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sexta-feira, 10 de maio de 2013

Entrevista com Mainak Dhar, o autor indiano independente que se tornou um dos mais vendidos da Amazon

Entrevista e tradução: Henry Alfred Bugalho

Mainak Dhar trabalha num escritório durante o dia e é escritor pela noite. Seu primeiro trabalho "publicado" foi uma coleção grampeada de respostas de matemática e poemas que ele vendeu para seus colegas de sétima série, que ele torrou em sorvete e quadrinhos. Mainak foi um autor best-seller na Índia com títulos publicados por grandes casas editoriais, como Penguin e Random House, sendo que um de seus romances (Herogiri) foi adaptado para o cinema. No começo de 2011, ele começou a usar a Amazon para alcançar, com seus ebooks, leitores internacionais e se tornou um dos proeminentes autores independentes do mundo, com mais de 100 mil livros vendidos no primeiro ano. Mainak é um dos autores mais vendidos de Terror na Amazon e, em março de 2013, se tornou o número 1, temporariamente ultrapassando Stephen King neste posto. Escreveu treze livros, incluindo a série "Alice no País dos Mortos".
Saiba mais sobre ele e contate-o em
mainakdhar.com 

1 - Conte-nos um pouco sobre sua carreira como escritor, Mainak. Como você começou e quais eram suas influências?

Stephen King tenha talvez sido a mais importante influência para que eu desse os primeiros passos para tornar-me um escritor. É isto que faz com que o meu marco de ultrapassá-lo momentaneamente em março de 2013, tornando-me o número 1 dentre os escritores de terror na Amazon, tão especial. Escrevo desde que eu possa me lembrar, e ainda criança eu tinha uma porção de poemas que escrevi guardada na minha gaveta. Lembro-me de ter lido uma entrevista com Stephen King, na qual ele dizia algo como que "no momento que alguém paga um centavo por sua escrita, você é um escritor profissional". Então, na sétima série, quando eu estava vivendo no Canadá, solucionei os exercícios de matemática do período seguinte e grampeei as respostas junto com meus poemas (imaginando, talvez corretamente, que ninguém pagaria somente por meus poemas), e as vendi para meus colegas. Ganhei 12,50 dólares, que rapidamente gastei em sorvete e quadrinhos. Naquele dia, voltei para casa e anunciei para minha mãe que eu tinha me tornado um escritor profissional. Infelizmente, não tenho mais aqueles poemas (nem as respostas de matemática) que iniciaram minha jornada como escritor.

2 - Você se tornou um dos autores mais vendidos da Amazon ao autopublicar o livro "Alice no País dos Mortos" (Alice in Deadland), um romance juvenil sobre uma caçadora de zumbis chamada Alice. Terror é um gênero popular na Índia, ou você tinha um público mais vasto em mente?

Terror é ainda um gênero muito incipiente na Índia, e eu não comecei a escrever neste gênero tendo especificamente os leitores indianos em mente. Minha primeira incursão no gênero foi o romance "Zumbistão" (Zombiestan). Sempre adorei ficção pós-apocalíptica, com clássicos como "A Dança da Morte" (The Stand) e "Lucifer's Hammer" entre meus livros favoritos. Um dia, comecei a pensar que tipo de mundo pós-apocalíptico eu gostaria de criar e dar vida para personagens e enredos. Como o usual, eu estava fazendo um brainstorm de uma pessoa só, e a palavra Zumbistão pipocou em minha mente. Uma coisa levou à outra e, como se diz, o resto é História. Uma vez que Zumbistão começou a ter boas críticas e leitores na Amazon, decidi explorar o gênero ainda mais, e a ideia de uma versão distópica de Alice nasceu - e isto se tornou um dos pontos de virada de minha carreira.

3 - No mercado de livro atual, alguns experts comparam o caminho da autopublicação a uma "corrida do ouro", quando autores estão tentando garantir seu quinhão antes que esta via se esgote. Como foi a experiência de autopublicar nos EUA? Você divulgou seu livro, ou o sucesso foi devido ao boca a boca? Você recomendaria a autopublicação para autores estrangeiros tentando inserir-se no mercado norte-americano?

