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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Diálogos desencontrados


    Só faz falta quem cá está…

O homem sensato, calmo, contido, explodiu inesperadamente:

    Só faz falta quem cá está? Só faz falta quem cá está?!?
Mas que frase mais idiota! Se o senhor quer dizer que ninguém faz falta, diga isso mesmo, é obviamente falso mas ao menos é uma frase honesta que não se esconde atrás de um ar filosófico e profundo. Só faz falta quem cá está… Se está cá então não lhe falta e se falta não lhe faz falta? Em última análise, nunca ninguém lhe faz falta pois o senhor é o único que está e estará sempre presente para si próprio. Já pensou na estupidez e arrogância dessa frase? Não, obviamente que não pensou, limita-se a papaguear uma frase que lhe soa bem, e com esse ar entendido de quem sabe retórica. Só faz falta quem cá está…

O homem virou-se, furioso, e saiu da sala a passos largos deixando o interlocutor com o ar interdito de um estudante apanhado a copiar.

………………………………………………

    Mas…
    Nem mas nem meio mas; não lhe admito essa insinuação. Não sei nem me interessa a que tipo de pessoas está habituada mas eu não lhe admito que ponha em dúvida a minha honestidade. Vocês estão aqui para resolver os problemas, é para isso que existem Reclamações, ou não é? Porque, se em vez de resolver os problemas se põem a insinuar que o cliente não é honesto e só vos quer enganar, digo-lhe, que rico serviço vocês têm aqui!
    Mas…
    Não há cá mas nenhum! Era de supor que as pessoas que aqui estão tivessem sido formadas para saberem falar com os clientes mas claro que esta chafarica nem isso faz e a senhora é um bom exemplo: não sabe falar, é mal-educada e em vez de resolver o problema do cliente só lhe ocorre insinuar que é um aldrabão!
    Mas…
    Oiça, eu consigo nem falo mais, chame o seu supervisor, chefe, o que for – um homem com dois dedos de testa, que compreenda as coisas e que não se vista com roupa da feira de Carcavelos!
 
De intervenção em intervenção, a voz ia subindo de tom e neste momento a senhora vestida de roupas caras quase gritava. A rapariga voltou-se e foi lá dentro; voltou acompanhada de um homem de ar espantado.
 
    Em que posso ajudar?
    Essa abécula nem isso lhe disse? Francamente, acho lamentável que uma casa aberta ao público tenha funcionários deste calibre de burrice! Venho reclamar da compra que a minha filha fez aqui na sexta-feira passada: quando fui vestir o vestido para um jantar no sábado verifiquei que tinha uma mancha, aqui, está a ver?
    Vestido? Minha senhora, está equivocada. A loja não tem vestidos de tecido, só malhas e esta senhora é a proprietária. Não foi aqui que comprou o vestido.
    Malhas? Proprietária? Mas o senhor não é o supervisor?
    Eu? Não, eu sou electricista, estava lá dentro a acabar uma instalação.
 

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Mac
De biografia, só posso dizer que tenho mais de 50 anos e nunca publiquei nada... Mas gostaria de publicar, receber opiniões a coisas que me ralam...



todo dia 26


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