O quarto escuro
Num quarto escuro você está enclausurada
Porta alguma você vê ou deseja
Satisfeita está, com sua morada.
Um dia, porém, em seu peito flameja
Calor tal, que a impele à retirada
De si mesma, onde sua alma é presa.
Muito tempo passa, mas chave certa encontra
Para abrir tal negríssima porta
Que à sua vista cansada desponta.
Tal tristeza, que em seu coração aporta
Pois dum mundo novo visão a assombra
Que você deseja cair morta.
Súbita coragem em seu coração nasce
Tal a Estrela da Manhã num lindo céu
Que leva a melancolia ao escape.
Por longo corredor você caminha, e véu
Negro, como batina de padre
Ascende de sua visão, a um fogaréu.
Vendo duas portas, uma delas aberta
E a outra, tão duramente cerrada
Escolhe a segunda, ignora o alerta.
Pois a primeira, a todo bem lhe guiava
Escolheu mal, e agora enxerga
O quarto escuro, a porta era a errada.
Pela floresta
Em densa floresta, uma noite me encontrei
Saída nenhuma minha vista alcançava
Sozinho, com medo, caí e chorei.
Dantesca situação na qual me encontrava
Era tal, que nunca me esquecerei
Da solidão que sobre mim pairava.
Porém, no meio desse infernal perigo
Maravilha minha vista alcança
E do medo me torno inimigo.
Pois num vale próximo me chama
Para perto, uma flor em domo de vidro.
Dele, excelsa luz emana.
Encantado, minutos passei encarando
A bela flor, que não vi ao lado
De cabelos longos, homem estranho.
- “Da flor sou guardião” -, disse irritado
“Ela me escolheu, então vá andando”
“De onde veio, para o outro lado”.
Entristecido, segui a trilha lentamente
Imagem da flor, como que marcada
A fogo assombrava minha mente.
Por horas andei, até minha cabeça cansada
Exigir-me descanso, então parei finalmente
E deitei-me sobre a grama esverdeada.
Num sonho me veio profético aviso
O melro me disse: “Refaça o caminho”
“Em tomar a flor não há mais perigo”.
“Ela agora jaz em sua redoma, sozinha,
Livrou-se de seu guardião antigo
Mas procura outro para completar seu destino”
Corri então pela trilha, com notável destreza
Até a luz brilhante que me cega
Só para encontrar horrível surpresa:
Guardião a flor já tinha, de mim se esquecera
Meu coração foi tomado de grande tristeza
E condenado fiquei à eterna espera.
domingo, 19 de outubro de 2008
Poemas
por Pedro Faria
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