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terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Ressaca

rega-se
o recôncavo
das contrações
com o insolúvel
seio

às vertentes
apenas
o pesar
de suas capitalizações
hereditárias

em assombrosa
rudeza
o estatelado organismo
afleuma-se

a incredulidade
mareia-se
na tormenta

corpos são levados
pela egóica
correnteza

a desconstrução
do ópio
pelo midiático
torpor
prenuncia toxicidade

a extinção
das espécies
valoriza-se
nas cédulas

minimizam-se
os estragos
na abundância
do consentimento

o pó
exacerba
melindres
no contratempo
da sede

enxutos
são os atrevimentos
passeando sobre
a gleba

escorrem-se
na insensibilidade cutânea
os paliativos
esgarçamentos

a objetificação
da sanidade
ameniza
os cadáveres

peitos escavados
garoam
a oblíqua
pretensão

contorcem
as línguas
na distribuição
impura
da soberba

aprofundam
a negligência
no labiríntico encanamento
das percepções

protelar
o socorro
aos que carecem
de fluidez
no deságue
das pedreiras
é a lancinante
sujeição

grafar
em suas veias
as promessas
de uma imorredoura
falácia

deus ex machina
encorpora
nas mãos
em conchas
o cardo
vegetativo

engolir em seco
a causa mortis
dos tributos
liquefeitos

mendigar
a gotícula beatificada
dos credos insuportáveis
por tamanha
injúria
é o contentamento
das represas

estouram
os olhos
afeitos
às barragens
do progresso

a mudez
clama ao patriarca
para que não enlameie
o zigoto
de suas predestinações

o refúgio
da aridez
abriga os bichos
de bolsos vazios

comercializa-se
desespero
em virtude
do escândalo
edificado
pela cobiça

jorra
entre os dentes
a irreconhecível história
do bípede cativo

a biodiversidade
é excomungada
do relicário
capitalizado

a necessidade
básica
é angariar fundos
para o sétimo selo

imbatível presunção
que deslumbra
a miséria
do singelo

a atrocidade
tolera
as ninharias
da pobreza

orações
esquecidas
lacram
em anonimato
o horror
silenciado.


[Foto: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo]

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Bruno Bossolan
Nasci em 25 de junho de 1988 e resido em Capivari, interior de SP. Sou Cronista e Redator do Jornal O Semanário. [www.osemanario.com.br] Autor dos Livros: N(ó)stálgico (Poesias, 2011 - Paco Editorial) - Barbáriderna (Poesias, 2012 - Editora Penalux), com participação também em mais de 10 antologias poéticas. Autor da Peça Teatral “Destroços do Martírio” (apresentada no Mapa Cultural de SP na cidade de Porto Feliz – 2008/2009).
todo dia 01


1 comentários:

Bruno, meu caro, parabéns pelos versos. O que houve em Mariana é tão indizível que talvez a poesia seja um dos meios mais eficazes para explanar o que ocorre em nosso país... Esse descaso com a vida é de uma imoralidade lamacenta, tóxica. Seu poema é um grito social que ecoa não apenas sobre Minas Gerais, mas sobre os crimes praticados contra a natureza e contra o homem em todo o planeta. Muito bom!

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