Foi contratado para ser o Papai Noel de uma família classe
média. Animaria a criançada surgindo da chaminé, gritando “ho ho ho” e
distribuindo os presentes, em geral lembrancinhas, bem ao espírito mesquinho
dos natais de hoje em dia. Como estava na de pior, aceitou.
Na véspera de natal, roupa vermelha, barba postiça e saco
nas costas, lá se foi ele em direção a casa combinada. Mas anotou o endereço
errado e desceu pela chaminé da casa ao lado. Estava vazia. Papai Noel foi seduzido pelos
eletrodomésticos que decoravam a casa. Dariam uns bons tostões na mão de um
receptador que ele conhecia. Esvaziou o saco de presentes, encheu-os com o que
pode carregar. Teria um natal muito mais sortido do que o último. Não esqueceu
de levar um ursinho de pelúcia para a filha e um carro de controle remoto para
o moleque, seu xodó. Corroído pelo remorso, mas vencido pela tentação que o
consumismo da data impunha, deixou os presentes para os que estavam ausentes,
acompanhados por um bilhete. “Papai Noel esteve aqui. Feliz Natal!”
As crianças da casa ao lado deixaram de acreditar em Papai
Noel, que os decepcionou, esquecendo-se
deles que foram bonzinhos durante todo o ano. A menorzinha jurou que tinha
visto o Bom Velhinho no telhado dos vizinhos. Papai Noel recebeu nota zero em
comportamento naquele natal.
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