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sexta-feira, 28 de março de 2014

Alucinadamente veloz



 “O pior é a velocidade vertiginosa. Nessa vertigem,
nada frutifica nem floresce”
                                                                                                         (Ernesto Sábato)  

Alucinadamente veloz. Assim o tempo. Assim as máquinas. Assim as pessoas. Anteontem o Réveillon. Ontem o Carnaval. Daqui a pouco a Páscoa. E o dia das mães. E a copa. E a Flip. E o dia dos pais. E o dia das crianças. E as eleições. E o Natal. Eis 2014 no fim. Mas calma! Por enquanto é fim de março. As águas de março já fecharam o verão. Águas demais no Norte. Águas de menos no Sul. E um verão daqueles que não se via há tempos. Agora é outono. Daqui a pouco, inverno. Logo a primavera dará o seu recado. E de novo o verão. Outra vez, calma!! Fiquemos no outono. Difícil não ser pego pela velocidade. Difícil não se enredar nesse universo de solicitações incessantes. Tudo se rende ao imperativo da instantaneidade. É tudo pra já. O que conta é o que rola na onda do instante, no exato instante em que se rola a tela do Face, por exemplo. O que se passou há minutos atrás já não interessa. Olhos postos no agora – e no instante a vir. Olhos postos na quantidade de curtidas, de seguidores. Tá todo mundo, a toda hora, lançando fios de si nesse emaranhado sem fim da rede. E esses fios sem fim mais nos enredam que nos ligam um ao outro. É assim em todas as redes sociais. É assim no Twitter, no Instagram, e no que mais vier. E tem o Whatsapp. E tem os outros zilhões de apps que é preciso conhecer – e baixar. Onde o espaço para a lentidão? Onde o tempo para a contemplação? Nas tais redes sociais só o raso se multiplica – ou vira viral, como dizem por aí. O que quer que tenha substância, passa batido. A tela é lugar para se deslizar, não para se mergulhar. Deslizar exige superfície plana, lisa, sem qualquer obstáculo. Mergulhar no poço de um texto mais alentado? Jamais!! E assim rolamos telas e telas em busca do que fisgue nossa atenção. E só nos fisga o efêmero, o fugaz, o que traz em si a promessa do total esquecimento tão logo se cumpre o frisson de rolar a tela. Detém-se um instante, curte-se, compartilha-se, eventualmente comenta-se. E pronto. Já foi. Já era. Só se quer o agora, um eterno agora. E o agora não existe. Só existe a memória que o agora nos deixar. Correndo sempre atrás do agora, não dá tempo de o agora se fixar em nós como memória. Estamos sempre em busca do próximo agora. E agora? Agora é hora de parar. Parar de correr. É tempo de lembrar que a pressa pode levar a lugar nenhum. E relembrar que devagar se vai ao longe. Vem comigo?  


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4 comentários:

Uma reflexão necessária e um retrato fiel do que se vive hoje nos meios sociais. Muito bom !

Cinthia, o texto resultou da minha tentativa de capturar esse universo que, em alguma medida, também me captura -- e que me intriga para além de qualquer medida. Obrigado pela leitura e pelo comentário!

Obrigado, Maysa! Volte sempre!
Abs,
Tarlei

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