por Barbara Duffles
1: Seu problema é autoboicotismo crônico, senhor.
2: E o que seria isso?
1: Simples. O senhor sabota sua vida. Coloca empecilhos para justificar sua depressão – que eu inclusive acho que o senhor saboreia.
2: Eu saboreio minha depressão??
1: Sim. No fundo, o senhor gosta de ser um loser. Chorar suas pitangas para os amigos, dizer-se impróprio para a vida.
2: Mas eu sou mesmo. Minha vida não caminha. Vejo os outros correndo por fora. Eu não luto e nem tenho forças para tal.
1: Loser, senhor.
2: Pare de me chamar de loser!
1: Não grite comigo, senhor.
2: Eu quero morrer. E vou fazê-lo esta noite.
1: Isso é egoísmo, senhor. Pense no sofrimento dos que vão ficar.
2: Então vou para um mosteiro. Vou me enclausurar.
1: É uma maneira covarde de fugir da vida, não acha?
2: Ah, me ajude, então, o que eu devo fazer?
1: Para começar, pare de ligar para mim. Eu não posso lhe ajudar.
2: Mas a sua voz me acalma.
1: O senhor não tem amigos? Precisa importunar uma operadora de telemarketing todos os dias?
2: Você é minha única amiga, Waldirene.
1: Eu nem sei seu nome, senhor. Com licença, preciso atender outra ligação.
2: Alô??? Waldireneeee!
1 comentários:
Ilár(r)ico: divertido e rico seu diálogo, Bárbara. Surpreende na hora certa e retrataria muito bem uma situação real que deve acontecer no mundo dos telemarketings.
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