Autopublicação, especialmente com Amazon e ebooks, pode mudar o jogo em se tratando de alcançar os leitores. Meu único alerta para qualquer escritor é que não existe uma mina de ouro pronta. Os princípios básicos da publicação continuam os mesmos: escreva o melhor livro que puder, faça uma edição profissional, faça uma ótima capa e se apresente aos leitores. Muitos escritores pensam que isto é um atalho para o sucesso; mas não há tal atalho. Auto-publicação é trabalho duro; muito mais duro que a publicação tradicional, pois, além de você ser o autor, você terá de ser o editor/empresário, gerente de marketing, etc. Certifique-se que você compreende tudo isto antes de pensar que é um atalho e mergulhar de cabeça. Eu havia sido amplamente publicado na Índia por grandes editoras como Random House e Penguin antes de começar a veicular meu catálogo de livros para o alcance de leitores internacionais na Amazon. Meus resultados iniciais foram modestos - 118 ebooks vendidos no primeiro mês, mas quando o boca a boca entrou em ação, as coisas deslancharam e, em seis meses, eu estava vendendo mais de 5 mil ebooks ao mês. Logo, comecei a escrever livros e pô-lo diretamente na Amazon, como ocorreu com Zumbistão e, depois, com a série "Alice no País dos Mortos".

4 - Como você interaje com seus leitores? E, depois de tal sucesso, como você lida com a inevitável crítica?

Há muita interação um a um. Recebo pelo menos uma centena de e-mails de leitores por mês. Como um escritor, isto é imensamente gratificante e eu trago para casa a verdadeira magia dos livros - conectar pessoas, às vezes milhares de milhas distantes, através de palavras e ideias. Eu também tenho um grupo muito ativo e maravilhoso no Facebook para o "Alice no País dos Mortos", onde eu interajo com leitores todos os dias, compartilho ideias, recebo feedback e, na verdade, crio coperativamente meu trabalho. Estes leitores se tornaram mais amigos do que somente leitores.

5 - Você escreve seus livros diretamente em inglês? Quem é o seu primeiro leitor, aquela pessoa na qual você confia e que sempre será sincera com você?

Escrevo em inglês e minha maior fonte para conselhos imparciais e meu mais precioso retorno é minha esposa, Puja.

6 - Seu sucesso na Amazon despertou a atenção de agentes ou editores americanos? Você considera a possibilidade de acomodar-se num contrato tradicional de publicação, ou preferiria a liberdade e os barrancos da auto-publicação? E a pergunta de um milhão de dólares: você consegue viver somente da escrita, ou ainda mantém seu trabalho (por enquanto)?

Eu fechei com uma grande agência (Ponta) para explorar os direitos internacionais e de tradução, e estou bastante aberto para ofertas de traduções para alcançar leitores de outros idiomas, mas, para ser honesto, a oferta de 70% de direitos autorais de auto-publicação da Amazon e o tipo de vendas que tenho significam que o contrato de publicação tradicional teria de ser tremendamente atrativo para eu pensar sobre isto. Eu ainda mantenho meu trabalho - por que não fazê-lo, se você pode? Eu floresço na multi-tarefa (normalmente, leio pelo menos dois livros ao mesmo tempo, por exemplo) e a complexidade e adrenalina de equilibrar ao mesmo tempo tudo é o que me mantém estimulado.

7 - Voltando ao gênero apocalipse zombie: até onde percebo, histórias de zumbis não são apenas sobre matar, decapitar e mutilar os mortos-vivos. Normalmente, há uma mensagem mais profunda nelas. Qual é sua visão sobre isto?

Penso que as pessoas hoje em dia estão bastante conscientes de como estamos ferrando com nosso mundo - poluição, superpopulação, ingerência econômica, e assim por diante. Como resultado, penso que as pessoas são fascinadas com o que poderia ocorrer se a sociedade, que consideramos como certa, colapsasse - daí o fascínio pela ficção distópica. Zumbis são uma manifestação disto, um inimigo aparentemente imbatível determinado a pôr um fim à civilização humana como nós a conhecemos. Eu também uso os zumbis como uma metáfora para como nós mesmos somos a maior ameaça para nosso mundo. Em "Alice no País dos Mortos" e em "Zumbistão", os zumbis (ou mordedores, como eu os chamo) são o resultado direto do que as pessoas fazem em suas buscas pelo poder.

8 - Quais são seus conselhos para um escritor iniciante? O que você aprendeu sobre o ofício e também sobre o negócio editorial?

