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terça-feira, 1 de abril de 2014

Sacramento

finalmente me encontrei com o corpo no leito dos trancafiamentos noctâmbulos. o peso da claridade esmagando a insônia. acoplamento de fúria e solidão aprofundado na respiração das mágoas pisadas. anatomia cadavérica reinando sobre o cansaço calcificado na cutânea estadia dos vergões. vias escancaradas injetando desmoronamentos. nos olhos um brilho esquecido que me deu lugar ao vão incabível da negação. estreitamente similar ao movimento calado pelo negror intrínseco. jejuei-me durante quarenta açoitadas nas desérticas asas do repouso. amanso que nunca tive na onipresença dos carinhos. o mantra entoa os ossos cansados sempre na mesma posição. agrida-me para não esquecer. gemo translações no escuso direito de ser homem. aquarela sanguínea a escorrer sob os respingos da absolvição. meio litro de cachaça e sequelas estourando a garganta. sortilégio das minhas escarificações. ela nem sabe que passo as noites endiabrando a vontade de fodê-la. nesse balcão de monstruosas confissões já deixei grafada toda a sujeira que me debruça. deitei por vezes o meu choro na angústia do porvir. quase me atrevi ressentido na esperança do encontro. não houve abertura para arrancá-la da cônscia lama imemorial. entornei chumbo pensando em chupá-la por toda a reverberação. desprendi-me das estações seguras. minha alma implorando para ser escravizada pelos caprichos melindrosos. obsediá-la com as garras do apego. marchante das misérias e acasos. é uma trombose pensar em te tocar e ficar encovilado nas tentações. epífise mordendo a massa cinzenta por alguma reação. não adianta iluminar os meus dragões. fui concebido na fossa da antítese. anseio morrer na boceta que me recusa. sarna se proliferando na língua feito praga consagrada. clamo para que a puta seja minha honraria. a excitação derramada na linfa dos desejos. sem mais dizeres prometidos na colheita das mentiras. não bastou abandonar aquela casa de velharias. sigo com os cacos perfurando os pulmões. angariado pelo pós-trauma. deixei às cinzas as marcas que nos desnudam. essa imundície que carrego é a única pedrada que me mantém fixo. talvez a ressaca seja minha irisação para um novo ciclo. não sei onde devo acordar com os miolos gritando por socorro. almejo estar em paz entre as fissuras da crueldade. nem que seja em troca do meu éter decepado. de todo o sagrado que resguardo na cloaca dos vícios. a podridão não me salva da angústia que é ensurdecer. prefiro o tormento que me tange humilhação. respirar o amanhã passou a ser uma vertigem. sonhos não zelam calmarias. o tesão consiste em amar epifanias. arregaçar o cacete no cálice da Mulher Escarlate.

[Babalon, The Great - Mitchell Nolte]

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Bruno Bossolan
Nasci em 25 de junho de 1988 e resido em Capivari, interior de SP. Sou Cronista e Redator do Jornal O Semanário. [www.osemanario.com.br] Autor dos Livros: N(ó)stálgico (Poesias, 2011 - Paco Editorial) - Barbáriderna (Poesias, 2012 - Editora Penalux), com participação também em mais de 10 antologias poéticas. Autor da Peça Teatral “Destroços do Martírio” (apresentada no Mapa Cultural de SP na cidade de Porto Feliz – 2008/2009).
todo dia 01


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