“Para falar, puxa e repuxa a língua,
E não lhe vem à boca uma
palavra!”
(Augusto dos Anjos, em O Martírio do
Artista)
Eram pequenos e faziam cócegas na língua. Não tinham
gosto, mas eu sentia ânsia ao engolir aqueles vermes. Estavam na boca, narinas,
garganta e começavam a sair pelas orelhas.
Meu ventre estufava. Sentia um líquido visguento escorrer
pelas nádegas. Meus movimentos eram fracos e lentos, sentia meus membros amortecidos.
Meu rosto estava mole e insensível.
Eu fedia.
A escuridão era absoluta. Estava abafado e eu respirava
com dificuldade. Estava deitado. As paredes eram estofadas e o teto coberto por
um tecido rendado. Sentia cheiro de flor murcha.
Não
tenho mais voz dentro deste caixão.
2 comentários:
Forte e impressionante. Como eu gosto. Quantas vezes a gente morre vivo/vive morto?
Verdade, Cinthia. Obrigado pela leitura, que bom que gostou. HG
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