que estava fazendo a prova. Lembro que conversamos por alguns minutos, até que, do nada, senti um súbito impulso de beijá-la. Logo me censurei por isso. Ela esperava alguém, mais do que provavelmente um namorado, e além do mais, seria irracional tentar roubar um beijo de uma garota que, francamente, não era nem assim tão bonita.
Ela resolveu o assunto por nós dois.
- Você quer ir fazer alguma coisa? Pegar um cinema, talvez?
Admito que aquilo fora estranho. Mais estranho ainda foi o fato de que meu sentimento predominante naquela hora não era de surpresa, e sim de felicidade.
Concordei na hora em ir ao cinema. Para falar a verdade, disse a ela que sabia de um filme muito bom que estava passando. O que eu não disse foi que eu já tinha visto o filme.
Ele era realmente muito bom.
Você, Suposto Leitor, deve estar estranhando a velocidade com a qual as coisas aconteceram. Eu não os culpo. Foi tudo realmente muito estranho, e muito rápido. Do momento em que eu a vi pela primeira vez até o convite dela para um cinema, deve ter passado uns cinco minutos.
Não tinha passado muito do filme que víamos quando ela começou a me agarrar. Devo dizer que não sou nenhum puritano, mas em condições normais eu classificaria aquela garota como uma vagabunda, me aproveitaria, e nunca mais procuraria vê-la, dadas as coisas que fizemos naquela sala. Porém, como eu já disse antes, Stella não era uma garota normal, e, portanto, saímos do meio do filme e fomos para sua casa, aonde fizemos amor, e dormimos.
Quando eu acordei, ela ainda dormia. Eram quase sete da noite. Resolvi olhar um pouco a casa, já que admito que quando entramos, eu não prestei muita atenção na decoração, se é que me entendem.
A casa era normal, pequena, bem condizente com uma pessoa solteira. O bizarro era o fato de não haverem fotos em lugar nenhum que eu tenha visto. Claro que eu não fucei no armário nem nas gavetas dela. Estou falando dos lugares visíveis a qualquer um que entrasse lá.
Acho que vocês já perceberam que eu não disse a idade de Stella. Isso é porque eu não sabia. Até hoje eu não sei, e por incrível que pareça, eu nunca pensei em lhe perguntar. Estou lhes dizendo isso agora para que vocês possam compilar uma lista mental de tudo de estranho sobre Stella. Não estou dizendo que pára por aí, só estou tentando fazer um resumo.
Depois que ela acordou, ela me perguntou o que eu achava da casa.
- Bonita. Só achei estranho não terem fotos em lugar nenhum.
Quando eu disse isso, notei que seu sorriso sumira pela primeira vez desde que nos conhecemos mais cedo.
- É que eu acabei de me mudar. Só isso. Ainda não desempacotei tudo.
Como eu disse antes, tinha que existir alguma coisa a mais agindo, pois isso que ela tinha dito era uma mentira tão deslavada, que chegava a ser ridículo. Não haviam fotos, porém haviam vários quadros pendurados, além de eu não ter visto nenhuma caixa, nem no quarto dela, nem na cozinha ou no banheiro, nem na dispensa.
Só que eu acreditei.
Acreditei, por que logo depois dela ter mentido bem na minha cara, seu sorriso voltara e seus olhos me hipnotizaram de novo. Não contestei o que ela havia dito, mesmo sabendo, no fundo de minha mente, que algo estava errado. Apenas a abracei, a beijei, e fizemos amor de novo. E, mesmo sendo mentira, aquela fora a última informação pessoal que ela me deu. E ficamos juntos por um ano e meio.
“Espera aí”, vocês devem estar pensando. “Como ele namorou uma mulher por um ano e meio sem saber mais nada sobre ela, fora o nome (e mesmo assim só o primeiro) e onde ela vivia?”.
Fácil. Resumo para vocês em duas palavras:
Olhos e sexo.
Estranho, não é? Eu praticamente morei na casa dela durante esse período, e mesmo assim não me causou nenhum sentimento de estranheza o fato de ela não ter pendurado as fotos, o fato de ela ter dinheiro mesmo sem nenhum emprego visível, o fato de ela não ter amigos. Tudo isso era realmente muito estranho, porém eram coisas que não me importavam. Nem um pouco.
Porque eu tinha os olhos e o sexo.
Eu praticamente passei aquele ano e meio hipnotizado. Não lembro de muita coisa desse tempo. Para vocês terem uma idéia, durante esse período meu pai morreu, e eu não consigo lembrar direito do que. Às vezes eu acho que foi de infarto, às vezes ele foi atropelado, ou talvez um derrame cerebral. Lendo agora minhas anotações, aqui ao meu lado, lembro que realmente foi um infarto. Por isso que eu pensei nisso primeiro.
Não posso reclamar muito do meu primeiro tempo com Stella, porque de uma coisa eu lembro muito bem: Eu fui feliz. Tá certo que todo dinheiro que eu ganhava (no final das contas, eu tinha ido bem na prova e consegui o emprego) eu revertia para a felicidade dela, mas aí é que tá: A felicidade dela me deixava feliz. Foi um tempo muito bom, menos a maneiro como a qual ele acabou.
Uma mostra de nossa burrice: Transávamos quase todos os dias, sem nenhum tipo de preservativo. E ainda ficamos surpresos quando ela engravidou.
