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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Eles


“Para falar, puxa e repuxa a língua,

E não lhe vem à boca uma palavra!”

 

(Augusto dos Anjos, em O Martírio do Artista)

 

 

Eram pequenos e faziam cócegas na língua. Não tinham gosto, mas eu sentia ânsia ao engolir aqueles vermes. Estavam na boca, narinas, garganta e começavam a sair pelas orelhas.

Meu ventre estufava. Sentia um líquido visguento escorrer pelas nádegas. Meus movimentos eram fracos e lentos, sentia meus membros amortecidos. Meu rosto estava mole e insensível.

Eu fedia.

A escuridão era absoluta. Estava abafado e eu respirava com dificuldade. Estava deitado. As paredes eram estofadas e o teto coberto por um tecido rendado. Sentia cheiro de flor murcha.

 

Não tenho mais voz dentro deste caixão.

 

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Homero Gomes
(Curitiba/PR, 1978). É escritor. Autor dos trabalhos ainda inéditos Sísifo Desatento (contos) – finalista do Sesc de Literatura edição 2007 –, Jamé Vu –publicado via internet – e Anjo Exilado (poemas) – que possui versão online no site português TriploV e Germina Literatura sob o título Solidão de Caronte. Está concluindo o romance Tempo do Corpo e a novela juvenil Paralelo Um. Colaborou com Rascunho, Cult, Germina Literatura, Cronópios, Ficções, entre outros. É editor de Jamé Vu (com postagens suspensas), espaço em que não apenas divulga suas produções literárias como também a de outros literatos, entre veteranos e estreantes, edita também do blogue juvenil Paralelo Um (com postagens suspensas), onde disponibiliza matérias, curiosidades e jogos para o público juvenil; é colunista dos sites Página Cultural , desde 2010; Mundo Mundano , com sua ficção, desde 2011; e Musa Rara , com notícias literárias e do mercado editorial, desde 2012; e da revista digital Samizdat, com sua ficção, desde 2012. Contato: homero.gomes@gmail.com
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