Nada é impossível nesse mundo. As formigas assaltam meu corpo como se ele fosse o doce mais doce que existe. Elas correm por meus braços, pelo meu tronco, pernas e cabelos. Elas são miudinhas, vermelhas e têm uma ferroada que, se não doí, coça até deixar um hematoma na minha pele branca.
Elas são muitas, um exército de tamanho menor que o de Liliput, mas muito mais mortal e perigoso. Trazem minhas alergias à tona, minha irritação com os seres minúsculos, contudo, nem tão indefesos, minha frustração por não poder exterminá-las.
Enquanto elas varejeiam pelo meu corpo, falo com seres de outras esferas pelo hadfone conectado a uma máquina sem sentimentos. Vivo o companheirismo da solidão moderna. As sequelas desta comunicação não serão mais curadas. O mundo só voltará a girar quando o que não se espera ocorrer, e tudo chegar ao fim anunciado, mas inevitável.
E os lobos continuarão a uivar, ganir e correr. Perderão seus pelos e morrerão na companhia de seus pares, embora acreditem que são livres e solitários.
Solitários são os gatos vagabundos, que remexem no lixo despejado nas ruelas escuras, por seres que andam sobre duas pernas, na sua ufânica superioridade, sem a possuir, pois na morte todos se igualam.
Ou até mesmo antes.
Eu prefiro a algazarra desses gatos vadios, do que a vida de lobo, que pensa ser um pobre coitado, sem eira nem beira, quando não o é. Eu prefiro gatos vagabundos, que andam sozinhos, comem o que acham, se deixam afagar ou são ariscos, esquálidos, fedorentos e maltratados.
Somente gatos malandros sabem o que é ser solidão, mesmo quando não se está só.
Escolho de bom grado a companhia solitária da vida de gatos vadios, do que a solidão acompanhada da alcateia: séquito que penetra até os ossos. Nenhum cão conhece, de fato, a necessidade e a liberdade de ser só e optar por estar com.
É por isso que odeio os pernósticos, embora talvez eu seja uma. Tenho rancor de suas pernas longas, suas palavras de difícil definição. Odeio neles o que em mim existe, porque eu não sei dizer de outro modo, mesmo sendo obviamente tão simples naquilo que não digo.
E as formigas, perambulando por meu corpo-mundo, me lembram que o tempo mudou. O outono mal chegou, o inverno quase não veio e agora a primavera deu um salto e deixou o pequeno globo no meio de um verão cáustico e poeirento. Saltam-se as fases, os climas, os tempos, as vidas e as mortes. Somente não é possível saltar o desesquecimento.
E é por isso que a hora chegou.
E é por isso que agora é preciso mudar ou rachar de vez.
Eu já exorcizei os cadernos. Já queimei o que restou de meu sangue e congelei o momento em que deveria ter partido. Estou com a claquete na mão e a cena é aquela em que eu estou entre ir e ficar, mas nem mesmo um tornado vai mudar a minha posição, a minha disposição pelo contrário.
Por isso a hora é esta.
Os cadernos queimados estão preservados, as formigas roem meus ossos, meus olhos captam o momento final. Serei agora uma incógnita com respostas óbvias.
Elas são muitas, um exército de tamanho menor que o de Liliput, mas muito mais mortal e perigoso. Trazem minhas alergias à tona, minha irritação com os seres minúsculos, contudo, nem tão indefesos, minha frustração por não poder exterminá-las.
Enquanto elas varejeiam pelo meu corpo, falo com seres de outras esferas pelo hadfone conectado a uma máquina sem sentimentos. Vivo o companheirismo da solidão moderna. As sequelas desta comunicação não serão mais curadas. O mundo só voltará a girar quando o que não se espera ocorrer, e tudo chegar ao fim anunciado, mas inevitável.
E os lobos continuarão a uivar, ganir e correr. Perderão seus pelos e morrerão na companhia de seus pares, embora acreditem que são livres e solitários.
Solitários são os gatos vagabundos, que remexem no lixo despejado nas ruelas escuras, por seres que andam sobre duas pernas, na sua ufânica superioridade, sem a possuir, pois na morte todos se igualam.
Ou até mesmo antes.
Eu prefiro a algazarra desses gatos vadios, do que a vida de lobo, que pensa ser um pobre coitado, sem eira nem beira, quando não o é. Eu prefiro gatos vagabundos, que andam sozinhos, comem o que acham, se deixam afagar ou são ariscos, esquálidos, fedorentos e maltratados.
Somente gatos malandros sabem o que é ser solidão, mesmo quando não se está só.
Escolho de bom grado a companhia solitária da vida de gatos vadios, do que a solidão acompanhada da alcateia: séquito que penetra até os ossos. Nenhum cão conhece, de fato, a necessidade e a liberdade de ser só e optar por estar com.
É por isso que odeio os pernósticos, embora talvez eu seja uma. Tenho rancor de suas pernas longas, suas palavras de difícil definição. Odeio neles o que em mim existe, porque eu não sei dizer de outro modo, mesmo sendo obviamente tão simples naquilo que não digo.
E as formigas, perambulando por meu corpo-mundo, me lembram que o tempo mudou. O outono mal chegou, o inverno quase não veio e agora a primavera deu um salto e deixou o pequeno globo no meio de um verão cáustico e poeirento. Saltam-se as fases, os climas, os tempos, as vidas e as mortes. Somente não é possível saltar o desesquecimento.
E é por isso que a hora chegou.
E é por isso que agora é preciso mudar ou rachar de vez.
Eu já exorcizei os cadernos. Já queimei o que restou de meu sangue e congelei o momento em que deveria ter partido. Estou com a claquete na mão e a cena é aquela em que eu estou entre ir e ficar, mas nem mesmo um tornado vai mudar a minha posição, a minha disposição pelo contrário.
Por isso a hora é esta.
Os cadernos queimados estão preservados, as formigas roem meus ossos, meus olhos captam o momento final. Serei agora uma incógnita com respostas óbvias.
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