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quinta-feira, 18 de junho de 2009

O que você quer ser quando crescer?

Eu pensava muito sobre o que queria ser quando eu crescesse. Afinal de contas, esta é a pergunta que todo adulto faz às crianças; como se nosso destino já tivesse de estar traçado desde sempre.

Meu primeiro desejo era que eu pudesse fazer algo que gostasse, que nunca me entediasse, que apresentasse desafios, que fosse instigante.
No entanto, não poderia ser trabalho pesado, nada braçal, nada estafante. Assim como para muitos, o trabalho ideal era aquele que pagasse bem e que exigisse pouco esforço.

Tirando os projetos absurdos (absurdos hoje, pois à época eram bastante plausíveis), como bombeiro, piloto de caça, astronauta, franco-atirador, jogador de videogame profissional, havia uma sensação interior de que, em qualquer ramo que eu seguisse, sempre estaria ligado às artes.
Eu até que desenhava bem, mas não bem o bastante; aprendi piano, mas também sem vestígios de genialidade ou talento extraordinário; apenas a escrita parecia estar presente o tempo todo, mesmo que paralelamente, sutilmente.

Meu herói da infância era o Indiana Jones, por isto, por um bom tempo também almejei ser arqueólogo. Quando descobri que a realidade da profissão estava bem longe das aventuras em ruínas, enfrentando nazistas ou povos exóticos, sem tumbas remanescentes de faraós para serem descobertas, o encanto diminuiu, e me enveredei por outro tipo de arqueologia, talvez aquilo que Foucault chamaria de "arqueologia do saber", a Filosofia.

Formei-me, só que não me via naquela profissão que aspirava quando criança. Tornar-me professor não era uma questão de escolha, era a única saída para a minha formação. Ou eu fazia isto, ou ficaria desempregado.
Todavia, a vida é cheia de surpresas e tudo pode mudar a qualquer instante. Tudo mudou...

"O que eu queria ser quando eu crescesse?", esta é a pergunta que me fiz hoje, ao terminar de assistir ao programa "Profissão Repórter" na Globo.
A candidata que conseguiu ocupar uma das vagas para o programa, ao responder qual era o sonho dela, disse: "fazer, na semana que vem, exatamente isto que estou fazendo hoje".

E não é o que todos nós sonhamos? Encontrar algo na vida que gostaríamos de fazer todos os dias de nossas vidas? Encontrarmos a profissão perfeita para nós, ou a companheira pra toda a vida, a casa do sonhos, a viagem de nossos projetos?

Não nasci para ser bombeiro, nem astrounauta, nem sequer arqueólogo como o meu herói de outrora; descobri que o quero fazer por toda a minha a vida era aquilo que estava de lado, tão natural, tão comum, tão instrumental: escrever.

Não me tornei o que queria, mas faço justamente aquilo que sei que gostaria de continuar fazendo sempre; não é dinheiro fácil, mas não é trabalho braçal; sem reconhecimento instântaneo, mas tão essencial que, para mim, é impossível me pensar sem exercê-lo.

Entre a criança que fui e o homem que sou há anos e separação; somos muito diferentes, com projetos e sonhos diferentes, mas tenho certeza de que o eu-criança se orgulharia de mim agora.

E correndo o risco de imitar os maus cronistas ou filósofos, que adoram acabar um texto com uma interrogação para forçar o leitor à reflexão, também lhe pergunto: "E você? O que queria ser quando crescesse? Você-criança teria orgulho de você-adulto? Você faz hoje o que gostaria de fazer amanhã?"

Se a resposta for não, não se desespere, nem tudo está perdido... A vida pode mudar a qualquer instante. Às vezes, muda até sem querermos.

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2 comentários:

Olá, Henry.

Meu nome é Francine, sou brasiliense. Uma típica brasiliense funcionária pública. Identifiquei-me com seu texto porque, definitivamente, não trabalho com aquilo de que gosto. Sempre gostei de literatura e línguas, mas acabei me formando em Direito. Há um ano e meio, participo de uma oficina literária na qual, além de poder treinar a arte da escrita, desfruto de momentos muito prazeirosos com pessoas que gostam de boa literatura e de artes em geral. O grupo também participa, periodicamente, de saraus organizados pelos gestores da oficina que são servidores públicos da Câmara dos Deputados. Na verdade, a oficina faz parte do Núcleo de Literatura da Câmara dos Deputados. Não sou servidora da Câmara, trabalho no Ministério Público Federal. Os encontros acontecem todas as sextas pela manhã. Sinto, de verdade, que "encontrei a minha turma". Sou muito orgulhosa de mim mesma por ter realizado alguns projetos de vida que fiz, a minha única frustração é, realmente, não trabalhar todos os dias com o que realmente gosto. Houve um tempo em que eu sabia do que NÃO gostava. Hoje tenho absoluta certeza de que navegar no mar da literatura e da escrita é o que, realmente, me faz feliz.

Um abraço.

Francine

Oi, Francine.

Interessante o seu comentário. A escrita é realmente um ofício apaixonante e que nos consome.

Felizmente, é uma ocupação que pode ser dividida com outras sem maiores problemas; é possível ser advogado e escritor, médico e escritor, ou engenheiro e escritor.

É claro que, em algum momento, precisamos fazer escolhas e, nestes momentos, temos de ter coragem.

Abraços.

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