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segunda-feira, 1 de outubro de 2012



Walter P. Peixoto
E eu ali, todo quieto – 2000 – Moses Editorial
Brasil
(1978)
O taxidermista Samuel vive do seu trabalho em Goiânia até que descobre uma terrível doença que, pouco a pouco, está destruindo seu corpo. O fiapo de enredo se desenrola em 12 capítulos que correspondem a 12 tentativas do personagem enganar a morte com uma obra de arte. Temos a descrição de um projeto por capítulo, onde se sobressai a linguagem ensaística. Uma casa inteiramente feita de carne no capítulo um; Uma estátua do próprio narrador em tamanho natural onde se projetam filmes Super 8 feitos pelo seu pai no capítulo dois; Um filme de sexo entre o narrador e sua esposa que nunca tem fim no capítulo três;  Moldes feitos de gesso do quinta da sua casa no capítulo quatro e assim por diante.  O autor parece querer nos dizer que a literatura é a vida empalhada, imobilizada: um artefato que tenta ser sem de fato ser. E eu ali todo quieto ilustra com perfeição (ou quase, já que é uma tentativa) a definição de Cortázar sobre a narrativa breve: “Um caracol de linguagem, uma síntese viva e uma vida sintetizada…um tremor de água dentro de um cristal”.  E eu ali todo quieto é exemplar único, e não catalogado, da literatura de revolta. Revolta contra a breviedade da vida. Revolta contra a incapacidade da literatura. Essa chave de leitura, observada pelo crítico Julian Cardoni, ganha força quando observamos que o autor deixou o livro premeditadamente inacabado. O suicídio do texto. Walter P. Peixoto descarnou a língua, retirou o seu sangue e colocou algo no lugar.
Trechos:
“Os miolos também se retiram da caixa craniana por meio de uma ou mais mechas de algodão, presas em uma haste de arame grosso, o que facilitará a limpeza de todos os resíduos.” (Pág. 54)
“O silêncio das sereias de Kafka preenchido, devidamente preenchido.” (Pág. 87)
“Sangue de milagrosa translucidez. Minha casa feita inteiramente de carne, seus cômodos. Uma luz pálida a atravessa. E eu ali, todo quieto, sentado em um banco, também ele feito todo de carne.” (Pág. 103)
“Só quem não está à vontade com sua língua pode usá-la como bisturi.” (Pág. 129)

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