domingo para segunda
dias antes do aniversário
tenho a impressão de sentir no quarto um suave cheiro de mijo
é possível
sempre que urino
os últimos pingos caem na cueca
sem cuecas
- não as uso em casa -
caem na calça
estou cheirando suavemente a velho
homens velhos
cheiram a urina
mulheres velhas cheiram a
mulheres velhas
aqui no quarto há
no momento
- including me -
um homem
- com prenúncio da idade que avança -
e
uma mulher
- com dez anos de vantagem
enquanto envelhece
o homem
em silêncio
escreve
em versos
bem prosaica substância
- e
diga-se
bem indigna de registro
a mulher
desembaraça à filosofia outras duas
dois pontos
a que diz não se nasce mulher
a que diz não há mulher
e homem
à minha frente
- à nossa frente
mas só eu vejo as coisas assim -
ergue-se um pequeno edifício de plástico
um sobradinho
transparente
vejo de cá tudo o que há lá dentro
no térreo do prédio fingido
confusão de coisas de homem
- todas de vestir
no segundo pavimento
confusão de coisas de mulher
- quase todas de vestir
e alguns produtos químicos
(mas, deus, o que não o é?)
no terceiro
confusão de utensílios e coisas químicas para cuidados com
pele
mãos
dentes
cabelos
e unhas de
mãos e pés de
homem e mulher
à calçada do edifício
estacionados
dois pares de sapatos
um par de botas
um par de tênis
que por pouco não serviriam a ambos
a história social do ocidente encheu o pequeno edifício de pvc
com coisas
de homem
e
de mulher
o nariz
todavia
não nos trai
no intervalo entre a filosofia e a mulher
um cheiro infantil de bergamota
entre a poesia e o café
um cheiro de urina de homem ficando velho
imagem:
American Gothic
Grant Wood
oil on beaverboard
1930
ao lado dos modelos da pintura
Nan Wood Graham e Byron McKeeby
(fonte: kotke.org)
todos os direitos reservados
poema publicado originalmente em Pragas Urbanas Renitentes & Dano Infecto
poema publicado originalmente em Pragas Urbanas Renitentes & Dano Infecto
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