Nossas reações foram tão diferentes, quanto trágicas:
Eu fique exultante. A idéia de ter um filho com aquela mulher que eu amava (e naquele ponto eu não só a amava – eu a idolatrava) era a melhor coisa que eu poderia pensar. Como meu emprego era bom (e estável), e ela tinha o dinheiro-misterioso dela, não teríamos problemas financeiros. Moraríamos na casa dela até arranjarmos um lugar maior (um projeto que eu já tinha desde algumas semanas antes de descobrirmos a gravidez), já começaríamos a economizar para o futuro do bebê (apesar de não sermos muito extravagantes, já que passávamos a maior parte do tempo na casa dela), ou seja, seríamos uma grande família feliz. Eu sempre sonhei em ser pai, já que sempre considerei o meu um exemplo de homem. Por isso que hoje fico tão triste em não lembrar da morte dele.
Agora, Stella odiou. Passou os dias após a notícia de cama, o que eu estranhei, já que nunca a vira doente. Ela impediu todas as minhas tentativas de chamar um médico, dizendo que não precisava, que logo estaria bem. Mas, durante esses dias, em seu sono, ela repetia que me acordava todas as noites: “Agora não”.
No sétimo dia depois da descoberta, eu cheguei em casa e vi o que foi, até algum tempo, a pior visão de minha vida:
Nossa cama estava vazia. Stella tinha sumido.
Mas isso não era o pior: Os lençóis estavam encharcados de sangue, que cobria quase toda a superfície da cama.
Podem achar que não foi uma coisa muito masculina de se fazer, mas vendo aquela cena, soltei um grito e desmaiei.
Acordei, lembrando de um pesadelo horrível, no qual minha cama estava coberta em sangue e minha Stella tinha sumido. Quando notei que eu estivera dormindo no chão, percebi que não havia sido pesadelo nenhum.
O que houve depois está um pouco nebuloso em minha mente. Lembro de ter chamado a polícia, e de ter chorado, e de ter contado como ela era maravilhosa, e de rezar (isso mesmo, um ateu rezando! A coisa mais engraçada que vocês já viram) para que ela estivesse bem, e de ter pedido, pelo amor de Deus, achem-na, tragam-na de volta para mim!
Lembro também dos legistas chegando à conclusão de que ninguém sobreviveria sem aquela quantidade de sangue, e que quem quer que tenha feito aquilo tinha jogado alvejante, cloro, e outros produtos por sobre o sangue para impedir a identificação por DNA. Ainda fui considerado suspeito, mas fui liberado por falta de provas e pela minha reação: Acharam que eu teria que ser um ator muito bom para fingir aquele tipo de tristeza.
E lhes digo: Eu caí em depressão. Continuei no emprego, mas fazendo menos, me importando menos. Só não fui demitido por causa da estabilidade em si do trabalho. Passei seis anos como um robô. Continuei morando na casa dela (que já tínhamos passado para o nome de nós dois), só que havia perdido completamente a vontade de viver.
Até o dia que o telefone tocou, e era ela.
Tenho que dizer que, como vários outros momentos de minha vida associados à Stella, deste eu não me lembro totalmente. Lembro de ter quase pulado do sofá ao ouvir a voz dela. Lembro de ouvi-la chorando, implorando que eu fosse ajudá-la, que ela estava com problemas. Assim como o olhar dela me enchia de alegria, o som do choro dela me enchia de ódio. Ódio por qualquer coisa maligna que a fizesse chorar daquela maneira.
Perguntei onde ela estava. Ela me deu um endereço. Ficava a dez minutos de distância de nossa casa. Disse que chegaria em dois.
Acabou sendo mentira. Cheguei em três. Em minha defesa, eram onze e meia da noite e ainda tinham alguns carros na rua, que me impediram de passar de 120 por hora.
Ao chegar até o local, que era um prédio velho, toquei a campainha do apartamento que ela me dera.
Ninguém atendeu. Toquei de novo.
Uma campainha me avisou que a porta fora aberta. Entrei, e subi.
Defronte à porta do apartamento 19, parei pela primeira vez para olhar ao meu redor. O prédio era sujo, tinha ratos correndo pelo corredor, poças de urina e não tenho certeza, mas acho que passei por uma pilha de fezes humanas enquanto subia as escadas. Nesse momento eu poderia ter ido embora. Poderia ter virado as costas à porta e ter ido embora. Mas não fui.
Stella estava lá.
Não sei por qual motivo, só sei que precisava vê-la. Precisava de resposta. Aquele pequeno momento de racionalidade, no qual eu poderia ter pensado em como ela estava viva tendo perdido tanto sangue, porque ela tinha ido embora daquela maneira, o que ela estava fazendo numa espelunca como aquela, foi para o espaço quando lembrei de uma coisa.
Nosso bebê. Meu filho poderia estar vivo.
Nem bati na porta. Dei-lhe um chute e a arrombei.
A sala do apartamento 19 era quase igual ao corredor de onde saí, com a diferença de estar mais escuro, pelo fato das lâmpadas estarem apagadas e as cortinas fechadas. Era tão suja quanto, e emanava um cheiro horrível. E estava tão vazia quanto.
Gritei o nome de Stella. Ela gritou que estava no quarto.