Escrever um livro não requer criatividade somente, mas a disciplina para ver através dela. Então, se você deseja escrever, esteja pronto para comprometer-se com esta disciplina e trabalhar duro. Também você precisa ter uma casca dura e persistência para prosseguir, porque inevitavelmente enfrentará rejeição e obstáculos. Não quero dissuadi-lo, mas siga com os olhos bem abertos. Construir uma carreira literária não se trata de ter uma ideia legal e sonhar em escrever um livro. Converter isto para realiadde é trabalho duro, e você precisa fazer um esforço consciente para tornar a escrita uma parte importante de sua vida e de sua rotina.

 9 - Você está trabalhando em traduções de seus livros? Podemos esperar uma tradução para português em breve?

"Alice no País dos Mortos" foi traduzido para turco, outro romance (Line of Control) foi traduzido para francês e meus livros sobre negócios foram traduzidos para japonês e vietnamita. Tenho uma maravilhosa agência europeia (Pontas) me representando para trazer meu trabalho para leitores em outras línguas, então não tenho dúvida que atingirei leitores de outros idiomas. Sobre português, tudo dependerá dos editores locais interessados em meu trabalho.

Muito obrigado por seu tempo, Mainak, e estaremos sempre torcendo por seus sucesso.

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Original interview

Mainak Dhar is a cubicle dweller by day and author by night. His first `published' work was a stapled collection of Maths solutions and poems (he figured nobody would pay for his poems alone) he sold to his classmates in Grade 7, and spent the proceeds on ice cream and comics. Mainak was a bestselling author in India with titles published by major houses like Penguin and Random House and with one of his novels (Herogiri) being made into a major motion picture. In early 2011, he began to use Amazon to reach international readers through his ebooks and became one of the leading independent authors in the world with more than 100,000 books sold in his first year. Mainak is one of the top selling horror authors on Amazon worldwide and in March 2013, became the #1 bestselling Horror author on Amazon, momentarily unseating Stephen King. He has thirteen books to his credit including the bestselling Alice in Deadland series. Learn more about him and contact him at mainakdhar.com 

1 - Tell us a little about your writing career, Mainak. How did you start, and who were your influences?

Stephen King was perhaps the single most important influence in me taking my first step towards becoming a writer. That's what makes my milestone of momentarily overtaking him in March 2013 to become the #1 horror writer on Amazon so very special. I've been writing for as long as I remember and as a kid had a bunch of poems I had written stashed away in my cupboard. I remember reading an interview with Stephen King where he said something to the effect that the moment someone paid you a penny for your writing, you were a professional writer. So, in Class VII, when we were living in Canada, I solved the Maths textbook for the next term and stapled the solutions together with my poems (figuring, perhaps correctly, that nobody would pay me for my poems alone), and sold them to my classmates. I earned $12.50, which was promptly spent on ice cream and comics. That day, I came home and announced to my Mother that I had become a professional writer. Unfortunately, I have no records of those poems (or those maths solutions) that started my journey as a writer

2 - You've became an Amazon best-seller author by self-publishing the book "Alice in Deadland", a YA novel about a zombie hunter called Alice. Is horror a popular genre in India, or did you have a broader audience in mind? 

Horror is still a very nascent genre in India, and I didn't start writing in the genre with Indian readers specifically in mind. My first entry in the genre was my novel Zombiestan. I've always loved post-apocalyptic fiction with classics like The Stand and Lucifer's Hammer being among my favorite books. One day, I started thinking of what kind of post apocalyptic world I'd like to create and give life to characters and stories in. As usual, I was having a one man brainstorm, and the word Zombiestan popped into my head. One thing led to another and as they say, the rest is history. Once Zombiestan started getting good reviews and readership on Amazon, I decided to explore the genre further, and the idea of a dytopian version of Alice was born- and that has become one of the turning points of my writing career.

3 - In today's book market, some experts are comparing the self-publishing route to "a gold rush", when authors are trying to garantee their lot before this venue dries up. How was the experience of self-publishing in the US? Did you promote your book, or its success was due to word-of-mouth? Would you recomend self-publishing to foreign writers trying to break into the American market? 

