Caio Rudá
Quisera eu ter tempo para admirar a chuva que cai. E não pense que eis uma redundância, pois há chuvas que desabam, há as que deslizam, as que borram o céu, as que não existem. A de hoje é um pouco de todas elas.
Segunda-feira, último dia do mês. Estou certo de que toda essa água vem para diluir e carregar para a terra e esgotos os infortúnios de agosto, época do desgosto. Com os maus agouros vai a espera de uns graus a menos nos termômetros. Não me acostumo à ideia de um meio de ano quente. No interior é diferente. Lá a fina garoa é constante, seja ao amanhecer, ao passar do dia ou à boca da noite. Uma garoa que eu tanto aguardei desde o São João e que só deixou-se aparecer hoje.
O dia precisou amanhecer nublado, abrir-se ― uma brincadeira de mal gosto especialmente para mim ― e voltar a acinzentar-se à tardinha. A despeito da psicótica rixa das forças da natureza para comigo, a chuva veio. E, diferentemente de outras vezes, já se vão algumas horas desde que chegou nos céus daqui.
Quisera eu ter tempo para admirar a chuva, que cai, desaba, desliza, borra e não existe. São quase tantos tipos de chuva quanto as gotas que caem. Os motoristas nos carros, no entanto, não vêem a chuva passar, presos que são no trânsito vagaroso. Até entendo sua ânsia por chegar logo em casa depois de um dia cansativo. É sua opção enraivarem-se. Cada um elege os sentimentos que lhe convêm.
Assim também é meu direito zombar deles, por não aproveitarem um tempo de gozo pleno, em que nada é mais forte que a força da chuva. De dentro de um veículo, a intensidade da água no metal é quase um pêndulo hipnotizante, intenso e pesado barulho psicodélico, não cabendo aqui melhor descrição ― não se dorme, vigília não pode ser, tampouco sonho, é existir, talvez, no pequeno pedaço de céu que escorre no vidro embaçado.
O mundo real não se quer ver, nem a chuva lhe permite se oferecer às retinas. Faz um pouco de frio, mas não é sentido. Não faz sentido, aliás. Rima para cidade é calamidade, e o que é feio a água limpa. O vidro molhado seca, já é noite e todos chegam às suas residências molhadas.
Segunda-feira, último dia do mês. Estou certo de que toda essa água vem para diluir e carregar para a terra e esgotos os infortúnios de agosto, época do desgosto. Com os maus agouros vai a espera de uns graus a menos nos termômetros. Não me acostumo à ideia de um meio de ano quente. No interior é diferente. Lá a fina garoa é constante, seja ao amanhecer, ao passar do dia ou à boca da noite. Uma garoa que eu tanto aguardei desde o São João e que só deixou-se aparecer hoje.
O dia precisou amanhecer nublado, abrir-se ― uma brincadeira de mal gosto especialmente para mim ― e voltar a acinzentar-se à tardinha. A despeito da psicótica rixa das forças da natureza para comigo, a chuva veio. E, diferentemente de outras vezes, já se vão algumas horas desde que chegou nos céus daqui.
Quisera eu ter tempo para admirar a chuva, que cai, desaba, desliza, borra e não existe. São quase tantos tipos de chuva quanto as gotas que caem. Os motoristas nos carros, no entanto, não vêem a chuva passar, presos que são no trânsito vagaroso. Até entendo sua ânsia por chegar logo em casa depois de um dia cansativo. É sua opção enraivarem-se. Cada um elege os sentimentos que lhe convêm.
Assim também é meu direito zombar deles, por não aproveitarem um tempo de gozo pleno, em que nada é mais forte que a força da chuva. De dentro de um veículo, a intensidade da água no metal é quase um pêndulo hipnotizante, intenso e pesado barulho psicodélico, não cabendo aqui melhor descrição ― não se dorme, vigília não pode ser, tampouco sonho, é existir, talvez, no pequeno pedaço de céu que escorre no vidro embaçado.
O mundo real não se quer ver, nem a chuva lhe permite se oferecer às retinas. Faz um pouco de frio, mas não é sentido. Não faz sentido, aliás. Rima para cidade é calamidade, e o que é feio a água limpa. O vidro molhado seca, já é noite e todos chegam às suas residências molhadas.
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