SOBRE A PALAVRA
(fragmentos)
[...]
2
A palavra
é
água,
que escorre,
indômita,
nos rios da fala,
por entre as gretas
do silêncio.
[...]
4
A palavra
feriu o sábado,
como um navio
recortasse o mar
(um cais
de abandono).
Um blues
em mim
dividiu-me
em ondas de
a/mar-
guras.
5
A palavra espera,
feito cão dormente.
Ao menor descuido,
lhe encrava os dentes.
6
Se a palavra fere
(seta sem retorno),
no vão do remorso
nasce mais um morto.
7
E não há mistério
na palavra dita.
Ela se abstrata
tão só quando fica.
8
Se a palavra fica
retrátil ao encontro,
perde o objeto:
gera-se um monstro,
que corrói, aos poucos
sua sanidade,
criando um lodo
sobre o que se sabe.
9
Mas o que se sabe
é ilusão, arroubo,
de sentir-se sábio
à custa do outro.
E se há silêncio
na sabedoria,
a palavra rompe
o véu da hipocrisia.
[...]
11
O sal das palavras
não sai pelos olhos.
Elas se destilam
por todos os poros.
[...]
13
O surdo-mudo
é quem melhor
trata as palavras.
A relação é
interna
visceral
profunda.
(É assim que a palavra brilha.)
[...]
15
A palavra
é parede
na qual
eu quebro
a cara.
[...]
Edelson Nagues
4 comentários:
Então, vem filho novo por aí, hein? Que maravilha! Tudo me toca, tudo é profundeza onde a ( sua) palavra prolifera. Beleza em fragmentos. Levo este: "Se a palavra fere
(seta sem retorno),
no vão do remorso
nasce mais um morto.
Obrigado por sempre prestigiar este escriba, Cinthia. Tais palavras vindas de vc me envaidecem mto. Ah, o novo livro ainda está em gestação... Grande abraço.
Edelson, por que você é tão bom assim?! Que show está esse seu poema! Parabéns, Poeta, pra mim, o melhor da atualidade.
Mto obrigado, Cecilia. Quisera eu fosse pelo menos metade do que vc acredita que eu seja... Grande abraço, amiga.
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