Em O homem sentado no corredor, conto de Marguerite
Duras escrito em 1980 com tradução de Vadim Nikitin (Cosac Naify, 2007) vemos
entre uma paigagem suspensa e bucólica um homem e uma mulher que se espreitam e
tornam-se vistos, reconhecidos um pelo outro pelo jogo da aproximação e
distanciamento.
Há uma tensão: o narrador nos apresenta suposições e a
narrativa parte desse esquema até o climax.
“Não se
pode dizer se os seus olhos estão entreabertos ou fechados. Parece que estão
descansando”. Marguerite Duras constrói ficção onde o próprio narrador ora
oscila, ora reafirma-se. “Sabe que ele a olha, que ele vê tudo. Sabe isso de
olhos fechados, assim como o sei eu, eu que olho. Trata-se de uma certeza”.
Pelo jogo,
textualmente o corpo da mulher passa a ser desvelado aos poucos: “Eis que de
repente o corpo assume a retidão de uma imagem definitiva. (…) Diante dela, o
homem que se cala”. Narrador e homem são chamados a contemplá-la: “Ouvimos que
alguém caminha, ela e eu. Que ele se mexeu. Que ele saiu do corredor”.
Tecitura
em que mulher se movimenta pelo olhar do outro.
A narrativa
se expande e o encontro entre homem e mulher se dá na medida em que Duras
explora o falsear das certezas do narrador.
Ao final, atesta: “Eu
desconheço, eu não sei nada (...)”. Uma teia movediça da linguagem – construção
de incertezas para aquele que narra e em que o leitor acompanha a explosão de imagens sólidas no decorrer desse encontro.
Fernanda Fatureto é autora do livro de poemas Intimidade Inconfessável (Editora Patuá, 2014).
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