HO(L)ME(S)
Confesso que, apesar de toda a fama do detetive de Baker Street, jamais havia lido um dos livros de Conan Doyle. Conhecia, sim, algumas histórias – trechos de contos, mais precisamente –, além de haver assistido a dezenas de filmes e séries televisivas, baseados nas aventuras da dupla Sherlock e Watson. Mas nada além desse elementar conhecimento, cora-me a face ao dizer.
Sendo assim, não foi com o deslumbramento próprio de um fã que entrei naquela enorme fila, frente à famosa casa, na tarde de 18 de Setembro de 2013. Não: minha curiosidade foi despertada mais por influência de minha esposa – essa, sim, uma leitora constante (até estudiosa, diria) das obras do escritor escocês.
Pois bem, voltando à narrativa, lá estava eu, à porta de Sherlock, enquanto Londres preparava-se para mais um crepúsculo (sem trocadilhos com as atuais tendências do mercado editorial). Um rapaz, vestido de policial, chamava grupos de dez pessoas a cada meia hora para adentrar a residência. Quando chegou minha vez, subi as escadas, agora mais curioso para conhecer outros detalhes a respeito do detetive mais famoso da Literatura.
Na sala que reproduz o local em que ele e o fiel escudeiro, Watson, costumam discutir sobre os casos mais intrincados, três indianos (reconheci-os pelos sotaques em Inglês) disputavam entre si para tirarem fotos com os famosos chapéu de caçador e o cachimbo, marcas registradas do detetive. Por outro lado, o chapéu-coco de Watson parecia despertar pouco interesse entre os visitantes. Vendo-o, portanto, abandonado – e sabendo que faria mais o meu estilo “gordinho e cético” –, não tive dúvidas: sentei-me em uma das poltronas, frente à lareira, e pedi a uma nada entusiasmada coreana que tirasse uma foto deste envergonhado Watson. Foto essa que foi parar nas redes sociais: um pormenor que Sir Sherlock provavelmente classificaria como “não merecedor de seu tempo”. Mas enfim...
Em seguida, dirigi-me ao setor da casa que mais me chamou atenção: o das estátuas de cera representando assassinos e assassinados. E estava tranquilo, inebriando-me com os produtos químicos que lá encontrara, quando, de repente, uma das estátuas vira-se para mim e comenta: parecem de verdade, não é mesmo? Tomei um susto, claro, mas logo me recuperei, dizendo: “Indeed.” (No bom Português: “De fato.”). E saí da sala, às pressas, em busca de um lugar mais confortável, digamos, a tumba de Conan Doyle...
E foi isso: a fama do personagem, concluí, era mesmo maior que a casa de Baker Street. Mas não que eu tenha me decepcionado. De forma alguma. Tanto que, na loja anexa à residência, não resisti e comprei dois belíssimos exemplares da obra conan-doyleana, a saber: “As Memórias de Sherlock Holmes”, para presentear a minha esposa, e “As Aventuras de Sherlock Holmes”, para presentear-me.
Assim, de volta ao Japão, iniciei a leitura. Agora, mais familiarizado com o detetive, que, tenho certeza, gostou de observar novamente a um desconfiado Watson em visita à casa de Baker Street.
Na próxima, prometo, meu caro Sherlock, chegarei a tempo para o chá das cinco...
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5 comentários:
Muito boa esta crônica. Além de ter uma Sherlockeano, muito me agradou o gosto por Watson que poucos valorizam, embora Sherlock na realidade nunca tenha desprezado o seu caro assistência, apesar de alguns acharem que sim.
Parabéns.
Obrigado, Adriane. Realmente: esse toque de watson era algo que eu desejava com esta cronica. Obrigado pelo comentario, querida, e um Feliz Natal! Abracos do Japao.
Ah, que pena que você voltou para o Japão! Esperava muitas crônicas ainda sobre Londres. Adoro seu jeito de escrever. Parabéns, Edweine!
Me senti em Londres por alguns momentos, certo de que a qualquer instante iria cruzar com um certo detetive e seu assistente. Despertou em mim o desejo de ler Doyle, o que (tb confesso, corado de vergonha) jamais fiz. Grande abraço e um feliz natal, pra vc e seus familiares, nobre amigo!
Obrigado, amigos Cecilia e Edelson, pelos lindos comentarios. O mundo de Conan Doyle e realmente fascinante. Um grande abraco literario, amigos, e um Feliz Natal! Edweine
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