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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Ortografia indigesta







Volmar Camargo Junior










Outra do Seu Ernesto. 

Esses tempos, dizem que andava doido de vontade de comer doces, a despeito das recomendações da filha, Marta, e do médico, Dr. Aristeu.

Em sua ida mensal ao supermercado, Seu Ernesto procurou na seção de enlatados a menor embalagem de doces. Encontrou uma perfeita, que, se ficasse escondida entre as caixas de remédios, não seria encontrada nem na mais cuidadosa das freqüentes “inspeções sanitárias” da filha. E, para seu inteiro deleite, pelo nome estampado no rótulo, tratava-se do doce feito de sua fruta preferida.

Marta, no mesmo dia, deu uma passada na casa paterna depois sair do trabalho. Encontrou o velho, de gatas, vomitando alguma coisa meio rosácea, meio prateada.

— Minha Nossa, pai! – disse Marta, erguendo o velho do chão, já limpando os cantos de sua boca do ancião com um lencinho.
— Ai... ai...
— O que houve, meu-deus-do-céu?
— Acho que a porcaria que eu comi tava estragada...
— Ô, paizinho... o que foi que o senhor aprontou dessa vez? Cadê? O que é que o senhor comeu?
— Ah, eu queria comer um doce! Tava louco por um docinho... aí eu comprei esse — e empurrou com o pé uma lata, meio aberta, com uma colher de café no meio de uma pasta indefinível com cheiro de peixe.
— Isso aqui não é doce, pai. É peixe enlatado! O que o senhor pensou que fosse?
— Mas tá escrito pescada aí em cima, não tá? Não tem goiabada, figada, marmelada? Achei que pescada fosse doce de pesco...








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