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quarta-feira, 3 de março de 2010

Sobre mulheres e flores

Caio Rudá de Oliveira


nunca me dê flores, meu bem

nunca me dê flores, meu bem
já demais as tenho
ademais, far-te-á enciumado
elas me lembram todos que por minha vida passaram
e tu sabes, nunca fui só tua

querias-me donzela
lamento, não a pude ser
ganhaste-me cheia de máculas
porém o amor é redentor, tu sabias
cultivaste-me assim mesmo
como fez o jardineiro
que a ti vendeu essas flores

mas repito, meu bem, nunca me dê flores
deixa-as no jardim
como não fez o jardineiro
que a ti e a todos que te imitam o gesto as vendeu
deixa-as perfazerem sua biografia
brotar, fertilizar e secar

não é demais dizer
nunca me dê flores, meu bem
já demais as tenho
ademais, hoje somos as flores, o jardim e eu uma coisa só
só te peço que não sejas meu jardineiro
pois não sou mais tua nem de ninguém
e assim serei para sempre virgem

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o despertar de uma mulher ¹

o despertar de uma mulher
é uma melodia serena
feito um balanço no parque
lá e cá, deslizando no ar
um movimento leve e paciente
cadenciado, contra o qual insurgem
lapsos de descompasso

não importam as intermitências
o despertar de uma mulher é sutil e elegante
é uma flor com hora certa para desabrochar


¹ Este poema segue a poética do concludo. Para saber mais sobre ele, confira a teoria, aqui mesmo na Samizdat, no artigo Teorizando o concludo.

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