(Maristela Scheuer Deves)
Passei o resto da manhã vomitando. Gripe, com certeza, insistiu minha mãe, mas não conseguiu fazer com que eu tomasse mais chá. Eu nunca fora muito fã de alho, mas naquele dia ele decididamente me embrulhava o estômago. Na verdade, era pior: a simples visão do chá me fazia suar ainda mais, ao mesmo tempo em que sentia o frio se apossando do meu corpo.
Achei melhor voltar para a cama, até porque a claridade do sol parecia ferir meus olhos. A cabeça doía com a luz, e eu só queria o escuro do meu quarto, com as janelas fechadas e a cabeça sob as cobertas. O mal estar continuou o dia todo, e não quis sequer almoçar. À noite, minha mãe conseguiu me convencer a sair da cama, prometendo fazer o que eu quisesse para jantar.
— Bife, um bom bife mal passado — pedi, surpreendendo-me assim que as palavras deixaram a minha boca. Eu, que nunca comia nada que estivesse definitivamente torrado, querendo carne mal passada? No entanto, o simples pensamento do bife escorrendo sangue me fazia salivar.
A situação se repetiu nos dias seguintes: eu acordava e, embora não tivesse febre (ao contrário, minha temperatura parecia estar até mesmo mais baixa do que o normal), ficava mal assim que botava os pés para fora do quarto. Só conseguia comer carnes mal passadas e me recusava terminantemente a ir ao médico — não por medo, mas porque sair ao sol me deixava quase cega de dor.
O pior, no entanto, eram os sonhos. Ou pesadelos, talvez eu deva dizer. Neles, eu andava nas ruas, no meio da noite, escondendo-me furtivamente nas sombras. Era uma caçada, mas dessa vez eu não era eu a caça: eu era a caçadora. E queria sangue.
(continua no próximo mês...)
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