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domingo, 1 de dezembro de 2013

Você nem imagina

Você que me vê
Distante em
Caráter singular,

Não imagina as
Tantas deformidades que
Carrego por debaixo
Do rosto
Mascarado,

Não imagina que
Disfarço muito
Bem quando tento
Sorrir em um grupo
De palhaços,

Não imagina o
Obtuso rasgo
Do tormento que
Me arrebenta
Me torce
Me espanca
Me tira o sono
E me joga contra a parede
Dos estigmas,

Não imagina que o
Instinto é o meu espírito
E o medo sempre consta
Nas decisões imprecisas,

Não imagina que
Estou sujo e escalpado
E ninguém se compromete
Em limpar o meu defunto
Com receio de se contaminar,

Não imagina
Que minhas mãos
São violentamente delicadas
E ferem a escrita em
Busca do conforto
Passageiro,

Não imagina que arregaço
Estripo
Estrangulo
Cada rosa que tenta
Desabrochar no meu jardim
De lesmas
Corvos e insetos da putrefação,

Não imagina que
De dia sou couraça
E à noite
Vândalo linguístico
Nos prazeres mórbidos
Dos paralíticos intelectuais,

Não imagina o quanto
Já fui traído por
Criar convicções onde
Existia apenas a
Saliência do vazio,

Não imagina o solo
Frágil e arranhado
Por onde me equilibro
Onde me arrasto
Onde lustro com
A cara faminta
Sendo que era apenas
Pra cuspir com cuidado
E pisar devagar,

Não imagina a
Origem ou a falta
Monstruosa de covardia
Que busquei
Quando pensei em
Desistir da vida,

Não imagina as intraduzíveis
Intransgressíveis
Incompreensíveis
Atitudes imaturas
De quando chorei
No banheiro tentando
Tirar o encardido
Agonizante do rosto,

Não imagina que a minha
Sentença é a liberdade
E fico no compasso da
Injustiça que cometo
Quando tento me igualar
Aos mudos
Incapazes de sangrarem
Quietos,

Você me olha tão
Distante que não sente
O arrepio do meu frio
Cardiovascular,

Você nem imagina
O esforço que faço
Pra te dar um
Suspiro-abraço
No seu pensamento
Distante.

[Zack Ahern]

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Bruno Bossolan
Nasci em 25 de junho de 1988 e resido em Capivari, interior de SP. Sou Cronista e Redator do Jornal O Semanário. [www.osemanario.com.br] Autor dos Livros: N(ó)stálgico (Poesias, 2011 - Paco Editorial) - Barbáriderna (Poesias, 2012 - Editora Penalux), com participação também em mais de 10 antologias poéticas. Autor da Peça Teatral “Destroços do Martírio” (apresentada no Mapa Cultural de SP na cidade de Porto Feliz – 2008/2009).
todo dia 01


1 comentários:

Intenso. Ríspido. Verdadeiro?: fático. Sua poesia, caro Bruno, demonstra o indemonstrável e às vezes também defende o indefensável de maneira intensa e realística. Demonstra o veneno destilado nessa vida cheia de levianos papeis. Há momentos em que a lira assusta, angustiadamente, angustura direção a um precipício; mas, ora!, mente quem nunca se assustou na/com a vida. Há já outros em que a lira se redime nesse esforço do "suspiro-abraço" dado ainda que na indiferença. Gostei, cara, muito.

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