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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O que é um bom livro?

O que é um bom livro? Hoje, em dois momentos distintos, deparei com essa questão: primeiro, durante a aula em um curso de idiomas, li um extrato de um texto de pensadores franceses sobre o assunto, e precisei escrever sobre ele; pouco depois, participei de um bate-papo literário que, em princípio, seria sobre os desafios da publicação e acabou tomando o rumo da qualidade da literatura.
Do que li e ouvi, e também de reflexões que já fiz hoje e em outras ocasiões sobre o assunto, a primeira conclusão a que cheguei é de que qualquer avaliação sobre um livro ser "bom" ou "ruim" é, em princípio, subjetiva, pessoal. Por mais que tenhamos lido, por mais que tenhamos estudado a literatura, será que temos, realmente, a capacidade (ou o direito) de julgar uma obra?
Claro, podemos avaliar o nível de linguagem utilizada, a correção gramatical, a verossimilhança, a existência ou não de pontas soltas, talvez a adequação a determinado público. Podemos analisar ponto de vista, voz narrativa, originalidade (mas há mesmo uma história original?), capacidade do texto de manter a atenção do leitor. Isso, entretanto, não nos habilita a afirmar, como verdade plena, que tal obra é, sim, sem possibilidade de contestação, um bom livro - e, principalmente, não nos habilita a dizer que, não, ele não é um bom livro e não merece ser lido.
O assunto é controverso, e sei que muitos, do alto de seus supostos conhecimentos do mundo da literatura, julgam-se aptos a denegrir determinados livros ou autores como indignos da mais leve atenção do leitor. Mais precisamente, como disse um editor convidado do bate-papo a que me referi acima: "muitos pensam que só o que eles próprios escrevem é bom, e o que os outros escrevem, principalmente se esses outros estão vendendo bem, não é literatura".
Isso leva a outro ponto: que literatura queremos, enquanto leitores e enquanto escritores? Aquela que fica encastelada na academia, sendo louvada como inovadora, ou aquela que é realmente lida? Lemos por prazer, porque aquela leitura é algo interessante e que pode, eventualmente, nos trazer aprendizado junto com esse deleite estético, ou simplemente porque achamos que aquele livro "deve" ser lido, porque é um clássico ou muito bem recomendado? Escrevemos para quem? Para nós mesmos? Para os críticos? Ou para os leitores? Escrevemos para o dito leitor culto, ou para as massas? E, alguém me explique, que ainda não consegui entender: por que é tão mal visto querer escrever para as massas, para o leitor comum? Somos nós tão especiais, tão diferentes assim, que não nos identificamos com a "massa"?
Não costumo ler a maioria dos best-sellers que estão por aí, mas não é por achá-los "baixa literatura": é simplesmente porque seus enredos não me atraem. É, antes de tudo, uma questão de gosto. Nem por isso vou me achar no direito de criticar quem os lê. Aliás, quantas vezes tentamos ler um livro altamente recomendado, e não conseguimos ir adiante? Atire a primeira pedra quem nunca passou por essa situação...
A leitura, creio - e isso, como todo o resto, é apenas a minha opinião - tem vários níveis, mas isso não quer dizer que um é melhor do que o outro. E, às vezes, transitamos entre esses níveis, dependendo da fase pela qual estamos passando, ou simplesmente do humor do momento. O fato de eu ler Alexandre Dumas ou Stendhal ou não me impede de, amanhã, querer ler um romance de banca ou, se me der na telha, algum best-seller erótico do momento. Sou uma péssima leitora por causa disso? Não creio.
Enfim, acredito que cada leitor deve preocupar-se em buscar aquilo que mais se encaixa no seu perfil,, encontrando, em primeiro lugar, o prazer da leitura. Ler por obrigação só mata o interesse nos livros. E quanto aos escritores, ou aspirantes a, deveriam preocupar-se em burilar seu texto, em torná-lo interessante, atrativo. Para quem se está escrevendo deveria ser a primeira pergunta antes de colocar uma história no papel. Não é uma questão de nivelar por baixo: a questão é preocuparmo-nos mais com o nosso texto do que com o dos outros. Afinal, eu ao menos ainda não ganhei o Nobel de Literatura ou outro equivalente do gênero para me julgar capacitada para distribuir julgamentos por aí...

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Maristela Scheuer Deves
Jornalista por formação e escritora por vocação. Atua como editora assistente de Variedades no jornal Pioneiro, de Caxias do Sul/RS, em cujo site também mantém o blog Palavra Escrita, voltado ao mundo dos livros. Escreve desde que consegue se lembrar, e atualmente prepara para publicação seu terceiro livro, o infantil "Os Deliciosos Biscoitos de Oma Guerta", contemplado pelo Financiarte. De sua autoria, já estão nas livrarias o romance policial "A Culpa é dos Teus Pais" e o infanto-juvenil "O Caso do Buraco".
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