No próximo mês, em Paraty, o francês Laurent Binet dividirá uma mesa da FLIP com Aleksandar Hemon. Binet é autor do romance HHhH (acrônimo de Himmlers Him heiBt Heydrich ou o cérebro de Himmler chama-se Heydrich) publicado no Brasil pela Companhia das Letras.
Binet conta, na verdade, duas histórias: a da Operação Antropoide - a decisão pela operação que culminou com a morte do Protektor, a escolha dos dois agentes, um tcheco e outro eslovaco, sua recepção pela resistência em Praga e o próprio assassinato de Heydrich - é apenas uma delas. A outra é a própria formação da ideia de escrever o romance.
Não se trata portanto de um romance histórico; é mais que isso. Está naquela zona cinzenta entre a ficção e o ensaio, e são inúmeras as referências e associações presentes no livro, que vão de Chaplin a Kenneth Branagh, de Robert Mele a Jiri Weil.
Jiri Weil?
Foi em HHhH que li pela primeira vez a respeito de Weil (1900-1959). Uma história que prometia. E que vem a calhar, já que no mês passado comemorou-se o 200º aniversário de Richard Wagner. E também porque foi num 4 de junho - no caso, de 1942 - que o monstro foi assassinado na tal operação Antropoide.
Wagner e Mendelssohn. Na Praga ocupada e comandada por Heydrich, os nazistas procuram eliminar da cidade (que, para eles, sempre fora alemã e estava sendo ocupada indevidamente pelos tchecos) todos os símbolos judaicos. Entre eles, a estátua, no topo da Ópera de Praga, de Felix Mendelssohn. O membro da SS Julius Schlesinger é o encarregado para tanto.
Mas qual seria a estátua de Mendelssohn?
Qual é o mais parecido com um judeu? Schlesinger procura se recordar das aulas de ciência racial e se lembra que os judeus têm nariz avantajado. Logo, a estátua a ser derrubada é a do narigão.
E assim, os alemães marcam a estátua de Wagner, o narigudo preferido pelo regime nazista.
Obviamente, este é apenas o início do romance Mendelssohn está no telhado, que até onde sei nunca foi traduzido para o português. Uma pena.
Jiri Weil é daqueles autores muito bons mas que por alguma razão histórica ficou numa espécie de limbo literário. Não teve o mesmo destino de Primo Levi, Aharon Appelfeld e outros grandes escritores sobre o Holocausto. Na verdade, antes de Binet, o autor foi "descoberto" por ninguém menos que Philip Roth. Uma obra que merecia ser traduzida para o português.
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