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sexta-feira, 4 de julho de 2008

A Letra Escarlate, de Nathaniel Hawthorne

Nathaniel Hawthorne é um dos grandes autores canônicos dos EUA, comparável talvez a Machado de Assis no Brasil ou a Eça de Queirós em Portugal.
Sua obra principal, "A Letra Escarlate" foi um dos primeiros fenômenos editoriais no país e é leitura obrigatória nas escolas. Na verdade, esta acolhida diz muito sobre o espírito norte-americano, até mais do que isto, diz muito sobre a moral protestante que, segundo Max Weber, está no cerne da expansão capitalista.

A protagonista do romance é Hester Prynne, uma mulher condenada a carregar no peito a letra "A", após ter sido acusada de adultério. Ao se recusar a revelar a identidade de quem a corrompeu, Hester toma para si toda a culpa pelo pecado. A trama é ambientada na Nova Inglaterra em meados do século XVII, auge da caça à bruxas nas cidades regidas pela administração puritana.
Deste adultério, Hester dá a luz à Pearl, uma criança que representa a mácula do pecado da mãe muito mais do que a própria letra escarlate. Isoladas do convívio social, Hester e Pearl tornam-se cúmplices, companheiras no opróbrio.

A primeira grande reviravolta no enredo ocorre quando o médico Roger Chillingworth surge diante de Hester. Na verdade, Chillingworth é o marido ultrajado de Hester que decide
se vingar do pai de Pearl, descobrindo quem ele é e revelando sua identidade para o escárnio público.

São estes os dois principais conflitos do romance: a contrição de Hester Prynne e a ânsia por vingança de Roger Chillingworth, que se volta contra o reverendo Arthur Dimmesdale, o mestre espiritual da comunidade, cuja moral é inquestionável.

A prosa de Nathaniel Hawthorne é poderosa, intrincada e bem articulada. A linguagem econômica e telegráfica com a qual os EUA nos habitou nas últimas décadas - estilo inagurado por Hemmingway, que trouxe para a literatura a linguagem jornalística - se contrapõe ao estilo prolixo e sofisticado de Hawthorne.

No fundo, "A Letra Escarlate" é uma ousada crítica de Hawthorne à moral puritana, aos extremos que o radicalismo religioso pode conduzir. O autor não poupa Hester da necessária expiação pelo adultério, mas ele parece simpatizar com a protagonista, querer defender que, além da racionalidade, o animal homem também é formado por instintos e paixões.

Um dos grandes clássicos da literatura americana também é uma das grandes exposições das nossas fraquezas "demasiado humanas".

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