Não gosto de telefones celulares. Nunca gostei.
Quando todo mundo já carregava um celular no cinto, ostentando o novo clamor da modernidade, eu relutava. Já era adepto da internet, mas do celular - Deus me livre!
Mas não dá para lutar contra o óbvio.
Enquanto que, alguns anos atrás, quando duas pessoas iam se encontrar, era preciso marcar data, local e hora exatos, senão o desencontro era inevitável, hoje as pessoas andam, falam e perguntam: "onde você está? Ah, sim, estou te vendo!"
Antes, se não se encontravam, era assunto encerrado; cada um ia para sua casa e fim.
Rendi-me e também tenho meu telefone celular... E me indago como conseguíamos viver sem ele antes. Há 15 anos, praticamente ninguém tinha; há 25 anos, até telefone fixo era raridade. Minha mãe era uma das poucas a ter telefone em casa no quarteirão, por isto, as vizinhas passavam o nosso número e anotávamos o recado para elas quando alguém ligava.
Há 150 anos, que parece ser muito tempo, mas para o curso da História é menos que um segundo, nem sequer existia o telefone.
E hoje mal conseguíamos conceber como seria a vida sem ele, assim como é difícil pensarmos num mundo sem TV, computador, carros, energia elétrica, internet. Acostumamo-nos e nos acomodamos com falsas necessidades.
As inovações parecem se apegar ao nosso ser de tal maneira que o humano se confunde com elas.
A realidade do homem primitivo, caçando com lança, residindo em cavernas e descobrindo o fogo, é tão alienígena para nós quanto um suposto marciano verde em sua nave espacial.
As falsas necessidades são tão poderosas que emburrecemos e nos atrofiamos. Se, por acaso, há uma queda de luz no prédio numa noite de tempestade, desesperamo-nos, tateando no breu, e não sossegamos até ver a lâmpada se acendendo mais uma vez.
Ao sermos libertados de certas restrições pela modernidade, tornamo-nos enfim seus escravos.
Temos acesso a todas as informações do mundo, podemos nos comunicar com pessoas do outro lado do planeta, tudo instantânea e imediatamente, mas somos mutilados. Arranque-nos deste acomodamento e encolheremos, até sumirmos diante da nossa insignificância.
Temos tudo à mão, apenas para mascarar o nada que nos tornamos.
O futuro aniquilou a nossa humanidade.
quinta-feira, 18 de março de 2010
Nossas falsas necessidades cotidianas
por Henry Bugalho
2 Comentários
2 comentários:
sábia crónica a sua, Henry, sob retudo porque ela vem de um homem jovem a viver no coração (pulmão?!rs) deste mundo!
(se quer pode ir contando que se houvesse esse que chama de celular, havia quem estaria casada com um outro de que se desencontrou na separação de um telhado...contos..rs)
Bah
Muy Bueno
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