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sexta-feira, 19 de junho de 2009

Quando Nietzsche Chorou, de Irvin D. Yalom


Eu ainda trabalhava numa livraria na época em que o romance "Quando Nietzsche Chorou", do escritor americano Irvin D. Yalom se tornou um sucesso no Brasil.

Lembro-me de ter sido atraído pela ideia de uma obra de ficção abordando a psiqué de Friedrich Nietzsche, um dos mais importantes filósofos de todos os tempos. Contudo, o simples fato de ser um best-seller já me deixava um pouco desconfiado.
Qualquer um que conhece um pouco da biografia do filósofo já deve ter se deparado com as imensas contradições internas de Nietzsche, um vulcão enquanto teórico, mas um homem fragilizado em sua vida pessoal. Um destruidor de ídolos como filósofo, mas um homem oprimido pelo jugo daqueles que o cercavam: sua irmã Elizabeth, o compositor Richard Wagner, ou a poderosa figura de Lou Salomé.

O psicoterapeuta Irvin D. Yalom estreia como romancista unindo dois importantes personagens da História dos saberes:, Josef Breuer, o protagonista, incumbido da tarefa de curar Friedrich Nietzsche de suas dores.
A pergunta primordial do livro é: como curar alguém que não deseja ser curado?
A segunda pergunta, não menos crucial é: como desenvolver uma cura para as dores da alma?

Josef Breuer foi um dos pioneiros da psicanálise, graças a seus estudos sobre histeria, em parceria com Sigmund Freud, no famoso caso de Anna O.
Nietzsche e Breuer nunca se encontraram de fato, apenas na ficção de Yalom, mas a proposta de unir duas das mais brilhantes mentes de seu tempo é instigante.

No entanto, Irvin D. Yalom recai em algumas falhas do romancista iniciante. O enredo demora a engrenar, são 50 páginas até a aparição de Nietzsche, que é sem dúvida o charme da obra e está presente nos momentos mais empolgantes; depois disto, "Quando Nietzsche Chorou" é uma sucessão de altos e baixos, de interessantíssimos diálogos entre Breuer e Nietzsche, e de tediosas digressões sobre a vida pessoal do protagonista. Yalom se esforça demais para demonstrar sua erudição e apresentar o resultado de suas pesquisas para compôr a obra, e acaba negligenciando o enredo.
O resultado final é um romance bastante desigual, com trechos inspirados, mas recheado de excessos. Todavia, é um primeiro passo interessante para quem deseja se aproximar do pensamento nietzschiano, pois há várias referências a conceitos recorrentes na obra do filósofo, bem como a antecipação do que viria a ser sua obra-prima, "Assim falava Zaratustra". Ao mesmo tempo, é também uma lição sobre os primórdios da psicanálise e da busca por um método científico para tratar patologias psicológicas.

"Quando Nietzsche Chorou" está longe de ser um primor literário, mas certamente Yalom realizou um profundo trabalho de pesquisa histórica.

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