Origem
Acostuma-te à lama que te espera!
Augusto dos Anjos
Versos íntimos
ergui com tijolos vermelhos
paredes duras e um telhado
pintei-os inteiramente de branco
com o resto da cal que me foi legado
durante quarenta noites e dias
choveu a chuva da poesia
dessas que levam toda uma vida
como essa mesma que levou a minha
dissolveu as telhas e os tijolos
quatro paredes, telhado, tudo
tornou a ser um rubor embarrado
viver ao léu agora é o que me resta
contar com o dia que ela a mim dissolva
acostumar-me à lama que me espera
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Marasmo
galopa a superficie ainda
ondeando de um ponto distante
irrompe no branco da areia
a espuma que na praia avança
a trote o mar devora as dunas
e aos poucos todo o continente
e ainda mais pacientemente
engole a neve das montanhas
não existe mais praia nem rocha
princípio nem fim, tudo inteiro
um tudo mesmo interminável
ocultos sob o infinito
repousam em profundo marasmo
um coração e um mundo vasto
Um bom andar
Vi um passante com belo par
De bons sapatos envernizados
Passo macio, um bom andar
Mal se notava que eram calçados
Era o chão vago, subliminar
Tal vão caminho pouco pisado
Passo macio, um bom andar
E esse passante despreocupado
Já eu fiquei no meu lugar
É-me bastante observar
Aonde os passos têm levado
Esse passante que é passado
Quisera eu ter um belo par
De bons sapatos envernizados
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