Por Lohan Lage Pignone
A
poesia causa dor lacerante
Na
folha de papel
Que vê
ceifada a sua pureza
Quando
tocada pelo cabo úmido
De uma
pena, com sutileza.
Desvirginada,
a folha antes casta
Agora
de sua essência se afasta
Cedendo
todas as suas margens
Às
invasoras que se dizem marginais.
Outros
seres a possuem
Sem
permissão.
Objetos
pontiagudos,
Nas
mãos de homens mudos
Que só
dizem em poesia
Maculando
a honra daquela
Cuja
dor lhes é de serventia.
Poetas,
Réus
sempre absolvidos
Pela
absorção das palavras!
Bate o
martelo:
Toda
letra fere,
Mas toda palavra cura
Justifica-se
em juízo
A dor
e a desonra causada àquela que outrora
Era
pura.
Diz-se
que é ofício sagrado,
Desta
mulher mariana, que recebe em teu ventre
Um
filho nunca rogado.
À
folha, resta o sangue
Azul,
negro, vermelho
Que
discorre poeticamente
Pelo
alvo corpo passivo
Causa
marca, permanente:
Território
do (minado).
A
poesia adoece a folha
Quando
o verso dilacera ferida
Aberta
às moscas,
Carne
crua, fétida.
A
violência se faz vã
Poeta
condenado, e o rasgo
No
coração, nos membros,
Súplica
dolorida!
De
cada canto,
De
cada fibra,
Arrancaram-lhe
a vida.
Corpo
esquartejado
Relegado
ao vento
Espalha-se
pela eternidade
Como
folhas de outono
Em
plena invernia
Poética.
E, de
vida própria, nunca se resta nada:
Mais
uma página virada.
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