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sábado, 6 de abril de 2013

Eu mãe?!

Não muito tempo atrás, passei pelo susto mais diferente de minha vida até então: meu ciclo extremamente atrasado. Semanas, vá lá, mas quase dois meses? Assim que informei o atraso, a correria começou. Namorado vagando de um lado ao outro arrancando os cabelos, mas ao mesmo tempo prometendo todo o amor do mundo para a suposta criança. Mãe, sempre ela, com seus "calma, filha, para tudo dá-se um jeito". Eu? Não tive muito tempo para tempestades, corri para o médico pedir exame de sangue e corri para acudir o namorado. Quando fiquei sabendo da demora para sair o resultado, exclamei um "Porra! Até lá já tive o bebê", SUS é uma bosta mesmo. A solução, no fim das contas, foi gastar o dinheiro que eu não tenho no melhor exame caseiro oferecido pela mocinha da farmácia. Cheguei em casa, passei como um raio no meio de todo mundo e fui para o banheiro. Fiz o exame. Namorado no telefone parindo todos os cabelos brancos a que tem direito e eu lá, pacata.

Normalmente, em situações de tensão, procuro a sensatez. Essa porcaria é ausente em 99% da minha vida, mas não nega abrigo quando estou prestes a enfiar o pé na jaca. Sempre gostei de perguntar para minha mãe sobre a gravidez dela, sempre tentei entender o que faz uma mulher querer tanto um filho. Essa resposta eu nunca encontrei. Talvez nasci sem esse instinto, mas minha mãe e a calma dela me garantem que um dia vou entender. Me imaginei, então, sendo mãe. Bebê no colo e tudo. Fraldas, chupetas, modificações corporais, hormonais, matrimoniais e até modificações cristãs. Transformar esse marasmo em completa dedicação pareceu muito contraditório ao que costumo ser. Dizem que ser mãe é ser outra pessoa, talvez seja isso mesmo. Talvez, ser mãe seja ser todas as pessoas. Enquanto eu esperava, sentada sozinha em meu quarto com o telefone em mãos, pelo resultado negativo ou positivo, pensei que ser como minha mãe foi e é para mim só poderia me engrandecer como pessoa.

Fazer das tripas, coração. Dar uma de deusa hindu multiplicando os braços. Ser poeta todo dia. Lírica em canções de ninar. Sacrificar... não, se doar voluntariamente. Esquentar o feijão separado do jantar porque a filha não gosta do resultado do microondas. Fazer bolo de aniversário. Para um montão de crianças! Conferir a febre com a testa enrugada. Dar beijinho nas bochechas, "hum, tá quente". Ter a testa lisinha pela última vez assim que se perceber mãe. Não dormir como anjinho nunca mais. Madrugar. Se emocionar com os passinhos indo pelo corredor e a mãozinha segurando a mão da professora. "Nem olhou para trás". Brigar e ter a paciência que só a intimidade de quem já carregou a pessoa do lado de dentro tem. Escolher o certo, mesmo que o certo seja errado, mas sempre será o melhor. Oferecer companhia. Oferecer um copo de suco. Oferecer a liberdade de escolha.

Quando os minutos se passaram e havia uma única fitinha aparecendo para mim, eu já não sabia mais se estava feliz, aliviada ou decepcionada. Quando a médica abriu o exame e me disse com um sorriso, "negativo!", eu não compartilhei o sorriso. Foi um susto, sim. Um susto branco. O primeiro dos sustos de ser mãe. Então, compreendi o que muitas só compreendem quando dão netos aos pais, mãe não é palavra, pessoa, substantivo, matéria nem título familiar. Mãe é a minha mãe. O centro insubstituível do universo. A pessoa que muitas vezes encontro ao me olhar para o espelho. A razão. Por isso, se me pego boba com um bebê alheio, se me imagino com o meu, eu sorrio e sei: Sim, eu mãe.

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4 comentários:

Belíssimo texto, Del. Tô até com lágrimas nos olhos. Eu, mãe - infelizmente não vai acontecer.

Ler os escritos da Del sempre é algo único. A moça tem talento.
Não me imagino mãe - até porque sou estéril, então deixemos isso de lado - mas sei que tenho um baita instinto maternal e não teria dificuldades em me perceber uma caso fosse necessário.
Texto querido esse. <3

Amei esse texto. Tão honesto. Tão de verdade. Eu, mãe só aconteceu depois de três tratamentos e dois médicos que me declararam estéril. E dura até hoje, 23 anos depois que nasceu minha filhote linda. É bem isso aí. Não é sacrifício nada! A gente resolve tudo com "um sopro e um beijo" como dizia a minha mãe. Se for hora e na hora, você decide. Mas se for, vai ser bom: você, mãe.

Valeu a pena o "susto", por proporcionar esta aguda reflexão sobre o ser mãe, intuída do que tem sido ser a sua mãe e, tomando disso consciência, valorizando-a.

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