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sexta-feira, 1 de maio de 2015

Memento Mori

manifestação constante dos coágulos não estourados. ínfima alucinação banhada em progênie fresca. ruminações rangidas na medula espinhal. sustentáculo do elixir vital. as hesitantes mãos formigam. o peso do mundo tomba sobre a nuca. sintonia coroliforme. ativação dos vinte e dois caminhos cabalísticos. árvore dual que conhece a si mesma. sabedoria própria da existência aterrada. há um abismo de transmutações graduais para se atingir. a pureza transcreve a criação em intentos. ascender uma faísca a mais do que aquele que me ensina. arrepios da insistência nos manuscritos. pronúncias violentas são filtradas pela tenuíssima glândula pineal. manuseio cada palavra com o cuidado materno de parir estrelas. enxerto de estéreis retóricas no epinício inartificioso. fluxo contínuo de informações. desapego-me do crástino. reverencio a inebriada vastidão florescente. o pão da caridade me é ofertado. represento as cintilações que afetam os sentidos por meio dos pensamentos. elas se obram dentro de cada espaço onde quer que granem. então o mito se finca cetinoso. o rebento é tão antigo que me reprimiu numa devastação inenarrável. a beleza parece não ter me presenteado com seus moldes aceitáveis. levezas e puríssimos cantos me foram negados antes de ser amamentado. sacrifico-me a cada instante procurando fugir para as consternações. enalteço a convivência do tato com o delírio. frágil é o meu dramático modo de rasgar os olhos com as unhas encardidas do desprezo. criei dentro de um mundo outro mundo de anomalias convulsivas. sei que na palavra sou mais um decreto fractal. na verdade escrevo porque preciso desse deus-movimento que não cessa. dessa minúscula centelha que se ribomba em micro-eco. domador das incertezas espalhafatosas antes do regresso na avidez desconfortante. do macro-afélio cabe a ele revelar-se na hora em que achar conveniente. não me espero propício para carregá-lo nessa jornada. tenho-o entre os dedos onde o tempo se perde incauto. uma camaradagem de impulsionar-me pelas frestas que reluzem pouquíssimas chances. tentar-me ao seguir. povoando partículas prerrogativas ao desvinculo animal. gênese do pluricelular. transmito incandescências ao surtir efeito. destino meu ofício. prazer dos banimentos contemplativos. engolir caminhos. morrerei pela ambição de ser mais do que posso. não me consolo na penumbra como um bom açoitado o faz. abraço o negrume e me faço da mesma matéria. não me concretizo na cicatriz antes que ela sangre o que deveria ter expurgado. é errado não fazer parte de alguma coisa morta e descabida. o meu querer dana o louvor. espalho cartazes dizendo que a verdade não doerá depois da primeira incisão. fui domado pelo cheiro do verbo que desmembra manhãs sarnentas na neblina do descaso. o líder religioso do último sinal para calar o rebanho. lambo a doce ferida que salienta-se reinar no fim. crava em minhas costas a predição da colheita. mas tudo isso é uma desculpa psicoplasmática recorrente do meu medo em ser sincero. cerimônia em meio ao nada para restabelecer a derradeira calmaria. escrevo numa verdade de arrogar todos os deuses. amo o corvo de olhos lunares que me ensinou a debulhar as ventanias da eternidade.

[Adam Tan]

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Bruno Bossolan
Nasci em 25 de junho de 1988 e resido em Capivari, interior de SP. Sou Cronista e Redator do Jornal O Semanário. [www.osemanario.com.br] Autor dos Livros: N(ó)stálgico (Poesias, 2011 - Paco Editorial) - Barbáriderna (Poesias, 2012 - Editora Penalux), com participação também em mais de 10 antologias poéticas. Autor da Peça Teatral “Destroços do Martírio” (apresentada no Mapa Cultural de SP na cidade de Porto Feliz – 2008/2009).
todo dia 01


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