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quarta-feira, 1 de julho de 2015

As mãos são imemoráveis

Pouco antes de enterrar a verdade
numa recordação imunda
quase toda apocalíptica,
estilhace as lágrimas
para todos os lados
e preceda a encenação
rolando na espiral homogênea
que intercambia os nossos astros

esconda-se indiferente
da minha sina maltrapilha
e diga que não há mais volta,
que qualquer desculpa
sobrecarrega o descanso

mas enquanto permaneci
sustentando as cicatrizes,
acariciando o desamparo,
trepidando a pouquíssima carne
enclausurada pelas fobias,
esquentando os meandros
de quando me jurava amor,
eu me cabia numa mentira
para aliviar seus imediatismos

sei que a indiferença
nunca lhe evocou compaixão,
mas ao seu inferno
eu fui o acomodado servo
para protegê-la das remições

no descarte da leveza
a relação se encruou
aos sintomas de uma parasitismo
afetuoso

nutri os abocanhamentos
dos seus desconsagrados toques
e nem assim a esfomeação
te fez menos monocromática
pela minha generosa entrega

foi o meu ventre
quem se alocou bruto
no rebusco da insensibilidade

o encanecido jardim regado
com o nosso suor
está empalecidamente abrolhando
a resilição pesarosa

deixo-te com o lençol
amarrotado de tranqueiras
enquanto os meus ombros arcam
comiserações inteligíveis

minhas trêmulas mãos
não puderam desculpar
o desalinho das suas margens

você é uma inanição.

[Brett Walker]

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Bruno Bossolan
Nasci em 25 de junho de 1988 e resido em Capivari, interior de SP. Sou Cronista e Redator do Jornal O Semanário. [www.osemanario.com.br] Autor dos Livros: N(ó)stálgico (Poesias, 2011 - Paco Editorial) - Barbáriderna (Poesias, 2012 - Editora Penalux), com participação também em mais de 10 antologias poéticas. Autor da Peça Teatral “Destroços do Martírio” (apresentada no Mapa Cultural de SP na cidade de Porto Feliz – 2008/2009).
todo dia 01


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