“As convicções são inimigas da
verdade mais perigosas que a mentira.”
(Nietzsche, Humano,
Demasiado Humano)
A menina
Ela estava deitada entre ramos de hortelã. Sua pele estava úmida e
brilhava à luz da lua cheia e avermelhada.
Pálida, com as pernas semiabertas, insinuava a cor rósea de seu sexo.
Seus mamilos intumescidos, de mesma cor, sangravam levemente – fruto da paixão.
Mas seus lábios possuíam uma cor cinza.
Os olhos vermelhos e um fino corte longilíneo no pescoço sinalizavam a
maneira como foi morta.
No relatório do caso, foram citados os objetos encontrados: uniforme
escolar e o arame usado no sufocamento.
O laudo informou que no anelar esquerdo uma aliança foi desenhada com
instrumento cortante – nela, a única indicação do assassino era a letra “P”
escarificada. Informava, também, que foram encontradas, nos mamilos, marcas de
arcada dentária.
A morta era minha aluna e eu a amava. Nutria por ela uma obsessão
incandescente, apaixonada.
O menino
Ele estava deitado entre ramos de hortelã. Sua pele estava úmida e
brilhava devido ao inchaço.
Seu corpo exalava um odor asqueroso e, de seu sexo inchado, a glande foi
arrancada – fruto da paixão.
No relatório do caso, foram citados os objetos encontrados: agasalho de
balé e o arame usado no sufocamento.
A glande extirpada não foi localizada.
O laudo informava que o pênis do menino foi lacerado por mordidas, pois
apresentava marcas de arcada dentária.
Não consegui marcar o menino morto com a aliança; minha relação com a
menina morta foi mais profunda. O menino foi apenas mais um nesse imenso gado
que cultivo.
Este conto integra o livro Sísifo Desatento, que será publicado em maio
deste ano, pela editora Terracota.
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