Self publishing, especially with Amazon and ebooks can be a game changer in reaching readers. My only word of caution to any writer is that there is no real ready-made gold mine. The basics of publishing remain the same- write the best book you can, get it professionally edited, get a great cover and then present yourself to readers. Many writers think it's a short cut to success- but there is no such short cut. Self publishing is actually hard work- much harder than traditional publishing, since in addition to being an author, you have to be a publisher/entrepreneur- managing marketing, editing etc. Make sure you understand all that before you think it's a short cut and take the plunge. I had been widely published in India  by major publishers like Random House and Penguin before I started putting up my backlist to reach international readers through Amazon. My initial results were modest- 118 ebooks sold in my first month, but then as word of mouth picked up, things took off and in six months, I was selling more than 5000 ebooks a month. Soon, I started writing books and putting them up directly on Amazon, as happened with Zombiestan and then the Alice in Deadland series.

4 - How do you interact with your readers? And, after such a success, how do you cope with the inevitable criticism? 

There is a lot of one on one interaction- I get at least a hundred reader emails a month. As a writer, that is immensely gratifying and drives home the real magic of books- connecting people, sometimes thousands of miles apart, through words and ideas. I also have a very active and wonderful Facebook group for Alice in Deadland where I interact with readers every day, share ideas, get feedback and in fact, co-create my work. Those readers have become more friends than just readers.

5 - Do you write your books directly in English? And who is your beta reader, that person of your trust who will always be sincere to you?
I write in English and my biggest source of impartial advice and my most precious sounding board is my wife, Puja.

6 - Did your success in Amazon draw attention of US agents and publishers? Do you consider the possibility of settling for a traditional book contract, or would you prefer the freedom and the pitfalls of self-publishing? And the one million dollar question: can you live solely on writing, or are you still keeping your day job (for now)? 

I have signed up with a major agency (Pontas) to explore language rights and international rights, and I am very open to translation deals to reach readers in other languages but to be honest the financials of self-publishing with the 70% royalty Amazon offers and the kind of sales I have mean that I would need to get a bloody attractive traditional book contract to even consider it. I do still maintain my day job- why not do it all if you can? I thrive on multi-tasking (normally, I read at least two books at a time for example) and that complexity and adrenaline rush of juggling things is what keeps me stimulated.

7 - Back to the apocalipse zombie genre: as far as I understand, zombies stories aren't just about killing, beheading and chopping the undead. Usually, there's a deeper message to it. What's your view about it? 

I think people are nowadays acutely aware of how we are screwing up our world- with pollution, overpopulation, economic mismanagement and so on. As a result, I think people are fascinated with what may happen if society as we take for granted breaks down- hence the fascination with dystopian fiction. Zombies are a manifestation of that, a seemingly unbeatable foe determined to end human civilization as we know it. I also use zombies as a metaphor for how we ourselves are the biggest threat to our world. In Alice in Deadland and Zombeistan, the zombies (or Biters, as I call them) are the direct result of what people do in their quest for power.

8 - What are your advices to a novice writer? What have you learned about the craft and also about the publishing business? 

Writing a book requires not just creativity, but the discipline to see it through. So if you want to write, be ready to commit to that discipline and hard work. Also, you need a very thick skin and doggedness to keep going because you will inevitably face rejection and setbacks. I don't mean to dissuade you, but just go in with eyes wide open. Building a writing career is not just about having a cool idea and dreaming of writing a book. Converting that to reality is hard work, and you need to make a conscious effort to make writing an important part of your life and routine

9 - Are you working in translating your books? Can we expect a Portuguese translation soon? 

Alice in Deadland has been translated into Turkish, another novel (Line of Control) was translated into French and my business books have been translated into Japanese and Vietnamese. I have a wonderful European agency (Pontas) representing me on bringing it to readers in other languages, so I have no doubt it will reach readers in other languages. As for Portuguese, it all depends on local publishers being interested in my work.

Thank you so much for your time, Mainak, and we are always cheering for your success. 

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1 comentários:

Ótima postagem, Henry. Foram citados pontos importantes, principalmente, para quem acha que escrever é só ter "uma grande ideia" e tudo está resolvido... Ai, ai... No último mês, já recebi dois nãos de editoras, mas, seguimos caminhando, sem desistir. No futuro, talvez, vou fazer uns testes com esse esquema de autopublicação da Amazon. Parabéns pela entrevista e tradução! Também fiquei curioso para ler os textos de Mainak. É esperar sair em português...

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