“O pior é a velocidade vertiginosa. Nessa
vertigem,
nada frutifica
nem floresce”
(Ernesto Sábato)
Alucinadamente
veloz. Assim o tempo. Assim as máquinas. Assim as pessoas. Anteontem o Réveillon.
Ontem o Carnaval. Daqui a pouco a Páscoa. E o dia das mães. E a copa. E a Flip.
E o dia dos pais. E o dia das crianças. E as eleições. E o Natal. Eis 2014 no
fim. Mas calma! Por enquanto é fim de março. As águas de março já fecharam o
verão. Águas demais no Norte. Águas de menos no Sul. E um verão daqueles que
não se via há tempos. Agora é outono. Daqui a pouco, inverno. Logo a primavera
dará o seu recado. E de novo o verão. Outra vez, calma!! Fiquemos no outono.
Difícil não ser pego pela velocidade. Difícil não se enredar nesse universo de
solicitações incessantes. Tudo se rende ao imperativo da instantaneidade. É
tudo pra já. O que conta é o que rola na onda do instante, no exato instante em
que se rola a tela do Face, por exemplo. O que se passou há minutos atrás já
não interessa. Olhos postos no agora – e no instante a vir. Olhos postos na
quantidade de curtidas, de seguidores. Tá todo mundo, a toda hora, lançando
fios de si nesse emaranhado sem fim da rede. E esses fios sem fim mais nos
enredam que nos ligam um ao outro. É assim em todas as redes sociais. É assim
no Twitter, no Instagram, e no que mais vier. E tem o Whatsapp. E tem os outros
zilhões de apps que é preciso
conhecer – e baixar. Onde o espaço para a lentidão? Onde o tempo para a
contemplação? Nas tais redes sociais só o raso se multiplica – ou vira viral,
como dizem por aí. O que quer que tenha substância, passa batido. A tela é
lugar para se deslizar, não para se mergulhar. Deslizar exige superfície plana,
lisa, sem qualquer obstáculo. Mergulhar no poço de um texto mais alentado?
Jamais!! E assim rolamos telas e telas em busca do que fisgue nossa atenção. E só
nos fisga o efêmero, o fugaz, o que traz em si a promessa do total esquecimento
tão logo se cumpre o frisson de rolar a tela. Detém-se um instante, curte-se,
compartilha-se, eventualmente comenta-se. E pronto. Já foi. Já era. Só se quer
o agora, um eterno agora. E o agora não existe. Só existe a memória que o agora
nos deixar. Correndo sempre atrás do agora, não dá tempo de o agora se fixar em
nós como memória. Estamos sempre em busca do próximo agora. E agora? Agora é
hora de parar. Parar de correr. É tempo de lembrar que a pressa pode levar a
lugar nenhum. E relembrar que devagar se vai ao longe. Vem comigo?
4 comentários:
Uma reflexão necessária e um retrato fiel do que se vive hoje nos meios sociais. Muito bom !
Cinthia, o texto resultou da minha tentativa de capturar esse universo que, em alguma medida, também me captura -- e que me intriga para além de qualquer medida. Obrigado pela leitura e pelo comentário!
LIndo!!! bjs
Maysa
Obrigado, Maysa! Volte sempre!
Abs,
Tarlei
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