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quarta-feira, 3 de julho de 2013

OS HOMENS OCOS DE ELIOT


OS HOMENS OCOS DE ELIOT

                                                                    “Nós somos os homens ocos
                                                                     Os homens empalhados
                                                                     Uns nos outros amparados
                                                                     O elmo cheio de nada. Ai de nós!”
                                                                                                       (T. S. Eliot)

Eles estão chegando:
os homens ocos de Eliot.
E trazem, em seus alforjes,
armas, munição e ganância,
e alguns projetos ocultos
de poder e de vingança,
nos vãos da subserviência.

Vêm em cavalos cansados
de um cavalgar errante
por abismos e florestas
e, sobretudo, desertos,
que se lhe incrustam ao ser.
Tanto, que os petrificam,
no refluxo dos sentimentos.

Esses tristes homens ocos
não sabem da minha dor,
que é tão só a dor do Homem
– a única e mesma e sempre.
A qual me consome aos poucos
e assim me mantém vivo
(como se vivo eu fosse).

Esses tolos homens ocos
não sabem sequer de si.
E tramam, uns contra os outros,
o mesmo aniquilamento
de que fogem, sem roteiro,
juntos, embora sozinhos,
no desencontro das tramas.

Os homens ocos de Eliot
não passam de homens comuns:
é você, sou eu, somos todos,
nesta busca, sem sentido,
de sentido para o nada,
do mundo em outros mundos,
do amanhã no ocaso.

Os homens ocos de Eliot
são mais ocos do que homens,
mais áridos que os desertos,
mais escuros que os abismos,
mais árvores do que florestas.
Esses tristes, tolos homens
são o ocaso do Homem.


Edelson Nagues
Do livro Águas de Clausura Scortecci Editora)



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Edelson Nagues
(nome literário de EDELSON RODRIGUES NASCIMENTO) é natural de Rondonópolis/MT e radicado em Brasília/DF. Estudou Direito e Filosofia, com pós-graduação em Língua Portuguesa. É poeta, escritor, revisor de textos e servidor público. Na década de 1980 e início da década seguinte, em seu estado de origem, atuou na área musical, como vocalista e principal letrista do Grupo Reciclagem, tendo participado de vários festivais universitários e de festivais regionais e nacionais da Caixa Econômica Federal, obtendo diversas premiações, inclusive como intérprete e letrista. Na época, funcionário da CEF, atuava como representante do então recém-criado Conjunto Cultural (hoje denominado Caixa Cultural) em Mato Grosso. Premiado e/ou selecionado para coletâneas em vários concursos literários, entre os quais se destacam: Concurso Nacional de Poesia “Adilson Reis dos Santos” (2012, Ponta Grossa/PR), XXXIII Concurso “Fellipe d’Oliveira” (2011, Santa Maria/RS), Prêmio Prefeitura de Niterói (2011), XXI Concurso Nacional de Contos “José Cândido de Carvalho” e XII FestiCampos de Poesia Falada (ambos em 2011, Campos dos Goytacazes/RJ), Concurso Novo Milênio de Literatura (Vila Velha/ES, 2010), IV Concurso Nacional de Contos do SESC-Amazonas (2010, Manaus/AM), VI Desafio dos Escritores (Brasília/DF, 2010), XL Concurso Literário “Escriba” (Piracicaba/SP, 2009). É autor dos livros Humanos (coletânea de contos premiados) e Águas de Clausura (de poesia, vencedor do X Prêmio Livraria Asabeça), ambos publicados pela Scortecci Editora. É membro correspondente da Academia Cachoeirense de Letras (de Cachoeiro de Itapemirim/ES) e mantém (ou tenta manter) o blog pessoal www.senaoescrevodoi.blogspot.com.
todo dia 03


2 comentários:

O que eu acho melhor é que tenho o livro para ler sempre, este e outros de igual calibre: maravilha. "...que é tão só a dor do Homem — a única e mesma e sempre".

É uma honra ser lido por vc, Cinthia. E tb um privilégio ter alguns dos seus textos à mão. Sempre aprendo com eles.

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