Saí correndo na direção da voz dela.
O quarto ficava à minha esquerda. Abri a porta.
Lá, estava Stella, agora loira, mas fora isso exatamente igual ao que era, e tinha um homem deitado na cama. Ele estava com os braços e pernas amarrados, e em sua boca estava um grande pedaço de silver tape. Ele me encarava.
Não pude dizer nada. Ela correu e me abraçou, e me beijou. Olhou diretamente nos meus olhos.
Não preciso dizer a vocês o que isso fez.
Enquanto me beijava, ela destilou sua história.
Aparentemente, aquele homem a conhecera num bar, a drogara, e a levara para esse apartamento para violentá-la. Ao acordar, ela achara um bastão e o usara para derrubar o homem, e o amarrara depois.
Nessa hora meu ódio tinha chegado à superfície. Não tinha mais nada na minha cabeça a não ser machucar aquele homem. E ela leu meu olhar.
Perguntei a ela o que fazer. Ela me entregou um punhal, me mandou enfiá-lo no diafragma do homem, e ir rasgando até a base da cintura. Respondi que tudo bem.
Muitos assassinos tentam arranjar desculpas para o que fizeram. Eu tenho a desculpa perfeita: Eu estava sob o controle total de Stella. Nem cogitei não fazer isso. Simplesmente aceitei.
Ao olhar para o homem, aquele pequeno lado racional meu veio à tona. Não tinha nenhuma marca de golpe em seu rosto ou cabeça. Stella mentira para mim. E eu não me importava. Os olhos do homem me diziam que ele também aceitava seu destino. Stella o controlava também.
Não vou enrolá-los mais. Eu fiz aquilo. Enfiei a faca no homem, e praticamente o abri no meio. Fiquei coberto de sangue. Levantei ofegando, e me virei.
Stella sorria, parada ao pé da cama. Seus olhos brilhavam, e ela murmurava uma espécie de mantra. E ela estava mais linda do que nunca.
Saí de cima da cama e me ajoelhei diante dela. Não sei porque, só sei que me pareceu a coisa certa a fazer.
Os olhos dela brilhavam muito. Mas muito mesmo. Ela sorria, um sorriso maligno e malicioso. Olhou dentro dos meus olhos e me agradeceu. O som de sua voz saiu grave, e eu desmaiei, pela segunda vez nessa história.
Acordei em nossa casa. Tinha uma vaga lembrança de um pesadelo horrível envolvendo Stella. Levantei-me, tomei banho, tomei café, lavei a adaga sangrenta que estava em minha cama, e sentei-me no sofá. Bem, acho que vocês podem perceber onde está o erro nessa sentença.
O ato de lavar a lâmina fora mecânico. Só depois de me sentar ao sofá e segurar a faca limpa em minhas mãos, os eventos da noite anterior voltaram à minha mente. Chorei que nem um bebê.
Passei os próximos sete anos da mesma maneira do que os últimos seis. Como um robô.
Escrevo isso agora, pois preciso exorcizar meus próprios demônios. Jurei, depois daquela noite, tentar apagar Stella de minha mente. Mas não dá.
Stella não é o tipo de mulher que se esquece assim tão facilmente.
“Por que agora”, vocês devem se perguntar.
Pois eu a vi.
Depois de sete anos e meio, eu a vi novamente. Estava numa rua lotada, mas tenho certeza de que era ela. Só vi os olhos no meio do mar de gente, mas não tem como se enganar. Era ela.
Agora preciso me controlar. Eu não sei o que é Stella, só sei que não é uma mulher. Nem um ser humano. A frieza no olhar dela depois de eu ter matado aquele pobre homem cujo único crime deve ter sido olhar em seus olhos, foi demais.
Um demônio, uma harpia, Satã em forma de mulher, eu não sei. Só sei que não quero ter mais nada com ela. Não posso. Não sei se acredito no Céu, e em Deus, mas com certeza acredito no Inferno. De onde mais tal criatura, ao mesmo tempo adorável e maligna como ela poderia ter saído? Eu não consigo imaginar.
Só sei que não tenho mais nada. Apareço no emprego umas duas vezes por semana, não faço a barba há uns dois anos. Estou um caco. Agora que eu sei que ela está de volta, preciso tomar minha vida de volta. Preciso confrontá-la. E já tenho minha chance:
Comecei a escrever isso logo depois dela me ligar. Disse que queria me ver, e me deu um endereço. Era no mesmo prédio, e no mesmo apartamento.
Agora eu pego a arma que comprei. Vou levá-la, e tentar acabar com essa perversão. O pior é que eu não sei nada sobre o bebê. Será que ele ainda vive? Será que era isso que ela queria? Um filho para levar a diante seus intuitos? Agora entendo o significado daquele “agora não” que ela sussurrava em seu sono, ao descobrir sua gravidez. Talvez ela, ou eu, ou ambos, ainda não estivéssemos prontos para trazer ao mundo nossa cria.
Eu não sei. Só sei que vou até ela. E, se houver um Deus no céu, talvez ela não saia viva de lá. Isto é, se algo como ela puder morrer.
Sinceramente? Acho que vou chegar lá, ela vai me colocar para matar outro pobre coitado, eu vou desmaiar, e aparecer aqui novamente. Se isso acontecer, a arma será para mim. Mas talvez eu tenha uma chance. Talvez eu consiga me desvencilhar de seu olhar por tempo suficiente para acabar com ela.
Talvez. Mas eu acho que não.
Bem, é isso. Minha ama me chama.
Fiquem com Deus.





quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

se ensinasse escrita criativa, perguntou-me, o que lhes diria?, Charles Bukowski

tradução de: Manuel Domingos


diria para terem um desgosto amoroso,
hemorróidas, dentes podres
beberem vinho barato,
evitar a ópera e o golfe e o xadrez,
mudarem a cabeça da cama
de parede para parede
e depois diria para terem
outro desgosto amoroso
e para nunca usarem computador
portátil,
evitarem almoços em família
ou serem fotografados num jardim
com flores;
para lerem Hemingway só uma vez,
passarem por Faulkner
ignorarem Gogol
verem fotografias da Getrude Stein
e lerem Sherwood Anderson na cama
enquanto comem bolachas de água e sal,
perceberem que as pessoas que falam de
liberdade sexual tem mais medo do que vocês.
para ouvirem E. Power Biggs a tocar
órgão na rádio enquanto enrolam
um Bull Durham às escuras
numa cidade desconhecida
com um dia para pagar a renda
depois de abandonar
amigos, família e trabalho.
para nunca se considerarem superiores e/
ou justos
e nunca tentar ser.
para terem outro desgosto amoroso.
observarem uma mosca no verão.
nunca tentar ter sucesso.
nunca jogar bilhar.
para se mostrarem verdadeiramente furiosos
quando descobrirem que têm um pneu furado.
tomarem vitaminas mas nunca fazer exercício físico.

depois disto tudo
inverter o processo.
ter um bom caso amoroso.
e aprender
que não há nada nem ninguém a saber tudo –
nem o Estado, nem os ratos
nem a mangueira do jardim nem a Estrela Polar.
e se algum dia me apanharem
a dar uma aula de escrita criativa
e lerem isto
eu dou-vos um 20
pelo cu
acima.





segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Microcontos - Henry Alfred Bugalho

Espiando

Era um voyeur.
Brincava sozinho, vendo a vizinha trocar de roupa.
Numa noite, ela abriu toda a cortina, acenou para ele e se despiu.

