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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Manifestos Modernistas

Em seu "Manifesto da Poesia Pau Brasil" Oswald de Andrade questiona os valores ditos eruditos e afirma:
Eruditamos tudo
Além de "eruditarmos", antes da Semana de Arte Moderna, importávamos a técnica, os modelos, a linguagem, copiando principalmente o academismo.
Poesia de importação
Importávamos tudo, os velhos colonialismo e imperialismo se mantendo ainda em plagas brasileiras, se não politicamente, pelo menos culturalmente. Em arte, opondo-se a isso:
A Poesia Pau Brasil, de exportação.
O modernismo veio para quebrar os velhos padrões, romper com as regras pré-estabelecidas, apresentar uma nova visão do mundo, da arte. No Manifesto Pau Brasil encontramos também comparações, metáforas, análise do pré-existente, da erudição. Propõe a reação ao status quo, para estabelecer uma nova ordem geral. Este Manifesto traz, em seu bojo, tanto a crítica como as novas normas (isto é, sem normas),
contra a cópia, pela invenção e pela surpresa
Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres.
O outro Manifesto, o Antropófago, que dizem inspirado inicialmente na tela Abaporu (antropófago, em tupi), de Tarsila do Amaral, é, na realidade, o desenvolvimento das ideias do Manifesto da Poesia Pau Brasil, já com inspiração filosófica (Montaigne, Marx e Nietzsche). A antropofagia significa, nas tribos em que era praticada, absorver as qualidades daquele que é devorado. Assim, ao comer a carne de um guerreiro muito valente, estar-se-ia adquirindo a valentia, a coragem e outros atributos dele.
Neste caso, significa a devoração cultural das técnicas importadas dos países desenvolvidos para reelaborá-las com autonomia, convertendo-as em produto de exportação.
Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicament. Filosoficamente.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
Estes dois Manifestos, cada um a seu tempo, apresentaram ideias revolucionárias, então novas, que buscavam mostrar, principalmente à elite cultural da época, que existiam novos estilos, novas maneiras, nova linguagem, novo fazer artístico, contrários ao academismo, ao que se realizava em termos de arte no Brasil.
Oswald de Andrade sintetizou, nestes dois textos, o pensamento modernista, que se contrapunha ao já estabelecido. Ele queria mostrar o que existia além das fronteiras da arte acadêmica brasileira e que se podia encontrar real valor artístico fora dos padrões que a elite exaltava.
Bibliografia:
ANDRADE, Oswald de - Manifesto da Poesia Pau Brasil in Correio da Manhã, 18 de março de 1924
- Manifesto Antropófago in Revista de Antropofagia, São Paulo, 1º de maio de 1928
GRANDE ENCICLOPÉDIA LAROUSSE CULTURAL, Círculo do Livro, São Paulo, 1993

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3 comentários:

o que é de bom senso questionar é, especialmente, se a idéia de autonomia, e as adjacências da crítica ao academismo e a vontade de inovação que se imbricam na gênese de nosso Modernismo, não são também uma importação. toda a tentativa de romper um certo invólucro, de retardar a ossificação das estruturas de pensamento, etc., acaba por despropositar-se. por exemplo, a repetição dos gestos da Semana pelos "marginais" da década de 70. a esse propósito, já nos primórdios das reações à decadência cultural finissecular, dizia Hermann Bahr que o Naturalismo havia de ser superado por um romantismo dos nervos. e o uso é bastante ajustado: o núcleo do nosso modernismo acaba por ser um sobre-romantismo. às vezes penso que é hora de fazer jus a Marinetti, já que já foi há tanto, e começar a derrubar a idéia de Modernismo e, com ele, todos os valores que lhe implicam e os que lhe são ulteriores. mas o texto é simpático.

Concordo com o comentário do versivo, Fátima. Entendo que a Semana de Arte Moderna não passa de uma importação do Modernismo na Europa, resguardando obviamente as especificidades do temas e das formas de expresão tipicamente brasileiras.
Um exemplo que me vem à mente são as obras de Villa-Lobos, que se munem de vários princípios estéticos de compositores como Schoenberg, Stravinsky ou Prokofiev.
A originalidade dos modernistas brasileiros está no fato de, talvez pela primeira vez na história das Artes, acompanhar quase simultaneamente as revoluções culturais européias.
Em outras épocas, o Brasil embarcava em movimentos estéticos com meio século de atraso.
Um bom artigo.

Com relação ao Manifesto Antropófago observei que: "Neste caso, significa a devoração cultural das técnicas importadas dos países desenvolvidos para reelaborá-las com autonomia". Significa que apresentavam à elite brasileira os movimentos artísticos que estavam acontecendo naquele momento em outros países, reinterpretados pela ótica de cada artista.

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