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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

CRÔNICAS LONDRINAS – PARTE III

HO(L)ME(S)

Confesso que, apesar de toda a fama do detetive de Baker Street, jamais havia lido um dos livros de Conan Doyle. Conhecia, sim, algumas histórias – trechos de contos, mais precisamente –, além de haver assistido a dezenas de filmes e séries televisivas, baseados nas aventuras da dupla Sherlock e Watson. Mas nada além desse elementar conhecimento, cora-me a face ao dizer.

Sendo assim, não foi com o deslumbramento próprio de um fã que entrei naquela enorme fila, frente à famosa casa, na tarde de 18 de Setembro de 2013. Não: minha curiosidade foi despertada mais por influência de minha esposa – essa, sim, uma leitora constante (até estudiosa, diria) das obras do escritor escocês.

Pois bem, voltando à narrativa, lá estava eu, à porta de Sherlock, enquanto Londres preparava-se para mais um crepúsculo (sem trocadilhos com as atuais tendências do mercado editorial). Um rapaz, vestido de policial, chamava grupos de dez pessoas a cada meia hora para adentrar a residência. Quando chegou minha vez, subi as escadas, agora mais curioso para conhecer outros detalhes a respeito do detetive mais famoso da Literatura.

Na sala que reproduz o local em que ele e o fiel escudeiro, Watson, costumam discutir sobre os casos mais intrincados, três indianos (reconheci-os pelos sotaques em Inglês) disputavam entre si para tirarem fotos com os famosos chapéu de caçador e o cachimbo, marcas registradas do detetive. Por outro lado, o chapéu-coco de Watson parecia despertar pouco interesse entre os visitantes. Vendo-o, portanto, abandonado – e sabendo que faria mais o meu estilo “gordinho e cético” –, não tive dúvidas: sentei-me em uma das poltronas, frente à lareira, e pedi a uma nada entusiasmada coreana que tirasse uma foto deste envergonhado Watson. Foto essa que foi parar nas redes sociais: um pormenor que Sir Sherlock provavelmente classificaria como “não merecedor de seu tempo”. Mas enfim...

Em seguida, dirigi-me ao setor da casa que mais me chamou atenção: o das estátuas de cera representando assassinos e assassinados. E estava tranquilo, inebriando-me com os produtos químicos que lá encontrara, quando, de repente, uma das estátuas vira-se para mim e comenta: parecem de verdade, não é mesmo? Tomei um susto, claro, mas logo me recuperei, dizendo: “Indeed.” (No bom Português: “De fato.”). E saí da sala, às pressas, em busca de um lugar mais confortável, digamos, a tumba de Conan Doyle...

E foi isso: a fama do personagem, concluí, era mesmo maior que a casa de Baker Street. Mas não que eu tenha me decepcionado. De forma alguma. Tanto que, na loja anexa à residência, não resisti e comprei dois belíssimos exemplares da obra conan-doyleana, a saber: “As Memórias de Sherlock Holmes”, para presentear a minha esposa, e “As Aventuras de Sherlock Holmes”, para presentear-me.

Assim, de volta ao Japão, iniciei a leitura. Agora, mais familiarizado com o detetive, que, tenho certeza, gostou de observar novamente a um desconfiado Watson em visita à casa de Baker Street.

Na próxima, prometo, meu caro Sherlock, chegarei a tempo para o chá das cinco...


***

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Edweine Loureiro
Nasceu em Manaus em 20/09/1975. É advogado, professor de Literatura e Idiomas, e reside no Japão desde 2001. Em 2005, obteve o Mestrado em Política Internacional pela Universidade de Osaka (Japão). Premiado em diversos concursos literários, é autor dos livros: Sonhador Sim Senhor! (Ed. Litteris, 2000), Clandestinos [e outras crônicas] (Clube de Autores, 2011) e Em Curto Espaço (Ed. Multifoco, Selo 3x4, 2012). É membro-correspondente da Academia Cabista de Letras, Artes e Ciências (RJ) e da Academia de Letras de Nordestina (BA).
todo dia 24


5 comentários:

Muito boa esta crônica. Além de ter uma Sherlockeano, muito me agradou o gosto por Watson que poucos valorizam, embora Sherlock na realidade nunca tenha desprezado o seu caro assistência, apesar de alguns acharem que sim.
Parabéns.

Obrigado, Adriane. Realmente: esse toque de watson era algo que eu desejava com esta cronica. Obrigado pelo comentario, querida, e um Feliz Natal! Abracos do Japao.

Ah, que pena que você voltou para o Japão! Esperava muitas crônicas ainda sobre Londres. Adoro seu jeito de escrever. Parabéns, Edweine!

Me senti em Londres por alguns momentos, certo de que a qualquer instante iria cruzar com um certo detetive e seu assistente. Despertou em mim o desejo de ler Doyle, o que (tb confesso, corado de vergonha) jamais fiz. Grande abraço e um feliz natal, pra vc e seus familiares, nobre amigo!

Obrigado, amigos Cecilia e Edelson, pelos lindos comentarios. O mundo de Conan Doyle e realmente fascinante. Um grande abraco literario, amigos, e um Feliz Natal! Edweine

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