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sábado, 4 de outubro de 2008

Esmagado pelo Sistema


O segundo romance de Hermann Hesse, Debaixo das Rodas, é conhecido como sendo a biografia intelectual do autor.

Hermann Hesse foi um iconoclasta. Ainda jovem, ele fugiu do seminário no qual estudava, pondo um fim a uma promissora carreira na área acadêmica. Tornou-se livreiro e passou a investir em sua carreira literária. Publicou o primeiro romance, Peter Camenzind, aos vinte e seis anos e se tornou uma celebridade instantânea. Fortemente influenciado pelo budismo, Hesse viajou pela Ásia, visitou o Sri Lanka e a Indonésia. Relacionou-se com C. G. Jung e Thomas Mann. Recebeu em 1946 o prêmio Nobel de Literatura e se converteu num dos grandes autores alemães de todos os tempos. Esta breve biografia é apenas a súmula duma vida de luta contra os ideais burgueses ocidentais.

Este segundo romance, Debaixo das Rodas (Unterm Rad), está longe da maturidade obtida em Sidarta, O Lobo da Estepe ou O Jogo das Contas de Vidro. Hermann Hesse ainda busca sua voz, sua identidade, e o faz ao refletir sobre seu passado e sobre sua primeira grande ruptura com a sociedade.

O protagonista do romance, Hans Giebenrath, é um espelho do jovem Hesse, um rapaz promissor aceito por uma das melhores escolas secundaristas da Alemanha. No seminário, ele conhece Hermann Heilner, o Outro de Hans, um poeta indomável. Juntos eles desafiam a instituição e se tornam objeto das reprimendas dos superiores.

No entanto, Hans Giebenrath não possui a fibra necessária para suportar a rígida disciplina, ele é esmagado pelo sistema, é atropelado pelas rodas da instituição.

Hermann Hesse parece prenunciar a grande tema que ocuparia os intelectuais estruturalistas da geração de 68: o espaço da escola enquanto forma de dominação. Foucault e Althusser estão de acordo quando afirmam que a escola funciona como uma instância disciplinar, e que no interior da estrutura educacional se reproduz um esquema que fortalece a sistema de classes — educação melhor para quem possui maior poder aquisitivo, e uma educação pior para o proletariado. Hans Giebenrath tem a oportunidade de estudar numa escola de elite, mas, mesmo assim, a instituição é representada como castradora. Os alunos são estimulados a seguirem as regras, enquanto que a criatividade e espontaneidade são tolhidas.

Para Hans Giebenrath, a solução é a morte; para Hesse, a solução foi a fuga.

Estranhamente, este é dos poucos romances de Hesse que não possui edição recente — a última é de 1974. Mas a escola continua e continuará exercendo sua função disciplinatória, e permanecerá como uma das instâncias de estratificação social.

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1 comentários:

Grande Henry,

Excelente esta breve panorâmica do vasto Hesse. Principalmente porque o romance "Debaixo de rodas" foi o único que não li. Só o conhecia de título, mas através desta resenha fiquei sabendo que este romance me interessará mais do que os outros.

Obrigado, Henry.

Dênis Moura

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