Brochou.

disponível em Recanto das Letras

*****

Vide Bula

Esqueceu-se de ler a contra-indicação do Viagra® para pessoas com problemas cardíacos.

Foi encontrado com pau e sorriso duros.

disponível em Recanto das Letras





domingo, 13 de janeiro de 2008

Retalhos

Retalho pequeno alojado em manta do sono breve,
és pinta de bisca em baralhos de povo - nosso jogo,
tropelia flutuando em louco "pouco a pouco" pensar.

E és roda rodada rodando parte do pesado mover
porque efémero o tempo vento que veio e se vai ser.

És arestas do cubo mudo em faces deste meu fado,
curva nua de rua, nó em fio entre futuro e passado,
ondas da expansão, razão, rasto de mergulho de viver.

És passo largo, estugado(.)em que de()vir me persigo(?)
e sopro de "enche balão" e mão de ascensão contigo.

És grito de (vi)vida que percorre célere a rua sinuosa
És prosa, palavra teimosa. E dita de dito de bem e de mal
És grão de areia cheia em chão de pá no lado de cá do sal.

És cem de sem, meu teu bom bem e até incrível natural
quando hoje não quero tanto mas mais quem... quero normal





O desenho

No início de tudo, antes do raiar do dia e nascer do meu primeiro segundo, antes do principio dos principios, eu era nada. Ausência, vazio de barriga incómodo e inquietante, falta mesmo de falta de movimento. Pensamentos vagos e fugidios, fixações em entes não presentes: o que já se foi e o que ainda não chegou.

Ao final do primeiro dia era mais: a espera. E nada sabia de mim. Vestido de branco em folha de papel, olhava para o fundo de meu próprio e estava a ficar verdadeiramente aborrecido, farto de ser nada. Então ele chegou. Instrumento de escrita, deu origem ao toque e à continuidade de pontos que se uniram aparecendo em sequência: um, dois, três traços, a boca, dois olhos, um chapéu, o nariz.

Mais um pouco de esforço, de laboração e fiquei pronto. Observei o que era e gostei francamente do que vi - cabeça, tronco e membros de boneco; pleno de inteligência e imaginação que sorria e sentia uma curiosidade imensa. Quis logo aprender sobre tudo e todos. Fiz planos, investiguei, perguntei, calcorreei caminhos... Continuei nessa vida lida por mais dois dias. Dois longos dias.

Ao fim do terceiro dia considerei-me muito sábio e ajuizei que, de repente, tinha certezas e era necessário impor a ordem no mundo. Começei a estabelecer regras para seguir. Que seriam óptimas para os outros. A primeira delas foi que a partir desse momento, todos os dias ao início da manhã e final da tarde, todos os dias sem falta, virar-me ia para Este e adoraria ao meu Deus e senhor criador - o lápis.





sábado, 12 de janeiro de 2008

Autodescritiobiografia para um perfil de orkut

Algo que sempre me deixou encabulado foi o tal "quem sou eu" do orkut - aquele campo para descrever a si mesmo. Não fico muito à vontade de falar de mim (modéstia, claro).

Pensei em várias soluções para meu impasse, até, finalmente, imaginar um texto que mesclasse um pouco de mim e do meu passatempo preferido: a literatura.

Eis que surgiu o ensaio: "Autodescritiobiografia para um perfil de orkut"

Apropriado para um post deste blog? Por que não? Além de o blog ser um espaço amplo para a arte da escrita, creio que todo fã gosta de conhecer um pouco mais do autor.

Portanto, o texto abaixo é uma homenagem aos meus incontáveis fãs (olha a modéstia aqui de novo). Poderão, através dele, saber um pouco mais de mim; ou não.

Com vocês:

"Autodescritiobiografia para um perfil de orkut"

Desista. Comece entendendo apenas esta palavra: desista.

Tem coisa que é simplesmente impossível descobrir ou desvendar.

Portanto, simplesmente desista de tentar entender ou encontrar a resposta para uma questão tão simples: "Quem Sou Eu?"

