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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Construção de incertezas no conto de Marguerite Duras


            Em O homem sentado no corredor, conto de Marguerite Duras escrito em 1980 com tradução de Vadim Nikitin (Cosac Naify, 2007) vemos entre uma paigagem suspensa e bucólica um homem e uma mulher que se espreitam e tornam-se vistos, reconhecidos um pelo outro pelo jogo da aproximação e distanciamento. 

            Há uma tensão: o narrador nos apresenta suposições e a narrativa parte desse esquema até o climax.

            “Não se pode dizer se os seus olhos estão entreabertos ou fechados. Parece que estão descansando”. Marguerite Duras constrói ficção onde o próprio narrador ora oscila, ora reafirma-se. “Sabe que ele a olha, que ele vê tudo. Sabe isso de olhos fechados, assim como o sei eu, eu que olho. Trata-se de uma certeza”.

            Pelo jogo, textualmente o corpo da mulher passa a ser desvelado aos poucos: “Eis que de repente o corpo assume a retidão de uma imagem definitiva. (…) Diante dela, o homem que se cala”. Narrador e homem são chamados a contemplá-la: “Ouvimos que alguém caminha, ela e eu. Que ele se mexeu. Que ele saiu do corredor”. 

            Tecitura em que mulher se movimenta pelo olhar do outro.


            A narrativa se expande e o encontro entre homem e mulher se dá na medida em que Duras explora o falsear das certezas do narrador. 

           Ao final, atesta: “Eu desconheço, eu não sei nada (...)”. Uma teia movediça da linguagem – construção de incertezas para aquele que narra e em que o leitor acompanha a explosão de imagens sólidas no decorrer desse encontro.  

Fernanda Fatureto é autora do livro de poemas Intimidade Inconfessável (Editora Patuá, 2014).

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