POST MORTEM
Quando que morrer,
de meu, mesmo,
nada restará que importe,
pois essas questões de posse
não dizem respeito aos mortos.
Ficarão algumas lembranças
– lodo cinza em água estanque –,
mas não minhas; talvez sobre
um ser que se passou por mim
e enganou alguns tantos.
Este riso, aquela pedra, estes óculos,
não me acompanharão, por certo
– pois que substâncias diversas.
Essa música, este livro, aquele
poste,
terão mais substância do que eu,
no vazio abissal do pós-morte.
Quando eu morrer,
de meu, mesmo,
talvez restem as palavras
que usei como se minhas,
no branco-escuro da folha.
Mas, então, uma vez livres
da farsa que engendramos
(ex-cúmplices: delatoras),
revelarão a face veraz
de um não ser que já outro.
Edelson Nagues
(Do livro Águas de clausura –
Scortecci Editora)
3 comentários:
Quando você morrer, terá deixado sua obra simplesmente espetacular. Sua admiradora sempre.
Belo poema. Parabéns,
Mto obrigado, Cecilia e Adriane, pela leitura e pelas palavras generosas. Abraços.
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