Pela quarta vez em sua vida, Bia passou por uma cirurgia para extrair um tumor mamário.
Ela tinha pouco mais de dois anos quando encontramos o primeiro nódulo, pequeno e que foi rapidamente extraído. Aos oito anos, ela passou por dois grandes procedimentos num intervalo de dois meses, que nos custou 5 mil dólares e resultou na extração de quase toda a cadeia mamária da cachorra.
Agora, com doze anos de idade, já uma senhora no universo canino, Bia teve câncer novamente.
A questão neste momento era uma só: "temos o direito de submeter o nosso cãozinho a uma nova cirurgia, de fazê-la sofrer outra vez todo o doloroso processo de recuperação, sem muita certeza de quanto tempo ela ainda viverá?"
Temos de aprender a dizer adeus, pois tudo que vive morrerá.
Por outro lado, podemos simplesmente cruzar os braços e esperar que os entes que amamos morram sem lutarmos?
(Bia, em Mônaco)
Bia acompanhou praticamente toda a minha vida de casado. Nós a compramos por insistência da minha esposa, que chorava de madrugada porque queria um cachorro.
Desde então, ela tem sido a nossa companheira em tempo integral, em Curitiba, em Nova York, em Buenos Aires, clandestinamente num hotel-fazenda no Uruguai quando ficamos presos no aeroporto por causa da erupção do vulcão Pueyehue, em Roma, em Nápoles, na Perúgia, quando cruzamos a França, Mônaco e Espanha, em Portugal, e agora em Madri.
Ela faz parte de nossa história e não deixaríamos que ela fosse embora sem empreendermos nossos maiores esforços.
Naturalmente, ela já não estaria entre nós há muito tempo, mas, depois de conhecermos cães com quase vinte anos de idade, com pernas mecânicas, diabetes, que ainda subiam seis lances de escada, não poderíamos entregá-la sem pelejar.
(Bia, na Itália)
Sabemos que ela não terá muitos anos pela frente, que jamais acompanhará a adolescência do nosso filho que em breve nascerá, ou até que não terá tanto tempo para carimbar vários outros países em seu passaporte canino.
Estamos empreendendo uma corrida contra o tempo, cientes que, no fim, perderemos. Sempre perderemos para a morte.
Ela está agora, do meu lado, chorando de dor. Ainda serão dez dias de recuperação, com analgésicos e trocas de bandagens.
Quantos anos a mais pudemos prolongar na existência de Bia?
Isto não temos como saber.
O tempo passa.
O futuro é incerto.
O fim, inevitável.
As saudades e as memórias permanecerão.
1 comentários:
Meu Beethoven teve câncer aos 11 anos. Inoperável. Tomou um remédio manipulado em uma universidade de Curitiba, ainda meio experimental. Durou mais um ano depois do tratamento, mas sem o câncer. Morreu ano passado, do coração, pelo excesso de remédios que teve que tomar pós- tratamento. Aos 13 anos. Já a cadela do meu amigo foi como a sua, mamário. Chorava de dor, ele fazia cirurgia, ela melhorava. Até que se foi. A gente fala que prolongar a vida tem um limite. Tem. Mas como saber qual é essa hora? E dói tanto perder nossa companhia de boa parte da vida, não? Imagino a Denise, grávida.
Tente até o fim tudo o que puder. Fiquem bem.
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