Em meio ao caos, a redoma.
No meio da redoma, um ser.
Pária, tratado com desprezo, isolado do convívio social.
Jogado de um lado para o outro, ao sabor do momento – do mando e
desmando.
Desespera-se.
Confronta.
Resigna-se.
Perde-se.
Regido por convenções que lhe são ignoradas à princípio,
obriga-se sobreviver, adaptando-se paulatinamente, usando a
observação; com o tempo, não há novidade – tudo se torna
variação de uma conduta estabelecida.
Fortalece-se, criando distanciamento; os estímulos naturais ao
sistema arrefecem o efeito.
Sem perder o controle, o sistema, ciente da mudança de
comportamento, contra-ataca: agrega novos seres à redoma, tão
díspares quanto excluídos.
Logo um novo microcosmo social se forma, ao espelho do lado de fora.
Para seus integrantes, o sistema passa a ser segundo plano – a
disputa pelo poder é o centro.
Estranham-se.
Apartam.
Confrontam-se.
Ao mais forte, a liderança; aos fracos, a subserviência.
Organizam-se da forma que lhes é possível, tendo como objetivo a
quebra do sistema que lhes rodeia; este, por seu turno, apesar de
padecer da arrogância do poder e parecer disperso, já identificou a
nova ordem – espera a doença para surgir com o remédio.
Os seres da redoma, indiferentes ao fatídico papel que desempenham,
seguem a estratégia esperada:
Agrupam-se.
Organizam-se.
Rebelam-se.
Ao caos instalado no ambiente fechado, o caos externo se mobiliza:
identifica a fragilidade do sistema, e por isso lhe atribui a pecha
do esgotamento; ao mesmo tempo, defende medidas extremas pelo
restabelecimento da ordem.
Esmagados, um a um, pela sanha punitiva do caos, os seres
desaparecem de vista, por ação do sistema – à doença, o
remédio.
Em volta da redoma, o caos.
Mantendo o caos, o sistema.Foto: Redoma, de Pedro Galdino
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