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quarta-feira, 8 de julho de 2009

Laboratório Poético: desespero e pássaros carniceiros

Volmar Camargo Junior


Esquecimento

(revisitado)


i.

ecoa em cada quadro dessa galeria

a justeza por que caminho,

e a aspereza do alheio

as mãos que não trazem calos

os impossíveis desapegos

um panorama do que não possuo

a perfídia do leito

cada hora perdida

cada fio de cabelo

os princípios e os fins

as cãibras, o suor

o cheiro de noite e os sonhos

a tortura, a morte, a dor,

o rancor e a solidão

o que de mim não se enamora

sussurra uma voz com cheiro velho

“ouço estrelas”, sabe-me o destino todo

fujo



ii.

persegue-me insistente o eco

que ecoa e ecoa e ecoa

nesse templo vazio e oco

buscam-me mortas

as coisas, mortas as horas,

as letras, mortas

o nunca, o nada, o pó

de uma rua velha, numa casa velha,

num mundo invisível e velho

ainda desperto ante o corredor

áspero e poeirento

sinto a frialdade do seu hálito

em cada quadro dessa galeria

ecoam o velho e o sono,

ecoam o verbo e o verso

vencido, desisto da fuga

devora-me uma fome urgente que não tem nome

sou engolido pelo torpor do esquecimento



O Cadáver



abandonadas
sobras da caçada
às moscas, mais nada

(e se delas esqueceu-se Deus?

nem os vermes as reconhecem)

olhou-as, pois, o urubu
uma por uma, inútil
sentiu-se nu, e fugiu




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