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sexta-feira, 14 de março de 2014

Rainha Mãe em Êxtase Lunar




“As convicções são inimigas da verdade mais perigosas que a mentira.”

(Nietzsche, Humano, Demasiado Humano)

A menina

Ela estava deitada entre ramos de hortelã. Sua pele estava úmida e brilhava à luz da lua cheia e avermelhada.
Pálida, com as pernas semiabertas, insinuava a cor rósea de seu sexo. Seus mamilos intumescidos, de mesma cor, sangravam levemente – fruto da paixão.
Mas seus lábios possuíam uma cor cinza.
Os olhos vermelhos e um fino corte longilíneo no pescoço sinalizavam a maneira como foi morta.


No relatório do caso, foram citados os objetos encontrados: uniforme escolar e o arame usado no sufocamento.
O laudo informou que no anelar esquerdo uma aliança foi desenhada com instrumento cortante – nela, a única indicação do assassino era a letra “P” escarificada. Informava, também, que foram encontradas, nos mamilos, marcas de arcada dentária.


A morta era minha aluna e eu a amava. Nutria por ela uma obsessão incandescente, apaixonada.


O menino

Ele estava deitado entre ramos de hortelã. Sua pele estava úmida e brilhava devido ao inchaço.
Seu corpo exalava um odor asqueroso e, de seu sexo inchado, a glande foi arrancada – fruto da paixão.


No relatório do caso, foram citados os objetos encontrados: agasalho de balé e o arame usado no sufocamento.
A glande extirpada não foi localizada.
O laudo informava que o pênis do menino foi lacerado por mordidas, pois apresentava marcas de arcada dentária.


Não consegui marcar o menino morto com a aliança; minha relação com a menina morta foi mais profunda. O menino foi apenas mais um nesse imenso gado que cultivo.



Este conto integra o livro Sísifo Desatento, que será publicado em maio deste ano, pela editora Terracota.

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Homero Gomes
(Curitiba/PR, 1978). É escritor. Autor dos trabalhos ainda inéditos Sísifo Desatento (contos) – finalista do Sesc de Literatura edição 2007 –, Jamé Vu –publicado via internet – e Anjo Exilado (poemas) – que possui versão online no site português TriploV e Germina Literatura sob o título Solidão de Caronte. Está concluindo o romance Tempo do Corpo e a novela juvenil Paralelo Um. Colaborou com Rascunho, Cult, Germina Literatura, Cronópios, Ficções, entre outros. É editor de Jamé Vu (com postagens suspensas), espaço em que não apenas divulga suas produções literárias como também a de outros literatos, entre veteranos e estreantes, edita também do blogue juvenil Paralelo Um (com postagens suspensas), onde disponibiliza matérias, curiosidades e jogos para o público juvenil; é colunista dos sites Página Cultural , desde 2010; Mundo Mundano , com sua ficção, desde 2011; e Musa Rara , com notícias literárias e do mercado editorial, desde 2012; e da revista digital Samizdat, com sua ficção, desde 2012. Contato: homero.gomes@gmail.com
todo dia 14


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