Outra coisa importante: Não confunda.

Não confundir o que? Não confundir as palavras com o caráter. Não confundir a capa com o conteúdo. Não confundir o brilho de uma única estrela com a imensidão do Universo.

Não me confunda. Não sou nenhuma de minhas personagens, mas sou todas elas vivendo ao mesmo tempo.

Minhas personagens são transparentes e misteriosas; espertas e fáceis de enganar; malévolas e benévolas; místicas e tradicionalmente sacras; não se importam com o mundo e caridosas; inteligentes e ignorantes; crêem no destino e, às vezes, na simples e pura coincidência e, até mesmo, na providência; se apaixonam fácil e nunca encontram amor; são fortes e são frágeis; choram quando querem rir e gargalham diante do pranto; são heroínas, são vilãs; são deusas e pobres mortais; são mártires e carrascas; informatizadas que empunham espadas e escudos; entregariam seu próprio corpo em sacrifício e sacrificariam um mundo inteiro. São artistas, intelectuais, leitoras que nunca abriram um único escrito; são organizadoramente desleixadas. Caminham pela chuva esperando encontrar um raio de sol ou procuram nas gotas da tempestade o perfeito disfarce para suas lágrimas.

Onde estou entre tantas personagens? Em nenhum lugar e, ao mesmo tempo, em todas as linhas que as descrevo. Cada traço de caráter expressado num rosto jovem ou nas marcas fortes de uma face marcada pela experiência. Em cada lágrima contida, aquela que deita sobre o rosto uma única gota como um cristal. Ali estou eu. Ali sou eu. Numa lágrima e, também, num sorriso.

Quem sou eu? Desista e, por favor, não me confunda. Não sou ninguém que você conheça e mesmo que você olhe dentro dos meus olhos, ali eu não estarei. Ali, talvez, não serei eu.

Texto por Denis da Cruz





A Moça de Descomia Mentiras (autora convidada)



Ela foi uma criança criativa, uma adolescente perigosa.
Virou uma adulta mentirosa.
Tinha duas escolhas na vida:
Escrever livros, contando as histórias que inventava
da vida de amigos, parentes, vizinhos e afins, e fazer uso das suas mentiras próprias; ou virar atriz e
viver as mentiras alheias, sem ter que sair
machucando Deus e o mundo e mais um pedaço, melhor de tudo, sem sentir culpa no cartório.
Talento pouco na arte de escrevedora e de intérprete, e muito pra invencionices oralmente fantasiosas,
nem escreveu o livro,
nem virou atriz.
Virou foi uma bulímica da melhor qualidade.
Vomitava as mentiras mal digeridas como
quem vomita a folha de alface do almoço.
Ficou anoréxica a bichinha...Não lhe parava mais
nem uma mentirinha, das pequenas sequer, no estômago!
E definhava a olhos vistos sem que se pudesse fazer nadica por ela.
Todos se surpreendiam com a rapidez que criava mentiras novas pra colocar no lugar das vomitadas... Era a ânsia de prender a vida, que lhe escapava
pelas paredes da garganta, nos dedos.
Moribundou jovem, coitada! Mas continuou a andar
por aí, a se encher de ar e de invencionices, sofregamente.
O corpo ainda se locomovia, feio, curvado ao peso
das mentiras,
olhos fundos na face cadavérica...
Mais se arrastava do que caminhava, mas ia em frente.
Até que num dia chuvoso uma mentira, das grandes, se lhe entalou na garganta, não conseguia descer goela abaixo nem por decreto...
Ficou roxa , perdeu o ar, esverdeou-se, se foi de vez!
Até hoje perguntam de que partiu a tal moça, nessa mania que o povo tem de achar que todo cadáver
tem que ter causa mortis.
Respondo que morreu de mentira grande demais
pra ser engolida.
Sabe que ninguém me acredita?!

"Sou apenas uma poeta...
Não nasci e não morro, fico em forma de poesia.
O tempo só assusta a quem o desafia.
Essa sou eu Elza Fraga, muito prazer!"





quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Círculo Vicioso

Baseado numa história real

Com esforço, Uéslei passou de frentista a caixa da loja de conveniências do posto. No final de um dia, cinco reais faltavam. O patrão desconfiou de Uéslei.
— Pra rua, seu ladrão vagabundo!
Uéslei ficou chateado; era trabalhador, nunca roubara ninguém; e por que arriscaria seu pescoço por cinco paus?
De chateado, Uéslei ficou puto. O patrão só usou essa desculpa para demiti-lo e não pagar seus direitos. Agora, ele estava fodido. Seu pai tuberculoso, a mãe grávida do sexto filho.
Mas ele tinha umas pequenas economias. Usou-as para comprar um revólver velho, com seis balas. Prendeu-o na cintura. Pegou uma meia-calça da irmã e foi até o posto.

