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domingo, 22 de novembro de 2009

Alô, Waldirene?

por Barbara Duffles

1: Seu problema é autoboicotismo crônico, senhor.

2: E o que seria isso?

1: Simples. O senhor sabota sua vida. Coloca empecilhos para justificar sua depressão – que eu inclusive acho que o senhor saboreia.

2: Eu saboreio minha depressão??

1: Sim. No fundo, o senhor gosta de ser um loser. Chorar suas pitangas para os amigos, dizer-se impróprio para a vida.

2: Mas eu sou mesmo. Minha vida não caminha. Vejo os outros correndo por fora. Eu não luto e nem tenho forças para tal.

1: Loser, senhor.

2: Pare de me chamar de loser!

1: Não grite comigo, senhor.

2: Eu quero morrer. E vou fazê-lo esta noite.

1: Isso é egoísmo, senhor. Pense no sofrimento dos que vão ficar.

2: Então vou para um mosteiro. Vou me enclausurar.

1: É uma maneira covarde de fugir da vida, não acha?

2: Ah, me ajude, então, o que eu devo fazer?

1: Para começar, pare de ligar para mim. Eu não posso lhe ajudar.

2: Mas a sua voz me acalma.

1: O senhor não tem amigos? Precisa importunar uma operadora de telemarketing todos os dias?
2: Você é minha única amiga, Waldirene.

1: Eu nem sei seu nome, senhor. Com licença, preciso atender outra ligação.

2: Alô??? Waldireneeee!

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1 comentários:

Ilár(r)ico: divertido e rico seu diálogo, Bárbara. Surpreende na hora certa e retrataria muito bem uma situação real que deve acontecer no mundo dos telemarketings.

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