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domingo, 8 de fevereiro de 2009

Laboratório Poético: Soneto

Volmar Camargo Junior





Origem

 

Acostuma-te à lama que te espera!

Augusto dos Anjos

Versos íntimos

 

 

 

ergui com tijolos vermelhos

paredes duras e um telhado

pintei-os inteiramente de branco

com o resto da cal que me foi legado

 

durante quarenta noites e dias

choveu a chuva da poesia

dessas que levam toda uma vida

como essa mesma que levou a minha

 

dissolveu as telhas e os tijolos

quatro paredes, telhado, tudo

tornou a ser um rubor embarrado

 

viver ao léu agora é o que me resta

contar com o dia que ela a mim dissolva

acostumar-me à lama que me espera

 


_________________


Marasmo

 

 

galopa a superficie ainda

ondeando de um ponto distante

irrompe no branco da areia

a espuma que na praia avança

 

a trote o mar devora as dunas

e aos poucos todo o continente

e ainda mais pacientemente

engole a neve das montanhas

 

não existe mais praia nem rocha

princípio nem fim, tudo inteiro

um tudo mesmo interminável

 

ocultos sob o infinito

repousam em profundo marasmo

um coração e um mundo vasto

 

 _______________________


Um bom andar

 

Vi um passante com belo par

De bons sapatos envernizados

Passo macio, um bom andar

Mal se notava que eram calçados

 

Era o chão vago, subliminar

Tal vão caminho pouco pisado

Passo macio, um bom andar

E esse passante despreocupado

 

Já eu fiquei no meu lugar

É-me bastante observar

Aonde os passos têm levado

Esse passante que é passado

 

Quisera eu ter um belo par

De bons sapatos envernizados

 

 


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