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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Desvelamento



(Ao som de We Die Alone, de Lamb of God)


Tontura nos olhos. Pressão na fronte. Lentamente, os passos são vencidos. Segue em frente, não possui destino; não possui mais. Sofre como flecha lançada sem vontade.

Com chinelos poeirentos, arrasta pedras e galhos pela noite de sombras. O silêncio é quebrado pela fraqueza do andar. Entre a trilha e a mata, o suor da caminhada ofegante.

Sobre a pele, fiapos de pano. A brisa gelada entrando devagar. O arrepio da pele pela lembrança do sereno.

A roupa corroída não cobre a vergonha. A pele à mostra expele dor. Tingido de sangue, o vestido desfeito seca lentamente.

As flores da estampa gritam e choram. Escorrem pétalas através do tecido desmanchado. O vento dança no traje domingueiro.

Sofre a que não será mulher. Sofre a menina humilhada, segurando uma boneca sem sexo. Apenas uma menina que caminha entre a trilha e a mata. Ofegante.

Ouvindo os ruídos das sombras na estrada, tenta esquecer o pavor das presas na carne. Tenra carne de menina que atrai feras. Uma após outra, sobre ervas e papoulas, rasgando a carne da menina. A carne.
Jogada no chão. Lambida na face. Mordida na pele. Sangrada na inocência do sexo.

Cães, cobertos por feridas, saciados. Bestas, em pus, cobriram a fêmea que colhia flores. A fuga somente nos dedos entrando na terra escura.

A menina caminha sabendo a pureza perdida e a inocência pingando sobre os pés.



Homero Gomes

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Homero Gomes
(Curitiba/PR, 1978). É escritor. Autor dos trabalhos ainda inéditos Sísifo Desatento (contos) – finalista do Sesc de Literatura edição 2007 –, Jamé Vu –publicado via internet – e Anjo Exilado (poemas) – que possui versão online no site português TriploV e Germina Literatura sob o título Solidão de Caronte. Está concluindo o romance Tempo do Corpo e a novela juvenil Paralelo Um. Colaborou com Rascunho, Cult, Germina Literatura, Cronópios, Ficções, entre outros. É editor de Jamé Vu (com postagens suspensas), espaço em que não apenas divulga suas produções literárias como também a de outros literatos, entre veteranos e estreantes, edita também do blogue juvenil Paralelo Um (com postagens suspensas), onde disponibiliza matérias, curiosidades e jogos para o público juvenil; é colunista dos sites Página Cultural , desde 2010; Mundo Mundano , com sua ficção, desde 2011; e Musa Rara , com notícias literárias e do mercado editorial, desde 2012; e da revista digital Samizdat, com sua ficção, desde 2012. Contato: homero.gomes@gmail.com
todo dia 14


1 comentários:

Excelente conto sobre a trágica perda da inocência. Amei o uso da implicatura.
Muito bom, Homero Gomes.
Te convido a conhecer meu trabalho no blog: www.avessasingularidade.blogspot.com.br
Abraço
Adriane Bueno

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