— Passa a grana, filho da puta!
Uéslei apontava a arma para a cabeça do ex-patrão, que lhe entregava as notas miúdas do caixa.
— Do cofre também!
O patrão abriu, quietinho, a caixa de metal e retirou uma bolada. Foi quando ocorreu a desgraça: o patrão olhou na direção do assaltante e, por debaixo do nylon da meia, ele reconheceu a fisionomia.
— Uéslei? É você?
Ter sido descoberto não fazia parte dos planos de Uéslei. E agora, o que ele faria?
— Por quê, Uéslei?
O assaltante disparou três tiros e fugiu com o dinheiro.

Pouco tempo depois, Uéslei abriu um comércio com o dinheiro do roubo. Contratou um funcionário para ajudá-lo. Porém, quando sumiram três reais do caixa, Uéslei despediu o bandidinho incompetente.
Na tarde seguinte, um assaltante armado apareceu, ordenando-o que entregasse o dinheiro, inclusive o que havia no cofre. No entanto, o rapaz parecia ser conhecido.
— Ademar, é você?
A três palavras mais estúpidas que Uéslei proferiu na vida (ou no que restava dela).

www.miriades.blogspot.com





terça-feira, 8 de janeiro de 2008





domingo, 6 de janeiro de 2008

Da Mais Alta Janela da Minha Casa, Alberto Caeiro

XLVIII

Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a Humanidade.

E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.

Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.

Quem sabe quem os terá?
Quem sabe a que mãos irão?

Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.

Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.

Passo e fico, como o Universo.

Extraído de O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)





sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Recomendações de Leitura

MIA COUTO: DUAS RECOMENDAÇÕES NUMA RESENHA

TERRA SONÂMBULA E O OUTRO PÉ DA SEREIA
Marcia Szajnbok

Antonio Emílio Leite Couto, que assina suas obras como Mia Couto, nasceu em Beira, Moçambique, em 1955. Jornalista e biólogo, sua primeira obra publicada foi Raiz de Orvalho (1983), uma coletânea de poesias. A esse, seguiram-se contos, crônicas e, a partir de 1992, romances.

O primeiro deles, Terra Sonâmbula, foi relançado no Brasil em 2007 pela Companhia das Letras. O autor tece duas histórias aparentemente paralelas, ambientadas num país devastado pela guerra civil, retratando a profusão de impulsos e emoções que tomam o menino Muidinga, o velho Tuhair e o personagem morto, Kindzu, que fala através de seus diários. Numa prosa por vezes fantástica, outras poéticas, Mia Couto faz um elogio à própria arte de escrever e à função de alimento da alma desempenhada pela palavra escrita.

O mais recente, O Outro Pé da Sereia, foi lançado pela mesma Companhia das Letras em 2006, simultaneamente a seu lançamento em Portugal pela editora Caminho. O romance desenvolve duas tramas: uma protagonizada pelo jesuíta Gonçalo da Silveira, que parte de Goa em 1560, com a missão de catequizar o imperador do Monomotapa, região de fronteira entre o Zimbabwe e Moçambique; a outra se passa em 2002, tendo como cenário as dificuldades sociais e culturais de um país ainda cheio de seqüelas depois de dez anos do término da guerra, onde um casal de antropólogos chega em busca de um libelo contra a escravidão colonial e de um universo nativo, representado pela personagem Mwadia Malunga. O ponto de união entre as duas tramas é uma imagem de Nossa Senhora que pertencera à nau portuguesa, identificada pelos africanos a Kianda, uma deusa das águas na crença local.

Nos dois romances Mia Couto nos apresenta um retrato crítico do atual Moçambique, ressaltando a ambigüidade que permeia a relação da cultura nativa com a colonização portuguesa. Nem um pouco panfletária, tal crítica é estabelecida a partir do lirismo e da ironia com que descreve as várias facetas de uma cultura que se desenvolve a partir da relação colonizador-colonizado, apontando ora para a incorporação e miscigenação de valores, ora para o rompimento e hostilidade que desembocam na guerra.

