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terça-feira, 16 de junho de 2009

Poesia

Antessala

Quero estar no vão do teu olhar,
no intervalo da tua fala,
na tua inspiração,
quero ser tua antessala.

Quero ser teu ato-falho
e estar no inconsciente.
Não quero ser o que você pensa
e sim o que você sente.

Não quero ser teu objetivo,
tua missão, finalidade,
quero me impregnar em tua veia
e ser pra sempre tua verdade.



Natural

A noite cai.
O sol se vai.
A chuva molha
e a folha chora
o orvalho da noite.

As flores morrem
e o vento corre,
varrendo a terra
e o caminho.

Eu, sozinho
ainda choro,
mas não imploro
por sua volta.
Eu sei que o fim
é natural.



Cena do crime

Ainda sinto teus dedos deslizando na minha pele
e tua voz ecoando em meus ouvidos.
Nas minhas roupas, o teu cheiro,
na minha boca, o teu mel.

Tuas palavras se repetem na minha mente
e no i-Pod ainda tocam as músicas que você gravou pra mim.
Os copos na pia continuam rubros, com os restos do nosso vinho,
e o cheiro da pizza ainda invade minhas narinas.

A cama está desfeita
e a banheira continua molhada,
e eu tenho a nítida impressão
de que você vai me abraçar a qualquer momento.

Mas estou totalmente enganada.
Você já se foi há muito tempo.
E eu ainda não consegui desfazer a cena do crime.



O barulho da água

Enquanto a água escorre
e a mágoa percorre meu corpo,
eu não escuto.
O mundo segue no mute.
O tempo passa na surdina.

Eu me entupo de luto
e derramo minha sina.

E assim,
alagada em minha lágrima,
cai a chuva, chora a água,
a dor transborda e me enxagua,
e eu me inundo de mim.

Até o fim.

Mariana Valle

Para ler outros textos da autora, clique aqui.

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