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quinta-feira, 1 de maio de 2014

Vênus-Hemorrágica

I

proponho-te
devassar o além
tencionado sob a fundição
dos nossos sexos
eriçados

rosá-la
no explícito orgasmo
do irrefutável sacrilégio
apiedando-te de quatro

- sacrificar o fôlego
no desterro dos vaivéns -

desenfreio-me à entrega
do análgico gemicar
na homogeneização
das delícias

- escopo arejado do delírio -

comungá-la abrigo
na impossibilidade esboçada
da catártica combustão

II

transpiro
em cerimoniais vigílias
o acético vandalirismo
para incendiar
a congênita essência
nas labaredas do seu grelo

- enluaro-te o bojo
desenraizando gorjeios -

pelas intermitentes renovações
de cada solilóquio
mantenho a ideia fixa
de que há mais
de você em mim
do que qualquer outro
esplendor cósmico

- decifrá-la em melodia -

o bálsamo substancial
perfaz-te a lenda
encerrada nos adornos
dos anjos caídos

decruo sua boceta
na serena permanência
da sacra depravação

- reverencio-te o riso -

pândego por subjetivá-la
em néctar pagão
endiabro a onírica trepada
no abundante estímulo
indecoroso

roço o caralho
na via indômita
das suas fixações

III

- ardência inaclimável -

desponto no seu barulho
feito um Sátiro aturdido
resvalando pelas curvas
a avinagrada transpiração

desmembro-te a pose
no agudo abocanhamento
em contínuo alvoroço
num mantra circunstante

- libação às suas meiguices -

do enflorado arrebol
nas fibras cardíacas
entalho-me íncubo
até que a submissão
seja uma dádiva pelejada

deparo-me
com o fértil regalo
orvalhando os sentidos

envolvo-te
na migratória cornucópia
dentro dos inebriados
instantes deflagrados
em meu sigilo

- goto hemático -

jorrando o sêmen
da solicitude impalpável
violento-te o pudor
antes mefítico pelo desarrimo

- utopia esganiçada -

carrego-te nas asas
mendigando uma cruz
que abdique o antro
pelo fastigioso voejar

IV

persigo sua inquietação
de Afrodite remendada
contorcendo-me
para lhe arrancar a baba
dos delicados lábios

com o tesão hermético
de sádicos arrojos
lavra-me o falo
apetecendo tragar o íntimo

submerjo nos seus gametas
pela adoração ao santuário
onde se prostram incabíveis
minhas vulcânicas ferroadas

ofereço ao espírito
a facínora manha
que é fiel à pureza
em receber o desgarro

- incorporo Pã -

ceifo os peitos
de Ninfa infatigável
com a canalhice amolada
nos célebres pecados

desfiro o apego
com a impudica língua
lambuzando-te
a fonte do recato

derramo sobre ti
o indulgente rumorejo
da confortante saliva
que arremeda
milagres crepusculares

deliciando-te no ritual
de frenética repetição
embriago-me na maciez
do jardim escancarado

- esfomeado me assevero
antecipando o bote
na lúbrica veleidade -

desabrocho-te inundação
na conduta polimórfica
de bruxo-caipira-errante

- Logos implodido
em enfurecida incisão -

vergo-te
num brando murmúrio
para cravar no sacrário
o tácito batismo

a frutífera nudez
escorraçada do paraíso
cerca-nos em ternura

unifica-nos
na ambígua arrebentação
de entrega prolixa

- ameno sortilégio -

fluo no seu ventre
infinitando-a
em cerúleo arrebate

- vontade em deleite
firmada pela completude -

na dicotomia do regaço
a tecedura das preces
em incólume inerência
troveja-nos em zelo

- Lux et Nox -

V

- arbítrio esquizofrênico -

incito o anoitecer
nas paragens epidérmicas
entoando seu nome

sorvo
devorá-la em devoção
à animalesca reminiscência

cercam-nos
os tangíveis espantos
vociferando imantações
no fulgor da trepada
em grácil acuidade

a proximidade corrosiva
ascende-nos
um mitigativo beijo
anárquico

- relampeia o júbilo
no colapso diagnosticado -

os cuidados
da minha heresia
revelam o alvorecer
no áureo abrigo
onde te nino
em profundíssimo apego

martirizo te foder
sobre a paradisíaca máscara
de encarniçada cadela

VI

- pandêmico tônus -

subsidiando-me
influxo perturbado
rogo-te o verdejante
alento argiloso

vocifero no obsceno
pedestal das adorações

- pesteio-te súplicas -

coreografe as alucinações
pelos inconsequentes prolapsos
da minha via-crúcis

expila ao fôlego
as imoralidades contritas
na galáxia acarinhada

- não me basto
nas colorações do brio -

inquieta-me o átimo
na síntese
do que permeia
dentando a fluidez

- ebulição figurativa -

em indulgência cristalina
crepito os desvarios
acometendo-me
salutares tormentos

debulho-te precipício
feito uma estrela pungente
confinada na polpa

- avigorada fonte
de escândalos -

concedo-me o tesão
de surrá-la em fulgência
pelos ecos da luxúria

VII

sanguifico ao meu inferno
a compulsão
de perpetuamente
enflorá-la em malícias

sandalino
é o perfume
que te cora
na incoercível inocência

escarnifico no seu riso
os sargaços de Perséfone
por ser um lunático
estatelado

em ti
ébrio imprudente
apeteço ungir
o diáfano tumulto

untá-la o dorso
com o gozo exaltado
da entrega secular
nas rijas incursões

sobre o lancinante
protoplasma
exasperar nas contraturas
dos trejeitos

vadiar em convulsões
pelas lascivas armadilhas
duma hipertermia consentida

- sôfrega tarântula -

nos melindres da boemia
arreganhar a sua bunda
em graciosa perversão

vará-la
a monástica sanha
em hipnóticos
encruamentos

- bicho indócil -

extinguir-me
nas suas presas
até nunca mais
ter a vida revelada
na vivissecção seráfica

- atesta a liberdade
do rútilo magnetismo
que dantescamente mescla
a nossa transitoriedade
primaveril -

nossas coruscas
minuciam os amparos
de um inextinguível feitiço. 


[Cristóbal Escanilla]

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Bruno Bossolan
Nasci em 25 de junho de 1988 e resido em Capivari, interior de SP. Sou Cronista e Redator do Jornal O Semanário. [www.osemanario.com.br] Autor dos Livros: N(ó)stálgico (Poesias, 2011 - Paco Editorial) - Barbáriderna (Poesias, 2012 - Editora Penalux), com participação também em mais de 10 antologias poéticas. Autor da Peça Teatral “Destroços do Martírio” (apresentada no Mapa Cultural de SP na cidade de Porto Feliz – 2008/2009).
todo dia 01


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