Tudo isso é exposto num texto primoroso, que prende a atenção do leitor, que encanta pela forma como mistura palavras do vernáculo português, a termos da língua kafre e a neologismos produzidos com liberdade poética. Uma verdadeira viagem no tempo e no espaço, que curiosamente em muitos momentos nos reconduz, nós brasileiros, a nossa própria relação com a cultura que herdamos e produzimos.


DAVID COPPERFIELD E O MISTERIOSO MUNDO DAS TRADUÇÕES NO BRASIL
Henry Alfred Bugalho

Quem não fala (ou não lê) outro idioma, tem momentos difíceis no Brasil quando se trata de ter acesso a grandes clássicos da Literatura.

A lista de autores e obras ignoradas por tradutores e por editoras é enorme, como se não houvesse interesse em olhar para o passado, como se o simples fato de mencionar o título da obra nos prescindisse de lê-la. Quanto maior a antigüidade do texto, mais esquecida ela se encontra. No entanto, isto não implica em olvidar apenas alguns mestres gregos ou latinos, ou autores bizantinos, ou clássicos medievais. Há muito a ser feito no campo da tradução, e isto inclui até autores inquestionáveis, tal qual Charles Dickens, cujas obras serviram de inspiração ao maior expoente do romance brasileiro, Machado de Assis.

David Copperfield é um romance de maturidade do autor e o que possui maior elementos autobiográficos. Acompanhamos o protagonista, David Copperfield, desde seu nascimento até a idade adulta, quando, após muitas desventuras - a morte do pai, o segundo casamento da mãe, um padrasto opressor, o falecimento da mãe, um mergulho na mendicância, o trabalho árduo na indústria -, ele se torna um autor bem-sucedido, quase uma símile da vida de Charles Dickens.

Quem já teve a oportunidade de ler alguma obra deste romancista, seja no original inglês, seja em traduções (Machado de Assis chegou a traduzir algumas obras de Dickens), está familiarizado com sua escrita brilhante, precisa e irretocável.

Dickens é daquela estirpe de gênios literários que se destaca pela legião de personagens memoráveis que criou, ao lado de Shakespeare, de Cervantes ou de Balzac, que invadem o imaginário coletivo e se destacam de suas obras. David Copperfield é o arquétipo dum jovem idealista e puro, noções sustentadas pelo próprio Dickens, que via em sua escrita um caminho para mudar o mundo e instigar esperança numa nação ainda estupefata diante das maravilhas e mazelas da Revolução Industrial. Outro grande talento de Dickens é a sua capacidade de alternar momentos dramáticos e cômicos, às vezes num breve intervalo de página, brincando com as emoções dos leitores, chegando até a arrancar lágrimas ou risos durante a leitura.

Infelizmente, nenhum tradutor brasileiro se aventurou no universo de David Copperfield; há resumos, talvez mais mutilações, com 100 ou 50 páginas, mas certamente bem distantes do deslumbramento existente nas mil páginas do original em inglês.





terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Índice das edições da SAMIZDAT

Ano III



SAMIZDAT 29


SAMIZDAT 28


SAMIZDAT 27


SAMIZDAT 26
março/2010


SAMIZDAT 25
fevereiro/2010


SAMIZDAT 24
janeiro/2010


Ano
II


SAMIZDAT 23
dezembro/2009


SAMIZDAT 22
novembro/2009


SAMIZDAT 21 - Especial de Mistério e Suspense
outubro/2009


SAMIZDAT 20
setembro/2009


SAMIZDAT 19
agosto/2009


SAMIZDAT 18
julho/2009


SAMIZDAT 17 - Especial Humor
junho/2009


SAMIZDAT 16
maio/2009


SAMIZDAT 15
abril/2009


SAMIZDAT 14
março/2009


SAMIZDAT 13 - Especial Erótico
fevereiro/2009


SAMIZDAT 12
janeiro/2009

Ano I


SAMIZDAT 11
dezembro/2008


SAMIZDAT 10
novembro/2008


SAMIZDAT 9 - Especial de Terror
outubro/2008


SAMIZDAT 8
setembro/2008


SAMIZDAT 7
agosto/2008


SAMIZDAT 6
julho/2008


SAMIZDAT 5
junho/2008


SAMIZDAT 4
maio/2008


SAMIZDAT Especial 1 - Ficção Científica
abril-maio/2008


SAMIZDAT 3
abril/2008


SAMIZDAT 2
março/2008


SAMIZDAT 1
fevereiro/2008