Finalmente, pensa o doutor. Acabo de
executar uma verdadeira obra de arte.
O doutor deixou a família e foi estudar nos
Estados Unidos; trabalhou nos melhores hospitais do país e conheceu os mais respeitados
cirurgiões da América. Voltou para o Japão pouco antes de Pearl Harbour e,
apesar de leal ao Imperador, ainda guarda as melhores recordações do país.
Seus esforços foram recompensados. Passou a madrugada reconstruindo a cabeça de um marinheiro que havia caído de um navio. Nunca havia visto uma pessoa respirando com um crânio nestas condições. Nunca um crânio nestas condições foi tão bem reconstituído; o marinheiro estava meio abobalhado, é verdade, e assim continuaria para o resto da vida. Mas, afinal, estava vivo.
Anuncia o sucesso da cirurgia para a bela esposa do paciente. Ela não para de lhe agradecer. Lentamente, o doutor se dirige à janela do hospital, no terceiro andar, e pensa que, quando a guerra acabar, poderá voltar para os Estados Unidos. Tem muito a relatar sobre a evolução de sua técnica de reconstrução e, certamente, seus antigos colegas irão convidá-lo para expor nos maiores congressos. Talvez uma vaga em um hospital em Los Angeles ou São Francisco - quem sabe até em Nova York? Seu professor irá convidá-lo para a Academia, não tem dúvidas.
Acende um cigarro. Mais um dia está começando, e ele não vê a hora de voltar para casa e dormir. É bela a manhã em Hiroshima. E, subitamente, vê um clarão intenso - uma intensidade nunca antes vista.
Seus esforços foram recompensados. Passou a madrugada reconstruindo a cabeça de um marinheiro que havia caído de um navio. Nunca havia visto uma pessoa respirando com um crânio nestas condições. Nunca um crânio nestas condições foi tão bem reconstituído; o marinheiro estava meio abobalhado, é verdade, e assim continuaria para o resto da vida. Mas, afinal, estava vivo.
Anuncia o sucesso da cirurgia para a bela esposa do paciente. Ela não para de lhe agradecer. Lentamente, o doutor se dirige à janela do hospital, no terceiro andar, e pensa que, quando a guerra acabar, poderá voltar para os Estados Unidos. Tem muito a relatar sobre a evolução de sua técnica de reconstrução e, certamente, seus antigos colegas irão convidá-lo para expor nos maiores congressos. Talvez uma vaga em um hospital em Los Angeles ou São Francisco - quem sabe até em Nova York? Seu professor irá convidá-lo para a Academia, não tem dúvidas.
Acende um cigarro. Mais um dia está começando, e ele não vê a hora de voltar para casa e dormir. É bela a manhã em Hiroshima. E, subitamente, vê um clarão intenso - uma intensidade nunca antes vista.
4 comentários:
Preciso, conciso. O conto é um bisturi elétrico. Atingiu o ponto certo. E sem bomba depois... E.
Ah, os sonhos! Projetos, planos e ... a vida, atropelando, trombando com a gente. Texto muito sensível.
Obrigado, Cintha e E.!
Obrigado, Cintha e E.!
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