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domingo, 12 de outubro de 2008

Reencontro

Guilherme Augusto Rodrigues

Aquele rapaz sentado à mesa do bar tinha me chamado à atenção. Principalmente por tomar um refrigerante de uva! Poderia tomar qualquer coisa, mas refrigerante de uva era o mais barato do mercado! Isso já seria suficiente para muitas mulheres desistirem logo de cara. Prova de que é um pobretão falido.
Tinha o olhar sereno de um sábio. Era calmo e transparecia ter lido vários livros, conhecedor de muitas coisas. Achei que poderia tomar o refrigerante por gosto. Uma mente revolucionária, talvez. Ir na contramão de todos ou fazer algo que todos querem fazer, mas ninguém faz.
Usava óculos com lentes redondinhas, projetando sua visão mais à frente. Vestia roupas simples, nada de marca, como pude perceber. E assim mesmo não perdeu a elegância. Também nada de moda. Personalidade. As roupas simples deram-lhe um toque a mais.
Seus braços fortes, suas mãos bonitas segurando o copo com a firmeza que se deve pegar uma mulher.
Discretamente, fiquei olhando e tomando meu suco, lançando olhares sexy e quando olhasse faria um velado (mas não tanto) sinal.
Ele olhou algumas vez, mas, admito, tive vergonha e desviei o olhar. Situações assim me deixa toda sem jeito. Agora tomo coragem para o segundo plano.
Dei mais um tempo e pude refletir: ele me atraiu porque prestei atenção nos detalhes, fui além do refrigerante de uva. Uma mulher se fizesse o que fiz logo se interessaria. Ainda mais com um topete jogado ao vento. Bem poderia ser um aviador. Olhando tudo de cima.
Tive a idéia de pedir um cigarro:
– Com licença, você teria um cigarro?
– Não fumo, moça.
– Ah... Queria tanto fumar...
Dito isto, o rapaz saiu da mesa. Em seguida voltou com um maço de cigarros.
– Que gentileza! Que fofura! Muito obrigado!
“Droga! Agora tenho que fumar.”
Eu não gostei. Gostaria... Se eu fumasse, mas foi realmente muito gentil. Outras poderiam tê-lo chamado de trouxa.
Para retribuir, tinha que fumar. Abri o maço com dificuldade e até quebrei minha unha. Ele olhou, prestava atenção nas minhas mãos desajeitadas para abrir o maço. Talvez percebera que eu não levava a menor afinidade com o cigarro.
– Até hoje não inventaram um maço fácil de abrir – eu disse com uma risada forçada tentando disfarçar.
– É... Você pode se sentar, se quiser.
– Obrigada... Você... trabalha por aqui? É aviador?
– Hahaha... Que criatividade!
– Seu topete não deixa enganar – disse e sendo espremida por um muro.
– Eu não sou aviador, não. Deve ser muito bom. Na verdade, trabalho na livraria na outra quadra.
Um palpite certo!
– Hum... Vende livros. Eu adoro ler.
– Recomendarei bons livros quando for. O que você faz?
– Trabalho na loja de roupas “Vestir-se”, uma quadra pra lá.
– Do lado oposto de mim. Qual seu nome?
– Mariana. E o seu?
– Fernando...
– Quando precisar de roupas, você sabe, lá tem de diversos tipos.
Ele já estava impaciente de me olhar gesticular com o cigarro para lá e para cá, falar e não acendê-lo, tanto que nem agradeceu pelo convite. Pedi um isqueiro à garçonete.
– Coff... Coff... Coff...
E com a cara vermelha, cuspi a fumaça.
– Engasguei – disse muito sem graça.
Ele queria que eu fumasse para ter a prova.
– Por que você faz isso?
– Isso o quê? – tentei me esquivar.
– Você não fuma.
– Sim, eu fumo.
Ele olhou sério e desaprovador.
– Eu só queria... Me aproximar de você... E conversar, te conhecer... ¬– disse entristecida.
Então, pegou na minha mão e afagou-a.



(NOTA: Este texto é o primeiro de uma longa história que terá uma continuidade, se possível, a cada mês. Aguardem!!!)

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