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sexta-feira, 19 de junho de 2009

A poética do Poema Blavino

Juliana Ruas Blasina & Volmar Camargo Junior


Em um papo madrugado e MSNico entre Jú (Juliana Ruas Blasina) e V (Volmar Camargo Junior.) nasceu o blavino.

Discutíamos sobre a possibilidade de criar um poema que fosse sugestivo tanto em sua composição textual quanto na sua aparência gráfica, concreta, sobre a folha. Juliana tinha em mente uma "pirâmide" construída por 13 versos, mas não conseguia concretizar sua divisão em estrofes de modo a alcançar a forma esperada. Após o debate, eis que surgiu a ideia de um modelo que contemplasse as seguintes características:

- número de estrofes: 7

- numero de versos: 13, distribuídos a partir dessa sequência: 1-2-3-1-3-2-1

- tamanho dos versos: o objetivo é que o poema comece e termine com uma palavra, crescendo até o verso-estrofe central e maior (7) e decrescendo até o último. Resultando assim numa aparência piramidal, triangular, ou em seta – sempre alinhado, à esquerda ou à direita (nunca central), conforme a preferência do autor.

- decidimos que o "blavino clássico" corresponderia somente às três regras anteriores. O "blavino heróico", adicionalmente, deve ter como verso central um decassílabo heróico: 10(6-10) [dez sílabas,
acentuando-se a 6ª e a 10ª].

- uma regra adicional seria a de que o "blavino perfeito" seria aquele que pode ser lido na ordem direta e na ordem inversa perfeitamente.

- uma variação, criada pela Marcia Szajnbok – que também aderiu ao blavino, é o formato “abismo” (ou “abissal”), cujo verso central, ao contrário da forma padrão, é composto por uma única palavra (assim como ocorre nos versos 1 e 13).


Assim, por exemplo, seria um blavino clássico:


Fugaz
(Juliana Blasina)


Tão

Frágil
E fugaz

Que quebra
Ao menor toque,
E sem razão se desfaz

A beleza que mora em mim

Embalada neste corpo
É invisível ao olhar
Estranho, procuro

Resquícios do
que ainda

Sou



Já um blavino heróico – ou uma tentativa de - seria algo como este:


[conforma-te]
(Volmar Camargo Junior)

conforma-te
ei-la, como pediste,
a praia longa e branca
basta de ritos funerários
basta de tormentas marinhas
basta de esperar ser consumido
conforma-te, é o fim da vida no mar
sente, o sol aqui é mesmo o sol
o chão caminha com o vento
e a paisagem, por si, muda
a praia longa e branca
ei-la, como pediste
conforma-te




Um blavino abissal seria assim:


cat on a hot tin roof
(Marcia Szajnbok)

luzes

teus olhos
que brilham
de mar e de estrelas
percorrem-me a pele
me buscam, me despem

fico

um pouco escondida
à espreita, à espera
do gesto, da vinda

do bote
da fera

faminta



Algo que é digno de nota é que, em pouco tempo, este formato ganhou adesão por parte de vários poetas, notadamente os participantes da comunidade Estúdio de Criação Poética, onde foi apresentado. Deste grupo, já produziram blavinos Beatriz Moura, Caio Rudá, Carlos Barros, Marcia Szajnbok, José do Espírito Santo, Renata de Aragão Lopes e Taty Nascimento. Nesta edição da SAMIZDAT é possível encontrar alguns exemplos de blavinos, publicados por Juliana, Volmar e José do Espírito Santo. E, até o final da edição, talvez haja mais alguns. E se você que está lendo, gosta de escrever poemas e tiver gostado do blavino, sinta-se à vontade. Sirva-se! O blavino está aí, para quem quiser desfrutá-lo. Apenas gostaríamos que os interessados entrassem em contato conosco aqui na SAMIZDAT, mostrassem seus poemas, para que, quem sabe, esse formato se torne algo tão interessante - e grande! - como o poetrix e o indriso.


Para mais informações sobre as criaturas e os criadores, visite:

Um resto de café frio (Volmar Camargo Junior): http://restodecafefrio.blogspot.com/

P+2T: Poesia + dois tantos (Juliana Ruas Blasina): http://jublasina.blogspot.com/

Estúdio de Criação Poética http://estudiocriacaopoetica.blogspot.com/





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1 comentários:

Olá, Juliana e Volmar. Parabéns pela iniciativa poética e pelos poemas postados. Criar uma forma de expressão não é tarefa fácil, ainda mais em se tratando de poesia.

Apenas uma dúvida sobre o poema "Conforma-te" do Volmar:
"conforma-te, é o fim da vida no mar"
possui 10 sílabas, como era a intenção, ou 11?
[con] [for] [ma] [te~é] [o] [fim] [da] [vi] [da] [no] [mar]

O 'o' átono após o 'e~é' me parece criar uma nova sílaba poética, o que creio estar fora da intenção do autor, que era deixar alí a 6ª sílaba.

Eu não tenho o linguajar acadêmico que um professor de literatura teria, mas forçar uma elisão com todas essas vogais não soa tão bem. Talvez ela esteja correta, gramaticalmente, mas não soou tão bem como a que ocorre neste conhecido verso:

"Se tão contrátio a sí é o mesmo amor"

Fica aí a minha sensação, além dos cumprimentos devidos.

Abraços e boa sorte com o projeto de criação literária e o da revista Samizdat.
Minhas sinceras desculpas se eu estiver errado. Não foi minha intenção menosprezar poeta algum.

Lucas R.

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